Jornalista do mês: Sally Hayden

por Samantha Berkhead
Oct 30, 2018 em Jornalista do mês

Proveniente da Irlanda, Sally Hayden trabalhou como jornalista nos cinco continentes, fazendo reportagens sobre a insurgência islâmica na Nigéria rural, a crise da migração na França e outras matérias desafiadoras.

Trabalhando principalmente para o site VICE e a Fundação Thomson Reuters, Hayden já contribuiu para a CNN Internacional, Financial Times, Sunday Times,  BBC, TIME, RTE e outros.

Agora com base em Londres, Hayden é professora visitante na London College of Communication, instrutora da BBC Academy e mentora do Refugee Journalism Project. Mais recentemente, ela foi selecionada para o prêmio New Voice da One World Media em março, que reconhece jovens jornalistas que fazem contribuições substanciais ao jornalismo internacional.

Ela falou com a IJNet sobre enfrentar algumas das mais desafiadoras editorias do mundo, comunicando-se com pessoas de culturas diferentes e mais:

IJNet: O que a levou a ser jornalista?

Hayden: Eu escrevia artigos para meu jornal estudantil. Eu trabalhava para a seção de música e entrevistava bandas e celebridades como Kasabian, Rizzle Kicks e Bill Bailey.

Eu também fiz um estágio no Santa Barbara Independent e na BBC antes de ganhar o Prêmio de Mídia Simon Cumbers que me permitiu viajar para o Maláui para escrever sobre igualdade de gênero para o Irish Times. ...Foram experiências formativas, mas a viagem ao Maláui foi a mais intensa. Enquanto eu estava lá, um grande escândalo de corrupção foi exposto. Foi um treinamento tanto para testemunhar grandes notícias de última hora como para ser rejeitada por editores que disseram que mesmo que essa fosse a maior notícia em um país de 16 milhões de pessoas, era muito nicho para eles encomendarem [a reportagem].

Já enfrentou uma barreira de idioma quando estava no exterior? Como superou isso?

Sim. Eu acho que é importante ter um tradutor que você confia, que não tem sua própria agenda e que coloca o entrevistado à vontade. Mesmo se você fala línguas diferentes, pode encontrar uma maneira de fazer um entrevistado se sentir bem com você, fazendo uma piada ou tomando chá ou café juntos. Fontes com inglês limitado geralmente me enviam fotos e emojis no WhatsApp ou escrevem coisas no Google Translate: há muitas maneiras de se comunicar com a tecnologia moderna.

Qual foi a matéria mais desafiadora que você cobriu até agora?

Acho que houve duas: a migração através de Calais e a crise humanitária no nordeste da Nigéria.

Estive em Calais, França, cerca de uma dúzia de vezes desde 2015, reportando sobre a migração por lá. Durante esse tempo, participei de dois memoriais para adolescentes que foram mortos tentando chegar ao Reino Unido e conversei com inúmeros outros dormindo em condições ruins ou confiando suas vidas em traficantes muitas vezes brutos que os ameaçavam com armas ou tentavam encorajá-los ao crime. Ainda recebo chamadas regulares de refugiados em Calais à procura de ajuda, e é muito difícil saber como aconselhá-los.

A outra matéria que achei desafiadora foi reportar sobre a Nigéria e a devastação causada pelo Boko Haram. Apesar de terem sido o grupo terrorista mais letal do mundo em 2014, eles dão muito menos manchetes do que o ISIS, por exemplo. Reportando do estado de Adamawa e Borno em 2016, eu descobri que mais de 10.000 crianças desapareceram desde 2009, contudo o foco global é somente nas meninas desaparecidas de Chibok. Mais de 2 milhões de pessoas foram deslocadas, e tentar transmitir a escala disso a um público ocidental é muito difícil. O outro problema é que o público não se importa. É frustrante quando os leitores acusam a mídia de ignorar essas crises, mas depois não leem as matérias que produzimos sobre elas.

Você usou a IJNet para achar a Bolsa IACC de Jornalistas Jovens no ano passado. O que tirou dessa experiência?

Recebi uma Bolsa de Jornalistas Jovens para cobrir a Conferência Internacional Anti-Corrupção no Panamá em dezembro passado. A experiência foi incrível. Os organizadores reuniram um grupo de enorme diversidade e experiência com jovens jornalistas de todo o mundo. Eu fiz muitos amigos e conheci colegas com quem posso fazer parceria para futuras matérias.

Além disso, tivemos a oportunidade de solicitar uma subvenção ao Journalists for Transparency, com a orientação do 100Reporters. Seis de nós estamos realizando uma investigação sobre a migração em três continentes, o que é emocionante.

Tem planos para o futuro?

Espero continuar a fazer reportagens... Estou interessada em encontrar novas maneiras de contar histórias e gostaria de melhorar minhas habilidades de filmagem e edição. Fora isso, vamos ver o que acontece.

Esta entrevista foi resumida e editada por clareza.

Imagens cortesia de Sally Hayden