Jornalista premiada do Paquistão conta como luta pela verdade

por Samantha Berkhead
Oct 30, 2018 em Temas especializados

De Karachi, no Paquistão, Sharmeen Obaid-Chinoy abordou com coragem os abusos enfrentados pelas mulheres e crianças de seu país com seus documentários nos últimos 16 anos. Seu trabalho resultou em dois Oscars, seis Emmys e mudanças legislativas significativas no Paquistão.

Após a divulgação de seu documentário de 2012 "Saving Face", que se concentrou em ataques de ácido contra mulheres, a província mais populosa do Paquistão começou a processar esses casos por tribunais antiterroristas, garantindo uma justiça mais rápida para as vítimas. Seu filme de 2015, "A Girl in the River: The Price of Forgiveness", explorou a tentativa de "homicídio de honra" de uma jovem que se casou com um homem sem a permissão de sua família. O filme chamou a atenção para uma falha da legislação que permitia que esses assassinatos ficassem impunes. O parlamento do Paquistão aprovou uma lei para criminalizar homicídios de honra após o lançamento do filme.

Mas, à medida que sua aclamação global cresceu, Sharmeen enfrentou uma oposição cada vez mais hostil no Paquistão, com ameaças de violência física e campanhas de assédio online regulares.

"Quando 'Saving Face' ganhou um Oscar, as pessoas começaram a me difamar e difamar meu trabalho, porque de repente eu me tornei importante e minha voz tinha sido ampliada demais", disse ela. "Foi quando comecei a perceber que existem forças sérias no Paquistão que não querem que as mulheres tenham voz."

Sharmeen enfrentou desafios em toda a carreira, que começou quando ela era adolescente. Aos 17 anos, publicou uma matéria investigativa que resultou na vandalização da sua casa. O apoio de sua família a motivou a continuar.

"[Meu pai] me disse algo que sempre ficou comigo, que é 'Se você falar a verdade, eu ficarei do seu lado e o mundo também'", disse ela. "Isso me fez sentir que eu poderia fazer qualquer coisa e poderia dizer qualquer coisa que alguém sempre estaria do meu lado."

Antes de aceitar o Prêmio Knight de Jornalismo Internacional 2017, Sharmeen conversou com a IJNet sobre dar voz aos oprimidos e gerar mudança na sociedade em um clima de mídia desafiador:

IJNet: O que o prêmio Knight de jornalismo significa para você?

Sharmeen Obaid-Chinoy: Ganhar este prêmio é muito importante porque é sobre meu conjunto de trabalho, não apenas um filme. A maioria das pessoas conhece meus prêmios do Oscar, mas sou jornalista desde os 14 ano. É incrivel pensar em quando fui treinada por Arnold Zeitlin [ex-bolsista Knight do ICFJ] anos atrás e ganhar o Prêmio Knight agora.

Muitos de seus filmes contam as histórias de pessoas que sobreviveram a violência e atrocidades. É sempre desafiador entrevistá-los?

É muito difícil entrevistar pessoas que sofreram com coisas indescritíveis e saber que você pode voltar para sua vida, e eles continuarão a viver dessa maneira. Você também deve encontrar inspiração no fato de que, apesar de tudo o que lhes aconteceu, eles continuam suas vidas e acham a coragem de prosseguir. Então, se eles conseguem continuar, você deve ter a coragem de documentar essa história.

Você está muito envolvida na orientação de jovens jornalistas e cineastas no Paquistão. Que conselho daria aos jornalistas que estão apenas começando?

Minha dica número um para entrar no jornalismo ou fazer uma marca no jornalismo é encontrar aquela história a qual você sabe que terá acesso, onde sabe que vai levar um pouco de tempo para fazer a investigação ou chegar à resposta, mas vai continuar nela. Às vezes, a história mais óbvia que não está sendo contada pode ser a história mais difícil de contar. Penso que hoje, muitas pessoas sentem que precisam encontrar uma grande história para contar. Você precisa encontrar a história certa para você -- e essa história pode se tornar uma grande história.

O que a motiva a continuar trabalhando apesar dos desafios e ameaças que enfrenta?

Tenho a sorte de trabalhar com algumas pessoas incríveis no Paquistão que estão arriscando suas vidas todos os dias para um futuro melhor. São homens e mulheres cujos nomes e trabalhos não fazem parte das notícias principais, que sabem que estão se colocando em perigo, mas continuam a fazê-lo -- e é por isso que continuo a fazer o meu trabalho. Sou inspirada pela bravura deles diante da adversidade; e me inspiro por sua visão para o país.

Quando eu era criança, sempre falávamos sobre o fundador do Paquistão, Muhammad Ali Jinnah, e sua visão para o Paquistão e o que ele queria para as mulheres no Paquistão. Ele imaginou um país progressista onde homens e mulheres têm direitos iguais. Esse é o Paquistão que eu quero deixar para trás para os meus filhos.

Esta entrevista foi resumida e editada por motivos de clareza.

Imagens cortesia de Sharmeen Obaid-Chinoy