O que nós jornalistas devemos fazer quando o nosso público se cansa da desolação e desgraça das reportagens tradicionais?
Isso foi discutido no painel sobre soluções de jornalismo durante o Festival Internacional de Jornalismo em Perugia, Itália. O painel foi organizado pela Solutions Journalism Network, representada por Tina Rosenberg, que explicou a definição do termo.
O jornalismo de soluções concentra-se na geração de reportagens de soluções para problemas conhecidos. De certa forma, é preciso que as matérias de formato longo dêem um passo adiante: depois de identificar o problema e suas causas, continua a procurar as soluções que existem em todo o mundo.
O primeiro exemplo foi The Seattle Times, cuja equipe se cansou de reportar as falhas do sistema educacional. Eles decidiram mudar a narrativa e procurar exemplos de políticas educacionais que realmente funcionaram.
Este é, de acordo com o painel, um bom exemplo de que o jornalismo de soluções é: ao contrário de histórias de heróis da vida real ou histórias de balas de prata, as matérias de soluções estão preocupadas com os resultados das soluções que reportam. Mas essas reportagens são cuidadosas para não fazer generalizações ou simplesmente concentrar-se nas qualidades positivas das pessoas que cobrem.
Um bom artigo de jornalismo de soluções, de acordo com Rosenberg, centra-se sobre o trabalho feito para resolver o problema e explica como foi possível. Fornece evidência real, baseada em dados, dos resultados do trabalho, e produz insights tangíveis para que o leitor entenda como a solução pode ser replicada. E embora as pessoas e suas boas intenções sejam importantes, elas não são o principal herói da matéria.
Finalmente, é importante que tal artigo não faça alegações positivas demais, mas identifique as limitações das soluções que está reportando, já que o objetivo da matéria não é simplesmente inspirar seus leitores.
Um exemplo disso é a matéria de Rosenberg em 2001 sobre medicamentos anti-retrovirais usados no tratamento do HIV para a New York Times Magazine. Nela, ela não se limitou a descrever a ganância dos fabricantes de medicamentos que torna anti-retrovirais inacessíveis, mas focou no exemplo do Brasil, que conseguiu resistir à pressão dos gigantes farmacêuticos, fabricando seus próprios genéricos e distribuindo-os gratuitamente.
O argumento principal do painel para escrever mais matérias baseadas em soluções em vez da cobertura negativa que está frequentemente presente nas reportagens tradicionais é que as reportagens tradicionais geralmente cansam o público. Muitas vezes fazem com que as pessoas percam o interesse para dar um fim à negatividade.
This is solutions journalism (say @soljourno ): #ijf17 pic.twitter.com/AWnVUzou6R
— Adam Thomas (@datatheism) April 7, 2017
Mas quando um problema é apresentado juntamente com uma solução, segundo Rosenberg, a receptividade do leitor aumenta. Este argumento baseia-se em pesquisas realizadas pela BBC e New York Times sobre seus públicos digitais, que revelaram o desejo do leitor de ler mais sobre as soluções para os problemas cobertos pelos jornalistas.
O painel também apresentou o Discourse Media, uma empresa canadense que se especializa em jornalismo investigativo que também envolve soluções. Sua equipe desenvolveu uma abordagem baseada em soluções com base no que seus leitores queriam. Essa necessidade de ouvir as comunidades e entender quais os problemas que as preocupavam e como queriam mostrá-las foi um tema muito importante durante toda a discussão.
O argumento final do painel para matérias mais profundas e baseadas em soluções foi que a negatividade esmagadora da cobertura de notícias normal pode dar impulso a políticos como Donald Trump. De acordo com Ulrik Haagerup, diretor executivo da Emissora Pública Dinamarquesa e defensor do jornalismo de soluções, a cobertura constante da mídia liberal de Trump contribuiu para sua ascensão porque ele era uma história muito boa. Haagerup acredita que este tipo de reportagem é irresponsável para os leitores, e que os jornalistas não devem se concentrar em histórias que simplesmente vendem.
Curiosamente, três dos cinco panelistas enfatizaram que o jornalismo soluções não tem nada a ver com o ativismo ou a política -- mesmo que possa se assemelhar a esses de uma certa maneira. Se realmente não há conexão fica, é claro, para os leitores decidirem.
Imagem principal sob licença CC no Flickr via jacky czj