Novo currículo promove cobertura de direitos humanos no Quênia

May 18, 2023 em Temas especializados
Nairobi, Kenya

Um projeto de direitos humanos no Quênia lançou um novo currículo que ensina jornalistas sobre como fazer uma melhor cobertura de questões relacionadas ao tema. Uma iniciativa da organização canadense de desenvolvimento de mídia Journalists for Human Rights, o novo currículo, chamado Voice for Women and Girls’ Rights, busca aprimorar as boas práticas da reportagem de direitos humanos no país.  

Ao falar durante o lançamento do projeto em abril, em Nairóbi, o chefe regional da Journalists for Human Rights, Mustafa Dumbuya, disse que o objetivo de desenvolver um novo currículo é equipar as futuras gerações de jornalistas com as habilidades e conhecimentos para identificar e informar melhor sobre assuntos de direitos humanos.

"A ideia é assegurar que todos estejam cientes de seus direitos humanos. O currículo é uma oportunidade para produzir matérias que contextualizem e aprofundem o tema", disse Dumbuya. "Quanto mais uma sociedade é informada, mais a população é informada e vai começar a tomar uma atitude diante de questões importantes. Tudo começa com conhecimento."

Direitos humanos no Quênia

A trajetória dos direitos humanos no Quênia segue sendo preocupante, de acordo com um relatório de 2022 da Human Rights Watch. Dentre os grupos que sofrem a maioria das violações de seus direitos humanos estão refugiados, mulheres e meninas e a população LGBTQ. Forças de segurança são os principais violadores de direitos humanos no país, segundo avaliação do relatório.

Janine Cocker, chefe de cooperação da Canadian High Commission no Quênia, observa que o jornalismo tem tudo a ver com direitos humanos. "Quanto mais as pessoas são conscientes e livres para discutir os direitos humanos, mais elas vão cobrar de seus governos, levando a uma melhoria dos serviços públicos, menos corrupção e melhores oportunidades econômicas e processos democráticos mais fortes." 

Os próprios jornalistas estão sob ataque no país. Entre janeiro e maio de 2022, o Media Council of Kenya (MCK) registrou 45 violações da liberdade de imprensa, a maioria delas relacionada à cobertura das eleições. Em março de 2023, o MCK demonstrou preocupação com ataques a jornalistas feitos por agentes de segurança e apoiadores da oposição durante protestos antigoverno.

Estes ataques à mídia rebaixam o espírito da ação coletiva pois traem as bases da democracia, observa David Omwoyo, CEO da MCK. 

"Os jornalistas desempenham um papel vital no fornecimento de informação precisa e oportuna ao público, e ataques contra esses profissionais enquanto fazem seu trabalho são inaceitáveis", diz. "A liberdade de imprensa é um fundamento da democracia e qualquer tentativa de intimidar ou prejudicar jornalistas é um ataque direto a esse direito fundamental. Ataques contra jornalistas durante manifestações são uma preocupação grave e precisam ser condenados por todos que valorizam a liberdade de imprensa e a democracia."

O novo currículo de direitos humanos vai ajudar jornalistas a preencher lacunas de conhecimento sobre essas questões no país, diz o jornalista queniano Hexin Obuchunju. "Jornalistas, como qualquer outra pessoa, são humanos antes de serem profissionais. Este currículo vai nos ajudar muito não só a informar de forma efetiva sobre a violação de direitos humanos de outras pessoas como também sobre os nossos próprios direitos."

Conscientização

Há um déficit de conhecimento entre os jornalistas sobre como cobrir questões relacionadas aos direitos humanos, explica a  Drª. Nancy Booker, professora assistente de comunicação e jornalismo multimídia da Universidade Aga Khan e consultora do currículo.

"Durante a nossa pesquisa e desenvolvimento do currículo, muitos dos jornalistas que cobrem direitos humanos disseram que ninguém nunca os havia ensinado a respeito, ninguém nunca havia refletido sobre algumas das situações que eles encontram diariamente e eles tiveram que aprender fazendo", diz.

"Nosso currículo de direitos humanos é o primeiro passo para ajudar jornalistas a cobrirem de forma efetiva e com competência os direitos humanos e para também garantir que os jornalistas não violem os direitos humanos." 


Foto por Amani Nation via Unsplash.