Faz tempo que eu e colegas aqui na Universidade de Navarra estamos buscando modelos de jornalismo de alta qualidade que sejam sustentáveis. E descobrimos que muitas das melhores organizações de notícias que estão prosperando estão fazendo jornalismo investigativo.
Os leitores gostam desse tipo de jornalismo, que responsabiliza os poderosos por suas ações e os torna responsáveis por servir o público, e não a si mesmo.
Em um artigo de 2016, duas importantes organizações globais de jornalismo investigativo argumentaram que o jornalismo investigativo realmente tem um ótimo retorno sobre o investimento (ROI).
"Ao longo dos anos [o Projeto de Reportagem sobre Corrupção e Crime Organizado (OCCRP, em inglês)] aceitou US$5 milhões em financiamento dos EUA e outros governos. O retorno desse financiamento? Com US$2,8 bilhões recuperados em multas e bens apreendidos por vários governos, o retorno é de 560 vezes)."
Os autores desse artigo foram David E. Kaplan, diretor executivo da Global Investigative Journalism Network, e Drew Sullivan, um dos fundadores do OCCRP.
O OCCRP representa um novo modelo de jornalismo de qualidade na era digital: o jornalismo investigativo colaborativo que distribui os custos e distribui os riscos entre muitos jornalistas e organizações de notícias.
O OCCRP foi lançado em 2006 por Paul Radu na Romênia e Sullivan na Bósnia-Herzegovina com foco em expor a corrupção na Europa Central e Oriental. “Como a polícia não atravessa fronteiras, o jornalismo é o único inimigo global natural da corrupção”, diz o site do grupo.
Impacto
O relatório anual da organização é repleto de exemplos de impacto de histórias específicas e oferece este resumo de informações do trabalho de seus membros:
- Mais de 20 grandes demissões, incluindo um presidente, um primeiro-ministro e CEOs de grandes corporações internacionais.
- Quase US$5 bilhões [com um B] em ativos congelados ou confiscados pelos governos.
- 1,400 fechamentos de empresas, acusações e decisões judiciais.
- 100 investigações criminais e inquéritos do governo lançados como resultado de suas investigações.
Mídia corporativa corta equipe de investigação
A investigação “Russian Laundromat” do OCCRP expôs “um imenso esquema de fraude financeira” que permitiu a oligarcas e empresários russos movimentarem US$20 bilhões em fundos ilícitos da Rússia para bancos europeus e ocidentais.
No entanto, o jornalismo investigativo leva tempo e dinheiro, e muitas vezes é a primeira vítima de cortes orçamentários nas redações que viram suas receitas de publicidade despencarem nos últimos anos. Além de ser cara, a reportagem investigativa é arriscada. Expõe a corrupção, que muitas vezes resulta em tentativas dos poderosos para silenciar os jornalistas e suas organizações, chegando ao ponto de violência e assassinato.
Organizações de jornalismo investigativo como o OCCRP distribuem o custo e o risco. Um exposé como o Panama Papers --em que o OCCRP era um ator importante-- foi publicado simultaneamente em dezenas de países diferentes, fazendo com que a mídia não possa ser suprimida ou ignorada.
Comunidade de jornalismo investigativo cresce
Kaplan me disse em um e-mail que, em geral, o desenvolvimento da mídia representa apenas uma pequena fração do financiamento da assistência internacional: apenas 0,3% da assistência oficial ao desenvolvimento de 2010 a 2015 (cerca de US$500 milhões por ano de todos os doadores).
No entanto, o apoio ao jornalismo investigativo cresceu.
"O OCCRP passou de US$500 mil para US$7 milhões. O ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, que organizou a investigação do Panama Papers) saltou de US$1,6 milhão para US$7 milhões. A própria GIJN cresceu de US$30 mil em fundos iniciais para US$1,7 milhão hoje, e seus membros triplicaram nos últimos sete anos para 177 membros em 76 países", disse Kaplan.
Kaplan estima que a ajuda ao jornalismo investigativo pelo menos triplicou nos últimos 5 a 6 anos. "Atribuo isso a vários fatores nos últimos anos: o Panama Papers, o filme Spotlight [a investigação dos padres pedófilos realizada pelo Boston Globe], Brexit, Trumpism, o ataque de desinformação online", disse ele, "bem como o convincente argumento que a GIJN e seus membros fizeram para o financiamento [de jornalismo investigativo] por causa do ROI extraordinário que tem (através de multas, impostos recuperados, apreensões, etc)."
Relativamente falando, o jornalismo investigativo ainda recebe uma pequena parcela da ajuda internacional, mas os consumidores de mídia em todo o mundo têm mostrado uma tendência para pagar pelo jornalismo de prestação de contas de alta qualidade. Mencionei em um post anterior exemplos, como eldiario.es na Espanha e Mediapart na França, que mostram que as pessoas estão dispostas a pagar pela verdade.
Este post apareceu originalmente no blog News Entrepreneurs de James Breiner e é republicado na IJNet com permissão.
James Breiner é o ex-bolsista Knight do ICFJ que lançou e dirigiu o Centro para o Jornalismo Digital da Universidade de Guadalajara. Visite seus sites News Entrepreneurs e Periodismo Emprendedor en Iberoamérica.
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