A sexta edição do Atlas da Notícia, realizado pelo Projor para mapear a presença do jornalismo local, indica um recuo dos desertos de notícias no Brasil. Durante um webinar do Fórum Pamela Howard para Cobertura de Crises Globais, do ICFJ, os participantes discutiram os resultados e as perspectivas do censo. Acompanhe o vídeo do webinar e em seguida um resumo dos principais pontos.
É a primeira vez desde que o levantamento começou a ser realizado, em 2017, que o número de municípios considerados desertos é menor do que o de cidades que contam com ao menos um veículo de comunicação jornalístico. Entretanto, ainda são 2.712 cidades sem acesso a notícias sobre o lugar onde vivem.
O presidente do Projor e coordenador do Atlas, Sérgio Ludtke, aponta alguns motivos para o cenário de mais diversificado na localização das notícias. “Boa parte dessa virada se deve ao esforço que os participantes fizeram para identificar a presença de jornalismo nas cidades", diz Ludtke. "As outras duas razões são basicamente o crescimento do jornalismo digital. E também a identificação das rádios comunitárias que fazem conteúdo jornalístico”. Mais de 14 mil veículos de jornalismo foram mapeados e cerca de 300 pesquisadores voluntários participaram dessa edição.
Sérgio Spagnuolo, coordenador de dados, lembra que o Atlas não é uma pesquisa de cunho acadêmico. “Mas nossos dados estão disponíveis para serem utilizados pelos pesquisadores. Vamos lançar em breve uma plataforma que vai facilitar o cruzamento de informações com outras bases de dados”, diz. Para quem quiser saber mais sobre essa nova ferramenta, já é possível fazer um cadastro.
Região Centro-Oeste
Angela Werdemberg, pesquisadora do centro-oeste, pontua que a região foi a única que apresentou um aumento do deserto de notícias, devido ao fechamento de 50 veículos. “Não foi um acréscimo considerável do deserto, porque 41 desses veículos estão em Brasília. O fechamento aconteceu porque o modelo de financiamento é muito tradicional, pautado em vendas de anúncio”, diz.
Mesmo com o encerramento de iniciativas jornalísticas, o Centro-Oeste segue com a menor proporção de desertos de notícias do Brasil. “E isso se justifica pela grande quantidade de rádios. Na próxima edição acreditamos que vai reduzir ainda mais, porque o Ministério da Comunicação distribuiu onze outorgas, divididas entre Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul”, explica.
Região Sudeste
O pesquisador Dubes Sônego Jr. diz que o destaque da região é que os veículos online passaram a ser a maioria. “O principal produto não é mais o impresso. O que indica que devemos ter um aprofundamento dessa tendência nos próximos anos, e deve ser rápido”, acredita. Ele também lembra da fragilidade de novos projetos online. “É mais raro ver um novo veículo se estabelecer de forma mais concreta. O que eu tenho mais visto no sudeste são as versões online de veículos mais tradicionais passando a ocupar o protagonismo que o impresso tinha. E esses jornais começam a utilizar mais as ferramentas digitais, como whatsapp e instagram”, afirma.
Região Norte
“O deserto traz essa imagem de escassez, mas queremos falar sobre o que está crescendo também. Vamos falar sobre o ‘reflorestamento das notícias’. A imprensa nortista existe, está forte e pulsante”, diz a pesquisadora Jéssica Botelho. Ela chama a atenção para uma redução significativa de 30% na quantidade de desertos no território da região norte, devido principalmente às mídias online e a questão das rádios comunitárias.
Ela cita um exemplo interessante no Tocantins.”Percebi que a gente tem algo bem específico nas rádios comunitárias desse estado que pode ser uma solução quando se pensa em jornalismo e rádios comunitárias: é uma federação de rádio comunitária, com site padronizado, rede social padronizada, um aplicativo online e isso que nos permitiu checar o conteúdo”, diz.
Região Sul
A região Sul concentra 26,5% dos veículos do Brasil, com 3.823 empreendimentos. Marcelo Crispim da Fontoura, pesquisador da região, conta que os desertos de notícia também recuaram no Sul, pelo aumento de veículos digitais e pela identificação de rádios comunitárias. “É possível ver uma profissionalização desses veículos digitais, com sites mais trabalhados e um ecossistema de notícias surgindo em alguns locais. Agora a tendência é ver como isso vai seguir no futuro e nos próximos censos”, diz.
Região Nordeste
A pesquisadora Mariama Correia conta que proporcionalmente o nordeste ainda é a região com o maior deserto de notícias. “Mas não gosto de falar dessa aridez apenas, e sim do que está sendo produzido na região. São 2728 veículos que fazem jornalismo, e é muito pulsante”diz ela. “As rádios comunitárias têm muito peso e valor. E foram também muito importantes, por exemplo, durante a pandemia para dar orientações. Essas plataformas democratizaram muito a informação, e isso é marcante quando vamos olhar caso a caso”.
Segundo o Atlas, mais de 80% dos veículos mapeados na região são nativos digitais ou rádios. Foi notada também uma queda de 9% na proporção de desertos de notícias no comparativo com o levantamento anterior.
Foto: Arte do website Atlas de Notícia