Painel discute nova onda de jornalistas internacionais

Oct 30, 2018 em Temas especializados

Em muitas partes do mundo, a crise econômica está encolhendo as salas de redação. Os poucos correspondentes internacionais competem com uma nova leva de jornalistas cidadãos e blogueiros que não para de expandir. Este novo tipo de repórter consegue furos e apura grandes matérias que antes eram de domínio dos jornalistas profissionais.

"Estamos em uma junção crítica", disse Bob Dietz, coordenador do programa na Ásia do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ, em inglês), referindo-se à convergência da crise financeira global, a dissolução da mídia tradicional e a expansão da mídia online.

Dietz e especialistas em jornalismo se reuniram na semana passada para uma discussão sobre o emergente modelo de mídia na era digital, organizado em Washington D.C. pelo the Broadcasting Board of Governors (BBG) - o órgão que administra as transmissões internacionais do governo americano.

Os jornalistas com mais chances de sobreviver, de acordo com o painel, são aqueles que estão correndo para se manterem atualizados em novas tecnologias como vídeo e áudio online, podcasting, Facebook e SMS.

E porque é mais fácil distribuir informação através de múltiplos canais, Dietz disse, "todo o mecanismo de se destacar mudou completamente". Antes poucos jornalistas alcançavam o posto de correspondente internacional. Agora qualquer um pode escrever matérias internacionais em um blog pessoal.

Na China, por exemplo, as notícias muitas vezes aparecem em fóruns de organizações comunitárias. Em seguida, são agregadas por blogueiros, que atraem a atenção dos jornais em Hong Kong, e a partir daí alcançam as primeiras páginas, Dietz explicou.

Nas últimas semanas, o Twitter, um serviço de redes sociais, virou notícia depois de ser usado via telefones celulares por jornalistas cidadãos durante os ataques terroristas em Mumbai.

Cada vez mais, o jornalismo internacional não pode ser feito sem o jornalismo de cidadão, concordaram os painelistas. Mesmo grandes meios de comunicação como a CNN, Reuters e Al-Jazeera, entre outros, agora estão promovendo o jornalismo de cidadão e oferecendo manchetes através do Twitter e Facebook.

Durante a guerra no Iraque, "algumas das melhores reportagens vieram de blogueiros iraqueanos", disse Loren Jenkins, editor de matérias internacionais para a rádio pública americana, a National Public Radio. Jenkins citou o premiado blog Baghdad Burning, criado em 2003. A blogueira, uma jovem que usava um nome falso, discutia assuntos culturais complexos como relatos de primeira mão sobre fechamentos de ruas e a seleção de produtos que os vendedores de rua ainda ofereciam.

De fato, a mídia da era digital, o jornalismo de cidadão e a mídia tradicional se complementam, disse Patrick Meier, pesquisador da Harvard Humanitarian Initiative. Em seu estudo, Meier comparou os padrões de cobertura da mídia tradicional e jornalismo de cidadão durante a violência após as eleicões no Quênia no início de 2008. Enquanto a mídia tradicional focava mais no número de mortos, Meier descobriu que os jornalistas cidadãos cobriram melhor os incidentes que levaram ao conflito.

Porém, alguns especialistas em mídia, como a professora e jornalista do American Journalism Review, Sherry Ricchiardi, estão preocupados com as ameaças aos princípios fundamentais da profissão- precisão, objetividade e imparcialidade.

"Sabemos pelas pesquisas que o público tem uma opinião relativamente negativa sobre nós", disse Ricchiardi sobre a credibilidade baixa da mídia.

Mas, Meier argumentou, os blogueiros também se preocupam com suas reputações. Eles sabem que uma informação falsa pode diminuir sua popularidade.

Para se destacar na blogosfera, Dietz recomendou escrever de um lugar onde poucos estão cobrindo. De lá "faça algumas colaborações para o Associated Press e a BBC".

Com sorte, matérias em um blog podem ser o início de uma carreira jornalística internacional. "Ou talvez será simplesmente o período mais excitante da sua vida", Dietz disse.