Jornalista de ciência dá dicas para cobertura de agricultura

por Jessica Weiss
Oct 30, 2018 em Temas especializados
Gado

A editoria de agricultura e alimentos é ampla e complexa, podendo ser difícil para qualquer jornalista abocanhar.

Repórteres de agricultura e alimentos cobrem tudo, desde doenças de origem alimentar a culturas geneticamente modificadas e agricultura urbana. Eles têm que entender de política, economia, ciência e questões transculturais.

A IJNet pediu conselhos para enfrentar este tema ao jornalista de ciência e repórter freelance Aleszu Bajak, bolsista 2013-2014 do Knight Science Journalism Fellowship no MIT. Bajak cobre agricultura e alimentos para o LatinAmericanScience.org, um recurso bilíngue espanhol/inglês de notícias de ciência, fundado por ele.

Em março, Bajak vai ajudar a treinar jornalistas em um Food Boot Camp de quatro dias, realizado pelo programa Knight Science Journalism Fellowship no MIT. Bajak conversou com a IJNet conversou sobre onde começar a procurar histórias sobre este editoria, que temas merecem maior cobertura e trabalhos que lhe inspiram.

IJNet: Na sua opinião, quais assuntos alimentares e agrícolas merecem mais cobertura de notícias?

AB: A maioria da cobertura de alimentos/agricultura tende a destacar a luta contra o OGM , os desafios de alimentar uma população global crescente, a promessa de avanços tecnológicos e científicos e, claro, o efeito das mudanças climáticas sobre os nossos sistemas alimentares. Outros temas que eu adoraria ver explorados em profundidade: o desmatamento em resposta a agricultura nos países em desenvolvimento; a perda global de área plantada: alimentos versus combustível; quem está arrendando as terras agrícolas da América Latina e o porquê; o estado dos aquíferos do planeta; petróleo, gás e mineração e seus efeitos sobre o sistema alimentar; a ameaça de pragas agrícolas (fungos, vírus, bactérias e outros) para a nossa oferta de alimentos cada vez mais homogêneos; o colapso mundial da pesca; a lista continua...

IJNet: Tem alguma dica para jornalistas começando a examinar essas questões?

AB: Encontre uma história local ou um componente local para um problema global. Comece conversando com os agricultores, produtores, intermediários, pesquisadores, estudiosos, cientistas e políticos. Envolva-se com as questões. Olhe para as histórias anteriores e tenha em mente os pontos fortes e fracos dessas matérias. Olhe para vídeo, podcasts, artigos de opinião, estudos científicos; há muito lá fora. Quanto mais informado você for, mais suas fontes vão confiar em você. Suje as mãos. Vá para fazenda ou laboratório ou conferência ou docas. Observe os detalhes. Fale com os trabalhadores e seus supervisores. Tome muitas notas.

E mantenha uma mente cética e aberta sobre tudo que lê e todos com quem conversar. As pessoas têm suas prioridades e a sua é a verdade. Seja agradável. Não demonize pessoas.

IJNet: Pode compartilhar alguns exemplos notáveis de jornalistas que cobrem alimentos ou reportagens de destaque

AB: Tom Philpott compreende nosso sistema alimentar por dentro e por fora e explica muito bem --mesmo quando tem que ser conciso em seu blog no MotherJones. Sigo os artigos de Erik Vance do México: ele escreve sobre tudo, de mudança climática a drogas a pesca. Seu artigo sobre o futuro da pesca global é ótimo.

O blog de alimentos da NPR, “The Salt”, geralmente mostra uma informação boa além das reportagens em voga sobre tendências "foodie". Greenwire é um recurso fantástico para a reportagem das últimas notícias do meio ambiente a partir dos Estados Unidos e além. YaleE360 é ótimo para indicar reportagens importantes e novos estudos. Nature News faz boas reportagens de investigação e a Science mag também. Modern Farmer fez grandes reportagens recentemente, também. Eu também recomendo olhar para o trabalho de Maryn McKenna sobre a resistência aos antibióticos na revista WIRED.

Uma história interessante foi a cobertura que saiu sobre a quinoa na Bolívia e no Peru. Havia muita cobertura diferente --criticando os foodies, gerando fome entre os bolivianos; correlacionando a demanda pela quinoa com a autocapacitação de mulheres andinas, etc. O ponto principal parece melhor resumido pela AP: a questão é muito mais complicada e a matéria iluminou como a reportagem no campo foi fundamental. (Nota: Meu pai [Frank Bajak, chefe de notícias andinas do Associated Press Chefe] trabalhou nessa matéria.)

IJNet : Qual é a importância desta questão?

AB: É claramente importante e tem sido sempre importante. Eu estou fascinado com a quantidade de interesse que tem gerado recentemente. Mas há muita desinformação por aí. A internet deu voz a todos. O jornalismo precisa se destacar como um farol em meio a névoa de boatos e opiniões.


Jessica Weiss é uma jornalista freelancer com base em Buenos Aires.

Imagem cortesia de Jessica Weiss