Pessoas com obesidade estão sofrendo mais e morrendo em taxas mais altas de COVID-19, de acordo com um relatório divulgado pela Federação Mundial de Obesidade em março. Isso significa que a obesidade é um fator de alto risco, semelhante a outras comorbidades, como diabetes e doenças cardíacas.
“Sabemos claramente quando você tem obesidade, quando está com muito excesso de peso, em primeiro lugar você provavelmente tem comorbidades... que trabalham juntas para torná-lo menos saudável e menos capaz de combater um vírus. Mas também, que você tem uma resposta inflamatória — essencialmente que [você tem mais] probabilidade de ter um resultado muito ruim”, disse Johanna Ralston, CEO da Federação Mundial de Obesidade, durante um recente webinar do Fórum de Reportagem sobre a Crise Global de Saúde do ICFJ.
No momento da divulgação do relatório, 2,2 milhões das 2,5 milhões de mortes relatadas devido à COVID-19 ocorreram em países onde mais da metade da população está acima do peso, disse Ralston. Apenas alguns pequenos estados insulares com medidas de saúde pública mais eficazes foram capazes de controlar melhor o vírus, apesar das taxas mais altas de obesidade, acrescentou ela.
Por que as taxas de obesidade estão aumentando
As taxas de obesidade vêm aumentando em todo o mundo há décadas, tanto em crianças quanto em adultos, devido em grande parte à genética, ao aumento da ingestão de medicamentos e ao maior consumo de refrigerantes e alimentos ultraprocessados.
A COVID-19 exacerbou os riscos e a prevalência da obesidade, disse Ralston, pois a pandemia sobrecarregou os sistemas alimentares e as cadeias de abastecimento, alterou os padrões de alimentação, especialmente entre crianças, e aumentou a insegurança alimentar. As pessoas também ficaram menos ativas fisicamente e sofreram mais danos à saúde mental, entre outros fatores.
Soluções durante a COVID-19 e além
Enquanto continuamos a lutar contra a pandemia em todo o mundo, soluções para lidar com a obesidade devem ser implementadas a fim de salvar vidas. “Não vamos combater a obesidade usando apenas uma coisa... temos que fazer muitas coisas ao mesmo tempo”, disse Ralston.
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Soluções como mudar os rótulos de comida, eliminar a gordura trans das dietas, instituir impostos sobre o açúcar e alterar o marketing podem funcionar no combate à obesidade. Essas medidas têm que ir além do aumento da obesidade impulsionada pela pandemia, disse Ralston.
Existem aproximadamente 800 milhões de pessoas que vivem com obesidade hoje. Embora a Organização Mundial da Saúde e as Nações Unidas tenham introduzido metas no passado para reduzir a obesidade, elas não estão sendo cumpridas. “As raízes... que estão dão vazão [a obesidade], vamos comunicar em um mapa claro daqui par a frente”, disse Ralston.
Trazendo a agenda da obesidade para o primeiro plano
A obesidade é uma doença não transmissível — em outras palavras, que não pode ser transmitida de uma pessoa para outra. As doenças não transmissíveis são agora a principal causa de morte em todo o mundo, mas como se manifestam por longos períodos de tempo, não recebem tanta atenção entre os formuladores de políticas.
Em algumas culturas, o peso extra também é visto sob uma luz positiva e pode até ser considerado sinal de prosperidade. O objetivo é combater o “peso pouco saudável” que tem correlação direta com complicações como doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão e afins, disse Ralston.
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Afastar-se de linguagem e imagens estigmatizantes também é importante. “As pessoas viam a obesidade como um sinal de fraqueza e preguiça; agora sabemos que há uma tempestade genética muito mais complexa por trás disso e os alimentos que as pessoas têm disponível também... há muitos motivadores, mas retratamos as pessoas com obesidade como as que causam isso.”
Embora dados confiáveis sobre as taxas de obesidade nem sempre estejam disponíveis, ser rigoroso com as estimativas também é importante. O Índice de Massa Corporal (IMC) pode ser uma medida imperfeita, mas é o denominador comum mais baixo e um bom lugar para começar, disse Ralston.
Ainda não sabemos o suficiente sobre a obesidade e sua conexão com a COVID-19. Sabemos que a obesidade tem custos econômicos e sociais reais.
Ralston espera que a doença esteja no topo da agenda global e que os ambientes obesogênicos sejam combatidos com mudanças sociais e políticas. “Não poderíamos ter impedido a pandemia abordando a obesidade, mas poderíamos ter impedido a morte de muitas pessoas”, disse ela.
Inaara Gangji é uma jornalista freelance tanzaniana-indiana que se concentra em gênero, justiça social e desenvolvimento. Normalmente ela se baseia em Doha, mas faz trabalhos nos EUA, Oriente Médio e África.