O que jornalistas podem aprender sobre storytelling com projetos do tipo 'Humanos de Nova York'

por Dena Levitz
Oct 30, 2018 em Jornalismo multimídia

Cinco anos atrás Brandon Stanton criou uma sensação com o projeto "Humanos de Nova York".  Diariamente, ele fotografa nova-iorquinos na rua e cria uma narrativa acompanhada por uma frase a partir dela. A premissa tornou-se tão popular que virou um livro best-seller.

Agora fotógrafos em cidades de todo o mundo -- TeerãSydney, Mumbai, entre outras -- imitam a abordagem de Stanton para criar suas próprias versões em seus próprios quintais. Há tantas que, sem dúvida, tornou-se um gênero próprio de conteúdo, um pouco diferente do perfil padrão.

Sites e páginas do Facebook do tipo "Humanos de", em muitos aspectos, estão atrás da mesma coisa: celebrar pessoas, permitindo-lhes revelar um pouco sobre si mesmos, o que, então, revela um pouco da cidade em que se encontram e a própria essência da humanidade.

A IJNet entrevistou dois desses fotógrafos sobre como eles abordam seus projetos:

Humanos de Washington DC

Joey Oliver é um engenheiro de rede cujo trabalho está centrado na segurança de computadores para o governo. Mas a fotografia é a sua paixão e algo que ele fez em seu tempo livre para instituições de Washington como o Smithsonian.

Intrigado com a abordagem de Stanton, Oliver se tornou a força por trás do "Humanos de" representando a capital do Estados Unidos há quase dois anos. Inicialmente, a parte mais difícil foi descobrir como conseguir que estranhos se abram e digam algo valioso que possa acompanhar suas fotografias. Oliver diz que, depois de algum tempo e experimentação, a pergunta básica que ele faz é: "Conte-me sobre algo em seu passado que, quando você reflete sobre ele, faz você se sentir melhor."

"É uma pergunta difícil", diz Oliver. "As histórias que eu recebo são surpreendentes. A visão... de um perfeito desconhecido, de um relacionamento de cinco minutos é inacreditável."

Ele não senta e faz logo essa pergunta. A primeira consideração é quem ele vai abordar. Para isso, Oliver busca indivíduos que tem um estilo "para fora" -- talvez tatuagens, roupa ou uma atitude intrigante.

"Porque há uma razão pela qual eles têm isso", ele explica. "Geralmente parecem ter uma história mais colorida e são mais abertos com as informações, um pouco mais soltos."

A partir daí, Oliver apresenta seu cartão de visita para a pessoa saber que ele é sério e um artista legítimo. Ele mostra a página do "Humanos de Washington DC" e explica o que está atrás e por que abordou essa pessoa especial. Em seguida, a entrevista --ou "relacionamento" como Oliver chama-- continua, às vezes com duração de alguns minutos, geralmente 10 minutos no máximo, para não bombardeá-los ou tomar muito tempo.

"É legal para todos", diz Oliver. "Eles ganham uma foto realmente boa e contam uma história muito boa."

Normalmente, a fotografia e a frase que a acompanha, que Oliver pega depois de ouvir uma gravação da conversa, são publicadas online no mesmo dia. Oliver também permite que o sujeito decida se quer ser marcado no post.

Com mais de 1.000 fotos em seu currículo, Oliver tenta dar seus sujeitos a oportunidade de "ser quem são". É evidente que este objetivo difere um pouco do objetivo de alguns jornalistas em reportar de maneira imparcial relatar em um evento ou pessoa. No entanto, Oliver vê o que ele está fazendo como uma tarefa jornalística.

"É um estilo de jornalismo porque está contando uma história, e está contando uma história a partir da perspectiva de uma pessoa, sua própria perspectiva, não da sociedade", diz ele. "E é uma conversa privada, mas é incrível e poderosa."

Até agora, de todos os Washingtonians que ele conheceu como resultado do projeto, Oliver disse que não há um que se destaque em sua mente. Ele encontrou um homem no último verão em um parque que ele suspeitava ser um sem-teto: ele ouvia rádio enquanto lia uma revista.

"Eu falei com esse cara. Eu fiz a minha pergunta e ele olhou para mim e disse: 'Você sabe, Joe, fui preso. Eu usei drogas, morei na rua. Mas você sabe o quê? Para mim, para ser feliz na vida, eu tenho que estar feliz comigo mesmo'", conta Oliver. "É um cara que não sabe de onde vem a seu próxima refeição. Ele não sabe onde vai dormir naquela noite, [e ele] fala para um cara que tem tudo o que é preciso para ser feliz. Eu nunca vou esquecer isso na minha vida."

1,000 Dias Falando Com Estranhos

Austin Rich não usa o nome "Humanos de" no seu site de fotos em Charleston, Carolina do Sul. Mas ele explica que o que está fazendo é um resultado direto do "Humanos de Nova York" e chama Stanton de "um herói para mim."

"1.000 Days of Talking with Strangers" começou como um projeto de 365 dias. No entanto, Rich fica estendendo o tempo que ele planeja gastar abordando pessoas comuns que ele não conhece para capturá-los em foto e contar uma pequena parte de sua história.

Até agora, são mais de 500 dias no projeto, com sujeitos que vão desde jovens em um bar a um pastor discutindo como Charleston está se unindo após crimes violentos recentes.

Rich disse que começou esse projeto para conhecer melhor Charleston, pois era um residente novo na cidade, e para superar sua tendência natural para a timidez. Abordar pessoas para o projeto o obriga a sair da sua concha.

Ao contrário de Oliver, o resultado é que às vezes Rich passa um longo período de tempo com alguém tirando sua foto e ouvindo o que eles têm a dizer. Às vezes, isso leva uma hora. Outras vezes um minuto. De qualquer maneira, ele tenta cavar fundo e fazer uma pergunta pessoal apropriada que levará a uma citação intrigante.

Rich também não descreve uma forma padrão de abordar alguém.

"Eu procuro por alguém que está sozinho, o que torna mais fácil falar com ele", diz ele.

Positividade, também, é parte de seu objetivo. Além do elemento jornalístico, ele conta que também assume um papel de psicólogo no apoio à pessoa, dando um espaço seguro e escolhendo que detalhes farão parte da página do Facebook.

Eventualmente, seu objetivo é criar um ebook com as inúmeras fotos. Por agora, o objetivo é simples: mostrar quem a pessoa realmente é e compartilhar."

Imagem principal: captura de tela do site de fotografia de Austin Rich - segunda imagem de Denys Symonette do Humanos de Washington D.C. Leia a frase que acompanha sua história aqui. Terceira imagem do 1,000 Days of Talking with Strangers.