Se existe alguém que tem ideia sobre o que está acontecendo hoje com o jornalismo e a indústria de mídia, é o jornalista Ken Auletta.
Além de cobrir a mídia para o New Yorker desde 1992, Auletta já escreveu vários livros sobre o impacto da tecnologia no jornalismo, incluindo o bestseller “Googled: The end of the world as we know it.”
Nesta entrevista com a IJNet, Auletta pondera sobre a revolução digital, o jornal digital Huffington Post e por que ele não gasta tanto tempo quanto gostaria na mídia social.
IJNet: Quais são as mudanças mais prejudiciais para a indústria de mídia atualmente?
Ken Auletta: A revolução digital é quase tão pertubadora para a mídia tradicional como a eletricidade foi para a indústria das velas. Para os veículos de imprensa, elimina papel, impressão, e distribuição, que são a maioria dos custos dos jornais e revistas, e portanto deve ser acolhida.
O problema é duplo: não está claro que os leitores irão se inscrever online para obter informações que pensam poder obter de graça. E porque os leitores gastam muito menos tempo lendo a publicação online em comparação com a versão impressa, os anunciantes pagam cerca de um décimo para o anúncio online do que pagam para um mesmo anúncio no jornal impresso. E uma vez que a maioria das publicações não irá abandonar leitores que insistem na edição impressa, os custos permanecem elevados. Até o momento, a economia de ir online não corresponde à renda baixa gerada online...
IJNet: Você escreveu livros sobre empresas como Google e Microsoft e seu impacto na mídia. O que os jornalistas podem aprender com empresas de tecnologia?
KA: Entre as coisas mais vitais para aprender é a centralidade de engenheiros. Engenheiros são especialistas em eficiência, sempre perguntando: "Por que não podemos fazer isso dessa maneira?" As pessoas que administram empresas jornalísticas precisam de engenheiros ao seu lado porque os engenheiros são os nossos novos criadores de conteúdo. São os engenheiros que podem, por exemplo, desenvolver aplicativos bacanas em iPads para as nossas publicações ou ajudar a tornar as nossas matérias populares em redes sociais. Os jornalistas têm de dominar a multimídia digital, ser tão competentes em blogs, vídeos e criação de links como são na apuração e composição de matérias.
IJNet: Em "Googled", você escreveu que, no início da revolução digital, as antigas companhias de mídia estavam presas no "dilema do inovador" ao defender seus existentes modelos de negócio e não para mudar rápido o suficiente. Será esse ainda o caso?
KA: Será sempre o caso, e não é só porque as empresas antigas estão presas a seus hábitos. Veja o New York Times, que considero ser o melhor jornal do mundo. Em parte, é porque emprega uma espantosa equipe, 1.100 repórteres e editores. Mas, com os leitores buscando notícias no Google ou recorrendo a agregores como o Huffington Post para notícias gratuitas, o valor do Times está ameaçado. Assim, o Times se esforça para desenvolver uma edição online que oferece mais do que o que está no jornal diário e cobrar por ele, mas compete com o que é gratuito. O jornal pode cortar o orçamento da redação, mas será que vai produzir a mesma qualidade? Poderia tentar abandonar a edição impressa completamente, mas perderia os leitores que querem segurar o jornal em suas mãos e perderia receitas publicitárias. Esse é o "dilema do inovador". Novas empresas de mídia digital não têm custos tradicionais como fluxos de receita grande para proteger ou tradições admiradas para defender.
IJNet: Alguns jornalistas são muito ativos em redes sociais. (Nicholas Kristof do New York Times, que tem mais de 200 mil seguidores no Facebook, por exemplo), enquanto outros as usam com moderação. Você parece cair na última categoria. Por quê?
KA: Eu não encontro tempo suficiente no dia para ler livros e revistas, responder meus e-mails, ler todos os sites e releases de imprensa que me enviam diariamente, e navego na Internet para obter informações e conversar com amigos e familiares. Aplaudo como o Facebook e o Twitter enriqueceram a reportagem de Nick Kristof durante a Primavera Árabe e outros lugares. Tenho certeza que posso melhorar, mas me preocupo mais com o que sentiria falta. Parte da tarefa de alguém que escreve em formato longo para o New Yorker ou livros é tentar se distanciar e escapar da onda de notícias e opinião.