Karen Jacobs, a repórter que abre espaço para jornalistas negros

por Sabrina Adams
Feb 23, 2022 em Diversidade e Inclusão
Karen Jacobs headshot

Desde 1827, repórteres negros e jornais da imprensa negra têm sido indispensáveis para elucidar e informar comunidades negras nos Estados Unidos. A partir da perspectiva única de jornalistas e editores negros, essas publicações fornecem uma representação negra realista, elevam a cultura negra e cultivam a comunidade negra. Seja na busca por justiça social ou para aumentar a conscientização, os jornais da imprensa negra continuam a servir uma comunidade grande, diversa e em constante evolução em todo o país.

A PEN America está destacando as carreiras de jornalistas negros que estão trabalhando para desvendar a verdade sobre a vida e justiça nos Estados Unidos. A imprensa negra segue sendo essencial para uma democracia que funciona e uma cultura próspera. Nós conversamos com jornalistas negros sobre a importância de veículos de mídia de propriedade de pessoas negras, histórias positivas sobre negros e o contexto histórico de seu trabalho.

O St. Louis American tem sido a fonte mais confiável para a comunidade afro-americana do Missouri por 100 anos. Dedicado a oferecer um fórum único e respeitado que dê aos afro-americanos uma voz de credibilidade, o St. Louis American, com sua plataforma multimídia expandida, é hoje o maior jornal semanal em todo o estado do Missouri.

Entrevistamos a seguir Karen Jacobs, repórter de economia do St. Louis American que trabalha nos programas Report for America e Type Investigations. A entrevista foi resumida e editada para melhor compreensão.

Por que você decidiu ser jornalista e como foi a jornada da sua carreira?

Eu sou nascida e criada em Chicago, que durante a minha juventude era a sede de pelo menos quatro jornais diários, muitos dos quais eram entregues na minha casa diariamente. Então eu venho de uma cidade jornalística. Eu estudei jornalismo no ensino médio, me graduei em jornalismo e economia na Universidade de Illinois e dediquei minha carreira a contar histórias importantes para comunidades locais em Champaign (Illinois), Milwaukee, Los Angeles, Dallas e St. Louis.

Você tem uma matéria preferida publicada pelo St. Louis American? Qual é e por que é sua favorita?

Tenho muitas matérias das quais me orgulho. Além do especial Barren Mile, me orgulho de uma reportagem que fiz sobre o impacto de um projeto do governo de US$ 1,7 bilhão em comunidades negras e de baixa renda. Tentei manter o meu foco no seguinte: o que esses grupos estão tendo de contrapartida? Fiz perguntas duras sobre gastos anteriores e planejados, assegurando que as necessidades de grupos sub-representados não fossem simplesmente deixadas de lado.   

Você pode me contar um pouco sobre o projeto Barren Mile e sua cobertura sobre a escassez de comida em comunidades negras durante a pandemia?

Eu trabalho no The St. Louis American como parte do programa nacional Report for America, que busca alocar jornalistas em comunidades sub-representadas. No caso de Barren Mile, quatro jornais da imprensa negra buscaram destacar a insegurança alimentar e outras questões de injustiça alimentar que pioraram com a pandemia. O governo e entidades filantrópicas locais reagiram para evitar o que poderia ter sido uma crise humanitária. Mas problemas estruturais, incluindo um grave desinvestimento em comunidades negras, permanecem.

Por que jornais negros são tão importantes?

A missão da imprensa negra não mudou desde os primórdios do Freedom's Journal. O sucesso e conquistas de pessoas negras são frequentemente negligenciados na mídia tradicional e considerados como sem valor notícia. Isso leva a um retrato impreciso de pessoas negras como majoritariamente criminosas ou que precisam de assistência. Ter veículos que focam primariamente em pautas através do olhar negro garante que um retrato mais completo emerja.

O que as pessoas podem fazer para dar mais apoio ao trabalho que vocês fazem?

Jornais locais em geral e publicações de propriedade de minorias especificamente precisam não só de ajuda financeira como também apoio de pessoas proeminentes. Frequentemente eu vejo uma celebridade ou uma pessoa muito conhecida retornar a ligação de um veículo nacional e não me dar nenhum retorno. É óbvio que a mídia nacional é mais ampla, mas muitas vezes os veículos locais e de minorias já existiam antes da pessoa se tornar tão destacada. É frustrante que isso seja esquecido tão rapidamente.

Como o The St. Louis American mantém sua relevância perante os leitores?

Um desafio que a imprensa tradicional tem enfrentado é que a audiência típica, leitores com escolaridade de renda média e alta, está encolhendo enquanto pessoas jovens e negras procuram notícias em outros lugares. Para a imprensa negra, nossa estrela guia sempre foi servir intensamente comunidades negras, de um modo tão granular que não é factível para a imprensa tradicional. Nós divulgamos vagas de emprego, premiações e outros acontecimentos muito importantes para as pessoas, mas aparentemente com menos valor notícia para uma audiência mais ampla. E a audiência do The St. Louis American permanece intensamente leal.

Dito isso, segue sendo uma luta para quase todo veículo jornalístico continuar funcionando. Abrimos mão de algumas vagas e cortamos os extras, mesmo o jornal ainda oferecendo bolsas.

Assim como para a maioria dos veículos, o digital é muito importante para o nosso futuro. Estamos observando atentamente para ver quem aparece com uma estratégia digital que pode mudar o rumo das coisas.


Este artigo foi originalmente publicado pelo programa PEN Across America e republicado pela IJNet com permissão.

Foto cedida pelo programa PEN Across America.