O jornalismo sempre foi obcecado com a perfeição. A matéria tem que ser livre de dúvidas; o revisor tem que ter certeza que deve ser um ponto e vírgula, não um traço. Se a manchete estiver errada, o céu vai cair na reunião da manhã.
Não há nada de errado com isso. Na verdade, é fantástico. Jornais de registro devem, e têm que, ser feitos sob a qualidade mais rigorosa e confiável. Meu problema é quando essa mentalidade de perfeição vai da mesa do editor para o departamento de negócios e linha de produção.
Jornais sempre tiveram um único produto: o próprio jornal. No máximo, pode haver uma inserção de moda no domingo ou uma seção imobiliária na quinta-feira, mas para todos os efeitos, o jornal - de tinta seca em polpa de árvore - era tudo o que havia. Isto não está nem remotamente perto de ser verdade mais. Nem sequer era verdade na maior parte da última geração.
Organizações de notícias devem agora manipular a panóplia de impressão, Web, aplicativos móveis, artigos instantâneos no Facebook, Apple News, wearables, conteúdo distribuído e compartihamentos de mídia social; só para citar alguns.
Francamente, quase todas as organizações de notícias do mundo falham miseravelmente em dar conta de tudo e muito menos monetizar isso.
Há muitas razões para isso e há volumes de livros escritos sobre o tema. Meus pensamentos são mais simples, contudo: as organizações de notícias são como um menino de 14 anos de idade tentando criar coragem para convidar uma garota para o baile da escola. Eles têm tanto medo de falhar que nem sequer tentam.
A mentalidade de que a menos que o produto seja perfeito não deveria ser visto pelo público em geral é especialmente perigosa quando se trata de um meio transitório e inefável como a distribuição digital.
Ironicamente, o mundo da tecnologia também teve esse problema por um tempo muito longo. Nos primeiros 95 anos do século 20, os computadores eram caros, o software era difícil de distribuir e quase impossível de ser atualizado depois de lançado ao mundo. Em essência, sofriam muitos dos mesmos problemas que o jornal tinha e não era surpresa que levaram aos mesmos resultados.
As empresas de software passaram anos e milhões de dólares se certificando de que o software, uma vez que chegasse ao status de "gold master", estava tão perto da perfeição quanto poderia. O resultado foi, em sua maior parte, um caminho lento de ideias previamente comprovadas com muito pouca mudança ou criatividade.
Em seguida, surgiu a Internet de alta velocidade e banda larga. De repente o software podia ser atualizado instantaneamente, em pequenos incrementos, muitas vezes sem que o usuário tivesse mesmo que estar ciente das correções ou ver os problemas em primeiro lugar. A mentalidade de que para lançar um software deve ser perfeito se tornou anátema.
O lema do Facebook é notoriamente "mova-se rapidamente e quebre coisas". A razão que eles podem fazer isso é porque sabem que se um novo recurso não está funcionando, ou não está conectando com o usuário final, eles podem retirá-lo. Isso permite que experimentos baratos na interface do usuário, entrega de conteúdo e qualquer outra coisa que possam pensar em criar rapidamente, sejam liberados quando são suficientemente bons e o feedback pode ser recebido imediatamente.
Os jornais são muitas vezes organizações quadradas. Ideias malucas ou fora de ordem são cortadas. Não agite o barco ou você pode ser o único atirado ao mar. O que editores, produtores e editores precisam entender é que dois ou três funcionários, trabalhando por três dias, podem realizar essas ideias malucas pequenas. Com este tipo de prazo, novos métodos de produção, distribuição e entrega de conteúdo podem ser construídos, testados e lançados em seis semanas, não em dois anos -- o que levaria nos dias do jornal de papel impresso.
Jornais devem aprender uma lição do mundo da tecnologia. Crie grupos pequenos; dê a eles a liberdade para experimentar coisas estranhas. Não tente "microgerir" ou esperar resultados surpreendentes e imediatos; não vão aparecer. Não repreeenda se uma ideia ou projeto falhar; vai falhar. Em vez disso, deleite-se com o fato de que a sua organização está finalmente tentando algo novo e depois espere pelo dia em que uma dessas ideias esquisitas finalmente vingue.
Imagem principal sob licença CC no Flickr via dave