Muitas empresas estão abraçando a "mentalidade de startup" para lançar seus próprios produtos e um número crescente de jornalistas estão seguindo empreitadas solo. A seguir, estão as principais lições que aprendi durante minha carreira em pesquisa e desenvolvimento — normalmente chamada de P&D — onde a maior parte da inovação em torno de produtos e serviços ocorre. Startups, em especial, precisam criar e manter essa cultura de experimentação.
Nos últimos seis anos, eu fui diretor sênior do Alpha Group, uma incubadora interna da Advance Publications, com o objetivo de criar startups de tecnologia e mídia. Some isso aos meus anos em startups e eu chego a 20 anos de experimentação na particularmente difícil interseção entre tecnologia e mídia.
"Ter ideias é fácil, a execução é tudo"
Você não precisa de coordenadas exatas quando começa a ir atrás de uma ideia.
É ótimo ter um senso geral das tendências e tecnologias mais importantes. Mas, no fim das contas, muitas pessoas podem chegar às mesmas conclusões. O que importa são os detalhes tanto de uma perspectiva de produto quanto operacional. O que você precisa descobrir é como chegar a algum lugar específico e significativo.
Eu vi startups serem destruídas porque os fundadores não conseguiam ficar juntos na mesma sala ou o produto não tinha nenhuma contribuição do usuário ou o negócio simplesmente não tinha nada para acrescentar. Todas elas eram startups com "boas" ideias. O mercado delas tinha sido validado. Era a execução que estava errada.
A única grande vantagem de realizar uma execução ruim é que você constrói um "sensor de perigo" para reconhecê-lo logo da próxima vez. O mundo das startups tem um histórico de "fazer de conta até você chegar lá". Talvez isso esteja com os dias contados com o julgamento da Theranos, a empresa de tecnologia de testagem de sangue que mentiu sobre sua tecnologia de picada no dedo e uso militar.
A questão é: confie na sua intuição quando ela diz que sua execução é ineficaz e racionalize em cima disso. É fácil ignorar, mas é de um valor inestimável se você der atenção. Afinal, ter ideias é fácil, a execução é tudo.
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Os efeitos de rede são reais
O valor de um serviço aumenta à medida que mais pessoas o utilizam. Chamamos este fenômeno de "efeitos de rede". E ele é muito real.
A conta do Instagram Friday Beers teve um começo difícil usando um produto que o Alpha Group construiu que permitia a criadores de conteúdo produzirem vídeos simples de memes. Anos (e 1,4 milhão de seguidores) depois, quando criamos o Subtext, que permite que criadores de conteúdo troquem mensagens de texto direto com sua audiência, fez sentido para nós nos voltarmos para o Friday Beers. O produto fazia muito mais sentido pra eles, e agora eles usam o Subtext para mandar mensagens com conselhos sobre apostas esportivas.
Os efeitos de rede existem em vários níveis. No setor de startups, as redes sociais são a primeira coisa que as pessoas pensam quando você fala de "efeitos de rede", talvez citando a lei de Metcalfe. Mas os efeitos de rede são reais nas relações de negócios, na contratação, construção de confiança e muito mais.
O ponto de tudo isso é que o processo é cíclico. Se você ajuda seus clientes a crescerem, a expansão da base de usuários significará também mais oportunidades para você. E quanto mais pessoas ficam sabendo e usam o seu produto, mais ele irá se desenvolver ao longo do tempo. Quanto mais relações de negócios positivas você construir com seus colegas de trabalho, mais você terá relações melhores com mais pessoas ao longo do caminho.
Fique na sua
Essa eu aprendi cedo. Minha primeira startup, Spot.Us, era um site de crowdfunding para jornalistas. Na época, crowdfunding era um conceito novo. O que tornava o projeto conhecido era que ele tinha sido lançado antes do Kickstarter, que popularizou o conceito de crowdfunding. A lição é a seguinte: "não se deixe distrair pelos seus concorrentes."
À medida que a tecnologia vira de cabeça pra baixo todos os setores, as chances de você ser a primeira ou única pessoa a fazer diferença são mínimas. Mas só porque tem mais alguém no seu nicho não significa que ambos não podem ter sucesso. E mesmo se você realmente acreditar que este é um jogo de vencedor único, focar no que seu concorrente está fazendo não vai melhorar seu produto, suas redes, sua execução ou ideias.
Sim, é uma boa ideia ficar de olho na concorrência. Você pode até se inspirar nela. Apenas evite transformar isso numa briga de cães, a não ser que seja preciso. Nove a cada dez vezes, você pode evitar a disputa acirrada e deixar o melhor produto/experiência vencer. Melhor ainda, pode ser uma situação em que todos saem ganhando. Vai ter competição. Vão existir projetos que vão arranhar, se sobrepor ou complementar o seu projeto. O desafio é escolher suas batalhas.
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Lidere nos bastidores
Líderes normalmente pensam que precisam literalmente arriscar tudo (abrindo mão de sono, amigos e amor) para provar que eles merecem a posição de liderança. Essa é uma receita para o burnout e não vai de fato fazer com que as pessoas trabalhem mais. Você precisa estar 100% todos os dias.
Se você chega a 120% e se esgota, inevitavelmente isso significa que você vai estar em 80% durante uma semana enquanto se recupera. Você não é o Super-Homem. Está tudo bem encontrar um nível de 100% que seja sustentável.
Indo mais direto ao ponto, você deve expressar isso para a sua equipe. "Não seja um herói" é o que eu digo para as pessoas. Seja o seu melhor, mas não seja um herói. Nós precisamos de você para a próxima luta e a que vier depois dessa também. Ainda mais importante, todo mundo quer achar um jeito de liderar. A melhor parte de trabalhar em uma startup é a oportunidade de crescer. Não tire essa oportunidade das outras pessoas porque você quer encarar todos os desafios. Há momentos pra dar um grito de guerra e cobrar? Claro. Mas como é o caso da maioria das minhas lições, moderação é uma virtude.
Pare de debater e comece a testar
Todos já ouvimos sobre optar pelo "MVP" — o produto mínimo viável, na sigla em inglês — no qual um novo produto ou site é desenvolvido com recursos o bastante para funcionar para os primeiros usuários. O retorno desse grupo inicial é usado para desenvolver o produto final. Mas por quê? A razão para isso é que há uma regra da internet segundo a qual é mais barato e fácil testar algo do que discutir sobre testar ou não algo.
Eu aprendi isso cedo na minha época de consultoria, quando havia reuniões com toda a equipe editorial para discutir se um veículo jornalístico deveria ou não criar uma conta no Twitter. Hoje isso é uma pergunta boba, mas gastamos muitos ciclos e reuniões para agendar novas reuniões para ter a reunião de fato na qual falaríamos sobre criar a tal conta. Uma conta gratuita, diga-se de passagem.
Quando lançamos o Subtext, nosso primeiro MVP era na verdade simplesmente um telefone pré-pago. Nós convidamos Joe Eskenazi, um repórter que ainda hoje envia mensagens de texto sobre a política de San Francisco, para fazer parte do nosso canal no slack. Todas as manhãs, ele me mandava por lá as mensagens para serem enviadas. O telefone pré-pago só podia enviar 10 mensagens de texto por vez, assim, em grupos de dez, eu mandava mensagens para 400 assinantes. Se eles me respondessem, eu repassava para o Joe e ele me mandava pelo slack o que eu deveria responder. É um MVP do qual somos particularmente orgulhosos porque o custo foi mínimo e a experiência do usuário mesmo assim foi muito consistente.
Este artigo foi publicado originalmente pelo Journalism.co.uk e republicado na IJNet com permissão.