Houve um alvoroço entre os profissionais de mídia em Botswana, em 2014, quando o governo passou a proibir publicidade na mídia local privada.
Como resultado, os veículos tradicionais sofreram para obter receita e a mídia independente no país se desestabilizou. As redações fizeram cortes drásticos nos custos operacionais – o que significou demissões, deixando muitos jornalistas sem trabalho.
Quase uma década depois, resta um pequeno grupo de jornalistas trabalhando em Botswana. Os veículos não conseguem pagar salários competitivos, o que dificulta atrair empregados.
Jornalismo nas redes sociais
No entanto, nos últimos anos, houve um crescimento da mídia digital independente em Botswana. São plataformas de mídia comandadas por equipes pequenas que operam sobretudo nas redes sociais, principalmente no Facebook, X e LinkedIn.
As redes sociais facilitaram para jornalistas e outros criadores de conteúdo o estabelecimento de uma base de seguidores, diz a jornalista veterana Pamela Dube. Embora ainda sejam pouco usadas no país, elas oferecem uma grande quantidade de oportunidades para jornalistas independentes demonstrarem suas habilidades e apresentarem pautas autênticas sem censura.
Entre os maiores veículos independentes estão Argus Online, que conta com uma equipe editorial de jornalistas experientes na cobertura de política e desenvolvimento; Parrot News Online, plataforma de interesses gerais que cobre notícias de última hora e política; Moeladilotlhoko e Century Buzz.
Esses veículos dependem amplamente de doações em dinheiro, conteúdo patrocinado e anúncios para manter suas operações, segundo me falaram os jornalistas que trabalham nessas plataformas.
Manutenção dos princípios jornalísticos
Keikantse Shumba, uma das fundadoras do Arguns Online, enfatiza a necessidade da mídia independente de "seguir os princípios e padrões do jornalismo".
Cofundador do The Parrot News Online, Koketso Moswetsi diz que após constituir a empresa, o veículo se alinhou com instituições como o Fórum de Editores de Botswana em busca de credibilidade e prometeu seguir os princípios jornalísticos. "Um grande desafio é que as redes sociais geralmente não são reconhecidas como uma plataforma formal de mídia; isso dificulta obter uma parcela da publicidade, mas temos bons clientes e eles complementam a receita anunciando nas transmissões ao vivo", diz.
Há muitos anos, a mídia em Botswana é administrada e amplamente controlada pela mídia estatal e quatro grandes empresas privadas, Mmegi, Botswana Guardian, Botswana Gazette e The Voice.
Dube, que já foi editora da Gazette, The Voice Botswana e Mmegi, bem como do Sowetan Live, da vizinha África do Sul, considera que o atual cenário de mídia em Botswana está pronto para mais concorrência. "Há oportunidade para veículos independentes menores e competitivos funcionarem em Botswana", diz. "Os leitores evoluíram e querem conteúdo fresco que seja esclarecedor e que tenha impacto em suas vidas."
Atualmente instrutora da Women in News e trabalhando de perto com o Instituto de Mídia da África Meridional, Dube observa que Botswana tem muitas histórias para compartilhar, mas há poucos criadores de conteúdo. "Nosso país tem potencial para contar histórias autênticas sobre questões fundamentais como clima, meio ambiente e turismo, e a mídia independente pode tirar proveito disso."
Ela acrescenta que a mídia independente não deveria focar somente nos leitores dentro de Botswana, mas também focar em uma audiência global.
Legislação de mídia
Paralelamente, a legislação de mídia em Botswana não é totalmente opressiva, mas poderia ser melhorada, diz Dube. O governo deve acabar com leis usadas para perseguir jornalistas, como a lei de sedição e outras que permitem a serviços de inteligência confiscarem equipamentos, realizarem vigilância sem mandato, dentre outras medidas.
A alta dependência da mídia local do governo para obter receita também limita a liberdade de imprensa no país. Quando a mídia depende do governo, isso pode levá-la à autocensura apenas para se manter em atividade, diz Dube. "O setor de mídia é administrado por empresários do setor privado que dependem do governo para obter receita. Isso prejudica o fluxo de conteúdo imparcial, já que os empresários querem manter as boas relações com o governo."
Ela ainda diz que o momento é propício para que jornalistas independentes estabeleçam novas formas de gerar receita e desenvolver conteúdo que seja interessante para uma audiência global.
"Botswana é um país interessante com uma rica história, leis impressionantes e um cenário econômico, político e social atrativo. Há muito conteúdo sobre negócios, clima, saúde, meio ambiente e turismo", explica.
"Em Botswana, não temos histórias de conflito, guerra e violações em massa de direitos humanos, por exemplo, ou grandes escândalos. Normalmente, o país só é mencionado na mídia global em ano de eleição. O que jornalistas independentes e criadores de conteúdo nas novas mídias podem fazer é produzir pautas sobre assuntos correntes."
Foto por Justice Hubane via Unsplash.