A corrupção no jornalismo tem pouca cobertura e é uma grande preocupação no jornalismo em toda a África.
Comumente chamada de jornalismo do "envelope marrom" — já que normalmente envolve propinas em dinheiro colocadas em envelopes marrons, ela busca influenciar jornalistas a produzirem matérias mais positivas sobre uma questão ou a excluírem uma matéria negativa.
A melhoria dos salários e condições de trabalho dos jornalistas, além da oferta de mais capacitação em ética de reportagem, poderia ajudar proativamente a combater os esforços de corromper repórteres, segundo a jornalista, pesquisadora e ativista italiana Anna Meli.
"A Federação Internacional de Jornalistas e os sindicatos de jornalistas estão no mundo todo lutando pelo pagamento e o tratamento igualitário do ponto de vista econômico do jornalista para evitar esse fenômeno dos envelopes marrons", diz. "Sabemos que em algumas situações de trabalho precário isso pode ser um problema e os jornalistas podem ser mais influenciáveis. É importante que trabalhemos juntos com todos os jornalistas para ter esse tipo de tratamento no nível econômico."
Joseph Asomah, professor-assistente na Universidade St. Thomas em New Brunswick, no Canadá, observa que pode ser desafiador lidar com esse tipo de corrupção já que acontece majoritariamente em segredo entre o jornalista e a pessoa que está fazendo o suborno.
"Porém, há esforços sendo feitos por organizações não governamentais para tratar o problema. Por exemplo, em Gana, a Fundação de Mídia para o Oeste da África criou o "The Fourth Estate", um projeto de reportagem investigativa para promover a responsabilização e fazer os poderosos prestarem contas", diz Asomah, nascido em Gana.
No Zimbábue, muitos observadores da mídia, especialistas e jornalistas concordam que é necessário mais treinamento em ética de reportagem para combater o jornalismo do envelope marrom. A jornalista Lulu Brenda Harris, do Centro de Inovação e Tecnologia, enfatiza que a ética precisa estar arraigada nos jornalistas para dar um fim nos envelopes marrons.
"Temos um dever para com a nossa audiência de aderirmos à ética e de sermos responsáveis não só na nossa cobertura mas na maneira como buscamos pautas", diz. "O público confia em nós para que a gente diga a ele a verdade. Como jornalistas, trabalhamos em um negócio de influência e se a confiança for quebrada, a mídia vai ruir."
Tapfuma Machakaire, jornalista veterano e presidente de ética do Conselho de Mídia Voluntário do Zimbábue, denuncia a corrupção e reconhece, também, o problema generalizado de salários ruins na indústria de mídia do país.
"Os envelopes marrons não pertencem ao jornalismo. Eles não cabem em nenhum ponto do processo de publicação de uma matéria", diz. "Estamos cientes de que convivemos com a síndrome do envelope marrom há um tempo e esse é um resultado do desempenho ruim da economia desse país. Os jornalistas não são bem pagos e as condições de trabalho são muito ruins. Como resultado, eles ficam tentados a aceitar algo que pode melhorar seu padrão de vida."
No Zimbábue, o problema do suborno de jornalistas reacendeu depois que uma jornalista, Nyaradzo Nyere* escreveu sobre como ela rejeitou um suborno de US$ 2.000 oferecido por representantes de uma empresa de tabaco quando ela fazia uma matéria sobre como os produtores de tabaco estão sendo maltratados por empreiteiros no país.
Nos últimos anos houve relatos de jornalismo do envelope marrom na Nigéria, Gana, Etiópia, África do Sul, República do Congo, Uganda e Zimbábue, observa Pretty Nxumalo, pesquisadora e chefe de políticas na Transparência Internacional do Zimbábue. "Alguns jornalistas denunciaram funcionários do governo e os editores acabaram aceitando propina para acabar com a matéria. Outros fizeram reportagens e [depois] as corrigiram", diz.
Nxumalo concorda que a má remuneração contribui para que alguns jornalistas aceitem suborno, mas acrescenta que os profissionais de mídia devem se colocar em um padrão de ética mais alto. "A corrupção não pode ser combatida com corrupção", diz. Sem jornalistas lúcidos e responsáveis que responsabilizam instituições do governo, ficamos numa posição ruim. Não podemos vencer a luta contra a corrupção".
Foto por Ryul Davidson no Unsplash.