A pressão da indústria editorial tem enfraquecido o papel fiscalizador dos jornalistas, transformando-os em subservientes de corporações e políticos e incapazes de servir os seus leitores.
Essa é uma das conclusões de Bernardo Diaz Nosty, professor de jornalismo na Universidade de Málaga.
Diaz Nosty, também jornalista, é autor de “Libro Negro del Periodismo en España” (O "Livro Negro do Jornalismo na Espanha") -- uma análise aprofundada da situação atual da mídia no país, também comum em outras partes do mundo.
A publicação vem em um momento em que muitos países europeus estão lidando com problemas semelhantes, como a proposta de regular jornalistas na Inglaterra ) após o escândalo de escutas telefônicas e um "livro negro" semelhante sobre a mídia estatal na Itália.
Aqui estão trechos da entrevista com Diaz Nosty:
IJNet: Por que publicar um "livro negro" do jornalismo espanhol?
Bernardo Diaz Nosty: O conceito de "livro negro" refere-se a denunciar uma situação, mais do que apenas apresentar a realidade de uma história ... E que a realidade é mais global do que local. É uma crise dos valores da democracia, uma degradação do jornalismo.
IJNet: Qual é o estado atual do jornalismo em Espanha?
BDN: Em geral, o jornalismo espanhol tem uma longa tradição e seus principais jornais são muito bons, mas a pressão excessiva da indústria enfraqueceu o papel (da mídia) de defender a democracia e se tornaram uma extensão desses poderes, em vez de [servir] leitores e telespectadores...
IJNet: Que problemas a profissão de jornalismo enfrenta hoje?
BDN: ... A substituição de profissionais bem-pagos e experientes por jovens recém-saídos da faculdade, que ganham não mais que US$1.500 ou US$2.000 por mês. E também, a contratação de muitos estagiários, bolsistas...
IJNet: Como isso afeta a relação entre mídia e governo?
BDN: Todo governo... formas alianças com a mídia. O nosso sistema tem muitas emissoras públicas associadas com o governo por causa das informações que publicam e as estações não têm credibilidade. O estreito relacionamento da indústria da mídia com o poder político, que move muitos milhões de euros por ano, construiu um vasto sistema dependente do governo a nível nacional, regional e municipal.
IJNet: Como isso se encaixa no debate que existe em todo o mundo sobre o futuro do jornalismo e a nova mídia?
BDN: Estamos passando por uma transição irreversível a uma nova paisagem midiática. As habilidades tecnológicas destes novos públicos, os "nativos digitais", são cruciais. Além disso, estamos passando por uma mudança de paradigma, com uma nova geração que busca construir uma sociedade global com base na interação, transparência e reconstrução da sociedade...
IJNet: O senhor escreve sobre uma "bolha acadêmica" no livro, o que quer dizer?
BDN: Refiro-me à 75.000 formandos em jornalismo na Espanha, para a qual você precisa adicionar milhares de graduação com formação em comunicação, publicidade, etc
O mercado e a indústria não conseguem absorvê-los. Mas enquanto existe uma oferta tão grande de formandos, as empresas vão aproveitar a situação e pagar salários miseráveis. Iste deteriora o prestígio social do jornalista e sua independência.
IJNet: Como o jornalismo da Espanha ultrapassar esta situação?
BDN: Assim como ocorreu na França, no Reino Unido ou nos Estados Unidos: recuperando a credibilidade, aproximando-se da sociedade, ganhando ndependência, respeitando um público cada vez mais exigente. Voltando ao jornalismo.