Depois de trabalhar com jornalismo móvel por vários anos, Yusuf Omar está convencido de uma coisa: O jornalismo móvel [mojo] precisa de uma perturbação.
"O mojo existe há cerca de cinco ou seis anos", diz o editor móvel do Hindustan Times que "hackeia" plataformas sociais como Snapchat para contar histórias de maneiras inovadoras, como esta matéria popular sobre vítimas de estupro na Índia. "Precisamos de uma nova onda de energia para dizer 'Dane-se tudo, pare de tentar criar regras e enquadrar isso como #mojo ou não... Você pode fazer coisas como quiser."
Omar quer repensar o jornalismo móvel porque acha que até agora tem sido muito influenciado por jornalistas de TV, que "estão trazendo maus hábitos de transmissão de TV para o mojo". Ele não pensa que jornalistas móveis devem ter seus telefones em modo de paisagem ou usar um tripé, por exemplo.
Fazer matérias melhores é o que a maioria dos jornalistas se esforça para alcançar; alguns conseguem combinar as inovações tecnológicas e suas habilidades de contar histórias. O jornalismo móvel tem permitido que jornais ofereçam mais reportagens visuais para o público. Mas algumas redações usam telefones celulares como câmeras tradicionais em estúdios. Dougal Shaw, um jornalista da BBC, vê isso como fazer "TV à moda antiga" no lugar e audiência errados.
"Você precisa reinventar [vídeos] online. Tem que ser uma abordagem diferente", diz ele, apontando para a estratégia de vídeo online do Vice, que tem funcionado bem com públicos mais jovens. Com o jornalismo móvel vem o público móvel que consome vídeo e áudio de forma diferente das gerações anteriores que não tiveram internet.
"O objetivo não é imitar a TV", diz Philippe Couve, ex-jornalista e treinador de jornalismo móvel. "Precisamos encontrar uma linguagem, uma gramática visual que nos permita contar histórias de forma diferente."
Couve fundou uma startup que ajuda principalmente os meios de comunicação de língua francesa em sua transição digital. Pelo que ele viu, estamos apenas começando a ver como o grande jornalismo móvel pode ser.
"O potencial para isso é ainda maior do que estamos vendo no momento", diz Ivo Burum, um jornalista australiano e treinador de mojo.
Até agora, os jornalistas se concentraram muito no lado técnico do jornalismo móvel, segundo Burum.
"Há muita gente no momento que está envolvida no jornalismo móvel, que tem uma abordagem muito tecnocentrista sobre isso", diz ele. "Eu sou craque na parte técnica ... mas também não acredito que é a coisa mais importante."
Alguns meios de comunicação veem apenas um potencial limitado para o jornalismo móvel. Muitos treinadores de mojo ainda veem redações onde os jornalistas só usam seus celulares para reportar sobre últimas notícias. Mas mojos audaciosos estão muito à frente dessa curva de adoção, até mesmo fazendo documentários com seus celulares. Glen Mulcahy, diretor de inovação da emissora irlandesa RTE e fundador da Mojocon, diz que espera "ver mais produção de alta qualidade nos próximos 12 meses."
Nicolas Becquet, jornalista da organização de mídia belga L'Echo, está otimista. Desde sua coluna amplamente discutida sobre a falta de jornalismo móvel durante os ataques terroristas em Paris, em novembro de 2015, ele viu um desenvolvimento interessante na mídia francófona, como o lançamento do FranceInfo.
Esta organização de mídia francesa está usando o jornalismo móvel para uma série de vídeos no Facebook Live com um tom mais informal. As mentalidades evoluíram muito rápido, diz ele, o que significa que "muitas organizações de mídia estão testando este método de produção e distribuição."
Enquanto alguns meios de comunicação estão experimentando, Omar os considera muito cautelosos e lentos.
"Todo mundo está sendo muito fresco sobre sua estratégia digital. Tudo é uma experimentação", diz ele. "Eu acho que é o medo de [falhar] e cometer erros."
Ele já está trabalhdo em um novo projeto: Construir uma equipe de jornalistas móveis na versão em hindi do Hindustan Times.
Do outro lado do mundo, Christian Espinosa, treinador de mojo equatoriano, já está pensando mais adiante.
"O futuro do jornalismo móvel? Ele será mobile, mas não necessariamente com um dispositivo de mão, mas com um chip em sua retina, por exemplo", diz ele. A curto prazo, ele acredita que os jornalistas móveis precisam pensar em novas narrativas e técnicas de contar histórias, considerando o usuário móvel, sua geolocalização e engajamento.
Quer queiram ou não, redações ao redor do mundo terão de pensar de forma diferente e aprender sobre as habilidades de contar histórias que os jornalistas móveis estão se desenvolvendo. Mulcahy já está planejando conferências de jornalismo móvel nos EUA e na Ásia. A empresa de Couve, Samsa, também está organizando uma conferência na França. Jornalistas curiosos também estão se reunindo em meetups de mojo em Londres e Berlim, formando uma crescente comunidade.
Shaw disse que recebe perguntas no Twitter de pessoas tão distantes quanto da África do Sul e França. "É uma comunidade internacional que aprende a usar a tecnologia", diz ele. Mulcahy, que começou um grupo de mojo no Facebook, está surpreso ao ver "várias centenas de pessoas fazendo crowdsource de conhecimento."
Leonor Suárez, jornalista de TV espanhola, mantém contato com pessoas e novos empreendimentos através do grupo de Facebook de Mulcahy.
"Nós não somos uma comunidade grande, mas estamos muito ligados e conectados", diz ela. "É realmente emocionante pertencer a isso."
Imagem de Dougal Shaw cortesia de Shaw