A carreira de Paul Adepoju não seguiu um caminho típico. Ele é um cientista que virou jornalista e agora tem experiência em cobertura de saúde, tecnologia, desenvolvimento e mais.
Sua paixão por reportagens sobre ciências é o que o levou inicialmente ao jornalismo.
Nascido e criado na Nigéria, Adepoju descobriu seu interesse por ciências desde cedo. Quando chegou à faculdade, decidiu seguir a carreira de cientista. Mas ele reconheceu que, embora seus colegas cientistas lessem regularmente jornais e revistas, a reportagem de ciências que eles encontravam era fraca devido à falta de repórteres especializados na região.
“Quando os jornais queriam publicar sobre matérias sobre ciências, geralmente vinha de artigos do New York Times”, disse ele, observando que isso era feito em vez de usarem suas próprias reportagens baseadas em pesquisas.
Adepoju disse que poucos jornalistas trabalham em conjunto com profissionais da ciência, o que contribui para reportagens imprecisas. Ele foi para uma carreira no jornalismo para melhorar isso; por ser cientista e jornalista, ele se qualificou de maneira única para ajudar a preencher a lacuna que viu no setor.
Em um ponto de sua carreira, Adepoju cobriu sobre a crise do HIV na Nigéria. Com muitos veículos informando sobre o assunto, garantiu que sua reportagem estivesse profundamente enraizada na pesquisa. Ele trabalhou com programas de HIV que o expuseram aos complexos desafios e tabus que cercam a questão.
Adepoju construiu confiança em sua cobertura por meio de uma abordagem abrangente. “A confiança é muito importante”, disse ele. “As pessoas querem contar suas histórias, mas contar suas histórias para pessoas em quem confiam.”
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Em 2015, Adepoju se candidatou a uma oportunidade que descobriu na IJNet para ser freelance para o Quartz. Desde que foi selecionado, ele publicou matérias para o meio de notícias de negócios sobre doença falciforme, mídia social e influenciadores, cartões de débito virtuais e mais.
Ele vê a oportunidade no Quartz como um trampolim em sua carreira como jornalista freelance. Adepoju também publicou matérias freelance para a CNN, Nature Medicine e Devex, por exemplo.
Embora a ciência tenha inspirado a transição de Adepoju para o jornalismo, ele não quer se limitar aos tipos de histórias que conta. “Não acho que um jornalista tenha apenas uma ou duas editorias para cobrir”, disse ele. Por exemplo, hoje ele está interessado em cobrir as prisões de jovens que ocorrem na Nigéria — e suas implicações para a saúde mental — em meio a protestos generalizados contra a brutalidade policial, a falta de responsabilidade do governo e a crescente desigualdade.
Adepoju explica que há uma série de acontecimentos que levam seu país à ebulição. Ele espera explorar essas causas. Ele também está trabalhando em matérias sobre o desemprego como resultado da pandemia de COVID-19, além de outras reportagens relacionadas à saúde.
Adepoju conversou com a IJNet sobre reportagens científicas, COVID-19 e seus conselhos para jovens jornalistas.
O que você acha que precisa ser feito para que mais jornalistas estejam cobrindo questões relacionadas à ciência?
A motivação e, provavelmente, o incentivo vão longe. Mais importante, acho que precisamos parar de ver a ciência como uma seção separada — deve ser considerada a origem e o fundamento de tudo. Também é capaz de fornecer respostas confiáveis a muitas perguntas que não podemos responder.
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Como a COVID19 afetou suas reportagens?
A COVID-19 tem sido uma faca de dois gumes para mim. Eu queria escrever uma história sobre imigração e o objetivo era viajar para algumas partes da Nigéria e falar com as pessoas sobre isso [mas não pude].
Por outro lado, tem sido muito útil para mim [ter] muitas reuniões virtuais — até conferências e eventos, [porque] agora tudo está sendo feito online. Em vez de viajar da Nigéria ao Quênia, solicitar vistos, passar um tempo nos aeroportos e tentar fazer o check-in, podemos começar direto.
Você acha que há mais acesso às ferramentas agora que muitas coisas são virtuais?
Ninguém teria pensado em realizar reuniões do Zoom [antes], e todo mundo está fazendo isso agora. É muito mais fácil convencer as pessoas a se juntarem a você nas plataformas de tecnologia do que antes, e as plataformas de tecnologia tornam seu trabalho muito mais fácil. Posso fazer gravações dessas reuniões e obter muito mais conteúdo que poderia para edição de multimídia.
Que conselho você daria aos futuros jornalistas?
A primeira coisa é que você tem que amar o trabalho que tem. Amo muito. Porque se você ama tanto algo, você se dedicará a fazer certo.
Outro conselho que eu daria: ninguém deve desprezar trabalhos menores. Minha experiência anterior me mostrou que essa profissão de jornalista é como uma jornada e você está subindo as escadas. Sua posição atual o levará ao próximo nível.
[Finalmente], eu aconselharia a qualquer pessoa que queira fazer isso: você nunca deve comprometer a qualidade. Você deve entender os fatos corretamente e deve ser justo.
Naomi Ludlow é estagiária da IJNet.
Todas imagens cortesia de Paul Adepoju