Os esquerdistas e direitistas reagem de maneira diferente à desinformação? Quantas conversas políticas estão realmente acontecendo online? A desinformação fornecida por um bot tem efeitos diferentes sobre nós do que a desinformação fornecida por uma pessoa real? O que a informação online está fazendo conosco?
Um relatório divulgado esta semana pela Fundação Hewlett, “Social media, political polarization, and political disinformation: A review of the scientific literature [em tradução livre, "Mídias sociais, polarização política e desinformação política: uma revisão da literatura científica"], tem como objetivo definir o que sabemos e o que não sabemos sobre a relação entre esses tópicos. O relatório é especialmente útil como uma espécie de catálogo das perguntas que ainda temos e também sinaliza os pontos onde a pesquisa existente está em conflito.
O relatório, que inclui resenhas de pesquisa escritas por diversos acadêmicos especializados em áreas específicas (de autoria de Joshua A. Tucker, Andrew Guess, Pablo Barberá, Cristian Vaccari, Alexandra Siegel, Sergey Sanovich, Denis Stukal e Brendan Nyhan), começa com um gráfico de todas as “peças em movimento”. Os autores decidiram deliberamente não conectar o uso das redes sociais à qualidade da democracia; as redes sociais não são nem inerentemente democráticas nem antidemocráticas, escrevem eles, “mas simplesmente uma arena na qual os atores políticos (que podem ser democráticos e antidemocráticos) podem contestar poder e influência”. (Em 2010, o Journal of Democracy apresentou um artigo sobre mídia social intitulado “Liberation technology [Tecnologia de libertação]. Em 2017, o mesmo periódico publicou “Can democracy survive the Internet? [A democracia pode sobreviver à internet?)
Então. Aqui estão algumas coisas que não sabemos, entre elas coisas que se sobrepõem a outras coisas que não sabemos.
O que é uma "conversa política online"? O que é uma "câmara de eco"?
Esqueça apenas "fake news" e "desinformação" (embora também precisemos de definições comuns para elas): não há sequer consenso entre os acadêmicos sobre o que é realmente uma "conversa política online" ou uma "câmara de eco". Muitas pesquisas tentaram se concentrar na quantidade de discordâncias às quais as pessoas estão expostas online, mas não temos uma definição padrão para o tipo de conversa que conta como “política”, o que conta como discordância ou mesmo o que conta como uma conversa em primeiro lugar (por exemplo, e se um lado dela é um bot?). E também há a câmara de eco: “Até hoje, não só não há consenso sobre qual nível de exposição seletiva constitui uma 'câmara de eco', não há sequer consenso sobre qual métrica ou estatística de resumo deve ser usada para medir essa exposição seletiva.”
Diferentes grupos online são expostos a diferentes níveis de desinformação? E as reações deles são diferentes?
Os esquerdistas e direitistas veem diferentes quantidades de desinformação online, por exemplo? E as pessoas que passam muito tempo nas redes sociais? Precisamos saber mais sobre como pessoas diferentes reagem às mesmas coisas. Os autores sugerem que poderíamos começar estudando “se extremistas tendem a reagir de maneira diferente de moderados”, ou se conservadores reagem de maneira diferente de esquerdistas. "Se a desinformação ou a polarização política afetam conservadores e esquerdistas de maneira diferente, esse tipo de pesquisa parece ser particularmente importante no futuro."
Como as pessoas reagem quando estão expostas à desinformação?
Alguns pesquisadores descobriram um efeito de "bumerangue", em que as pessoas se firmam ainda mais em sua posição original quando são expostas a informações que a contradizem. Mas se isso está realmente acontecendo (e alguns pesquisadores acham que não está), não está claro o quanto disso é simplesmente "animação partidária" versus crença legítima.
Vários estudos sobre “em que ponto a desinformação compartilhada nas mídias sociais tem algum efeito sobre as crenças políticas dos cidadãos”, ou se aumenta a polarização, têm resultados conflitantes, em parte porque os estudos usam diferentes definições do que são desinformação e polarização. “Às vezes as diferenças entre boatos, informações falsas, informações enganosas e informações hiperpartidárias são confusas”. Além disso, não se trata apenas de quem você vota: precisamos de mais pesquisas sobre como a exposição à desinformação afeta a perspectiva das pessoas em vários assuntos, seu interesse geral em política e sua confiança nas instituições.
Os estudos são geralmente sobre uma plataforma, mas muitas pessoas estão em várias plataformas (incluindo mídia offline).
A maioria das pesquisas de mídia social se concentra no Twitter. Como Jonathan Albright apontou recentemente, o Twitter não é onde a maioria das pessoas está. O Facebook é, mas não temos muita pesquisa sobre como o uso do Facebook afeta a política. (O Facebook dificulta o seu estudo!) O relatório também pede mais análises dos resultados de pesquisa do Google. E há a mídia tradicional: como ela interage com as redes sociais? Quanto os “rumores políticos das redes sociais” estão migrando para as matérias da mídia tradicional? Quais são as estratégias de mídia social dos veículos de comunicação hiperpartidários?
Como a pesquisa baseada nos EUA pode ser aplicada ao resto do mundo?
O sistema político bipartidário nos EUA não é comum. Também não está claro como “a mídia digital pode contribuir para a polarização e a desinformação em regimes híbridos e regimes não-democráticos mais instáveis”.
O relatório completo, que contém muitas outras coisas que não sabemos (e outras que sabemos) está aqui.Este artigo foi publicado originalmente no Nieman Lab e é reproduzido na IJNet com permissão.
Imagem sob licença CC no Pixabay via TeroVesalainen