Para a jornalista colombiana Fernanda Sánchez Jaramillo, destacar e expor os problemas da sociedade tem sido um esforço diário. Mas abordar temas desafiantes como a saúde mental e os impactos traumatizantes da violência sobre os colombianos não acontece sem seus desafios.
"Tornar-se uma jornalista mulher, feminista e independente em um país como a Colômbia não foi uma decisão simples", disse ela.
Recentemente, Fernanda completou uma bolsa do Centro Rosalynn Carter e participou do Caminho Digital para Empreendedorismo e Inovação para a América Latina do ICFJ -- duas oportunidades que ela descobriu na IJNet. Durante a bolsa do Centro Carter, ela reportou sobre o impacto da violência na saúde mental dos colombianos, particularmente violência sexual contra mulheres e deslocamento.
Após concluir a bolsa do ICFJ, Fernanda agora frequenta a faculdade de direito da Universidade Santo Tomás, em Bogotá, na Colômbia, e nas horas vagas faz freelance para agências de notícias colombianas e canadenses. Conversamos com ela sobre as bolsas, jornalismo na Colômbia e seu maior conselho para colegas jornalistas:
IJNet: Como você começou no jornalismo?
Fernanda: Me formei pela Universidade Sabana e o primeiro lugar onde trabalhei foi El Espectador. Foi uma honra fazer parte de um pequeno grupo de três estudantes, todos da minha universidade, que foi selecionado para o estágio. Para sermos selecionados, tivemos que passar por uma avaliação em três partes, incluindo uma entrevista. Voltei ao El Espectador alguns anos depois e me lembrei daqueles dias quando estava começando minha carreira.
Depois disso, trabalhei para El Tiempo, Editora Cinco e várias revistas impressas como Cambio e Credencial. Eu escrevi sete livros sobre mulheres para uma organização sem fins lucrativos há alguns anos, ocupei posições diferentes, incluindo coordenadora de comunicações em uma ONG, e continuo a fazer freelance. Agora, eu sou principalmente uma jornalista independente. Adoro porque produzo jornalismo lento e profundo.
Você achou a bolsa do Centro Carter e a bolsa do ICFJ para jornalistas latino-americanos na seção de oportunidades da IJNet. Que tipo de experiências e habilidades ganhou com essas bolsas?
A bolsa do Centro Carter foi uma experiência incrível, pois me permitiu combinar duas das minhas disciplinas acadêmicas -- meu trabalho de serviço social e jornalismo -- para escrever um livro contando as histórias de sobreviventes da violência na Colômbia. Isso me permitiu dedicar um ano da minha vida profissional a um assunto que me apaixona, e me lembrou do papel crítico que desempenhamos como jornalistas lutando contra o estigma, informando de maneira precisa e ética sobre questões de saúde mental. A bolsa do ICFJ, por outro lado, me deu a chance de ver como os jornalistas trabalham nos Estados Unidos. Gosto especialmente de ter conversas com jornalistas sobre o salário das mulheres, o papel que as mulheres desempenham no jornalismo e as oportunidades de liderança feminina nas redações nos EUA.
Conte-nos sobre a matéria mais desafiadora que você cobriu. Como trabalhou para superar esses desafios?
É difícil decidir depois de 20 anos de experiência, mas eu poderia dizer que as matérias sobre o impacto da violência sexual, tortura, minas terrestres e deslocamento foram as mais desafiadoras. Por quê? Foi realmente desafiador trabalhar sozinha em várias regiões da Colômbia, apenas com o meu telefone como gravador ao entrevistar esses sobreviventes. Também foi difícil para os homens expressarem sua dor e falarem sobre histórias que não tinham discutido com repórteres antes. Eu superei esses desafios usando as ferramentas que aprendi com meu treinamento de serviço social no Canadá. Esta outra educação me permitiu responder adequadamente quando havia uma crise e ficar calma depois de ouvir essas histórias de dor, mas também de resiliência.
Que conselho você daria a aspirantes a jornalistas ou estudantes de jornalismo, especialmente na Colômbia?
Eu recomendo muitíssimo que persigam a instrução profissional no jornalismo e continuem estudando e lendo sobre história, política e literatura. Acredito firmemente que os jornalistas devem ser leitores ávidos. Além disso, o pensamento ético e crítico é essencial para produzir um jornalismo aprofundado. É importante ver o jornalismo como um serviço social para o interesse público; encorajo os jornalistas mais jovens a construir pontes entre os setores da sociedade e contribuir para a construção da paz e a reconciliação através de um jornalismo crítico e ético com narrativas restauradoras.
Esta entrevista foi editada e condensada por maior clareza.
Imagem cortesia de Fernanda Sánchez Jaramillo