Jornalista da New Yorker conta como escrever uma reportagem sensacional

por James Breiner
Oct 30, 2018 em Diversos

O correspondente da revista New Yorker na China, Evan Osnos, é tão bom contador de histórias em pessoa como no papel.

Em uma apresentação, ele chamou tanto a atenção dos estudantes de jornalismo da Universidade Tsinghua University que eles pararam de ler suas mensagens texto.

Durante a palestra, Osnos compartilhou alguns segredos sobre como escrever para a New Yorker, uma publicação conhecida por seus perfis, tanto de famosos como de desconhecidos.

O melhor texto, ele insistiu, começa com a pesquisa e coleta de fatos e dados e flui através dos detalhes contidos nos documentos judiciais, arquivos de mídia dissertações acadêmicas e registros públicos esquecidos.

Em outras palavras, a escrita elegante está intimamente ligada a uma boa reportagem.

Interessar os não interessados

Para publicar alguma coisa no New Yorker, o repórter deve se esforçar além do normal, Osnos disse. O padrão é que o artigo faça com que uma pessoa que não tenha interesse nenhum num tema leia cada palavra até final.

Sua matéria "The god of gamblers" (O Deus dos jogadores) começou com a consulta de um editor: Macau interessa a você? Neste caso, e por acaso, sim, Osnos respondeu.

Ele tinha recolhido alguns cortes em um arquivo de matérias em potencial e tinha lido um pouco sobre o assunto. Estava particularmente interessado na história de um barbeiro, Siu Yun Ping, suspeito de fraude no jogo por ter ganhado US$100 milhões e alvo de uma tentativa de assassinato por parte de um funcionário de um casino. Osnos achou que esta poderia ser a âncora de sua reportagem.

Finalmente organizou sua pesquisa e texto com base em uma série de elementos:

 - Como em apenas meia dúzia de anos, Macau se tornou cinco vezes maior do que Las Vegas em termos de receitas de jogo?

 - Por que Macau existe como um apêndice da China e como se encaixa na história, política e economia do país?

 - O papel de Macau como um centro de lavagem de dinheiro para aqueles que desejam transferir sua riqueza para fora da China.

 - A ciência do jogo e por que os chineses tendem a assumir maiores riscos financeiros do que, digamos, os americanos.

 - E, finalmente, a própria narrativa. Quem era essa pessoa que fez centenas de milhares de dólares no baccarat e como ele conseguiu sobreviver a tentativas de assassinatos da máfia?

Os mafiosos não concedem entrevistas

Um dos desafios em escrever a história foi encontrar pessoas para falarem sobre como a atividade criminosa funciona. "Você não pode ligar para um membro da máfia e fazer com que fale com você". No entanto, neste caso, houve um registro do testemunho de vários acusados na tentativa de homicídio de Siu.

Osnos também encontrou uma tese que citou uma pesquisa com funcionários acusados ​​de corrupção em que descreveram como o sistema funcionava. Havia uma rede de conexões em que todos participavam e mantinham silêncio em troca de subornos.

E, finalmente, Osnos teve que entrevistar Siu, o próprio jogador. "Para um perfil na New Yorker, você tem que começar com o sujeito". O perfil não vale a pena sem que o sujeito principal. Mas ninguém parecia saber onde encontrá-lo.

Dica de outro repórter

No final, um repórter de televisão alertou a Osnos sobre uma notícia que mencionava que Siu estava construindo algumas casas em um subúrbio de Hong Kong. Mas Siu evitava telefonemas, não queria falar. Finalmente, Osnos encontrou o jogador cara a cara num local da construção e o convenceu a ser entrevistado.

"Tem que ir além das barreiras" em busca de informações, Osnos disse aos estudantes. "Você tem que ser criativo e persistente". Isto é especialmente verdadeiro na China, onde os empresários são relutantes em falar com a imprensa.

Uma dica de Osnos: sempre tenha um sorriso ingênuo. As pessoas acharão que você é menos ameaçador e serão mais propensas a lhe contar as coisas.

Este artigo foi publicado originalmente em espanhol no blog Periodismo Emprendedor en Iberoamérica e traduzido ao português pela IJNet com autorização de seu autor.

James Breiner é codiretor do Global Business Journalism Program na Universidade Tsinghua e ex-bolsista do programa Knight International Journalism Fellow, tendo lançado e dirigido o Centro de Periodismo Digital na Universidade de Guadalajara. Ele é bilíngue em espanhol e inglês e consultor em jornalismo online e liderança. Siga-o no Twitter.

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