Jornalismo em meio ao declínio da liberdade de imprensa

May 5, 2022 em Liberdade de imprensa
World Press Freedom Day

Ameaças contra a mídia independente estão crescendo no mundo todo. Da falta de apoio a jornalistas em ambientes hostis ao crescimento da censura governamental e opressão de repórteres, há muitas razões para ser pessimista com a situação da liberdade de imprensa.

No entanto, nós podemos aprender com jornalistas que trabalham com presteza para combater essas tendências, disse Aliza Applebaum, diretora de programas do ICFJ, durante um webinar realizado recentemente pelo Fórum de Reportagem de Crises Globais do ICFJ em parceria com o Voice of America (VOA).

Applebaum se juntou a Sirwan Kajjo, repórter de liberdade de imprensa do VOA que cobre atualmente a Ucrânia e a Rússia; Samiullah Mahdi, diretor de programas do ICFJ e vencedor do Prêmio ICFJ Knight International Journalism, do Afeganistão; e Salem Solomon, editora do VOA News Center, que já cobriu questões de liberdade de imprensa na África.

"Na maioria dos países em conflito, a primeira vítima é a verdade", disse Solomon. 

 

Confira a seguir alguns dos pontos principais do evento:

O estado da liberdade de imprensa

A liberdade de imprensa diminuiu no mundo todo, colocando pressão tanto nos jornalistas quanto na audiência, que tem dificuldades para ter acesso a informação factual e de credibilidade em seus países.

"A hostilidade em relação à mídia é maior do que se viu na história recente. A mídia está sendo descreditada nacional e internacionalmente", disse Solomon, destacando especificamente a repressão à mídia na Etiópia durante o conflito atual na província de Tigré. 

No mundo todo, o acesso à internet foi restringido, governos forçaram organizações jornalísticas a encerrarem atividades e jornalistas enfrentam ameaças, prisões e até morte por desafiar os poderosos e responsabilizar os violadores de direitos humanos. No Afeganistão, ameaças levaram os poucos jornalistas que ainda trabalham em campo a se autocensurarem por medo de represálias do Talibã, de acordo com Mahdi.

"O aspecto midiático de [governos hostis] é amplificar a propaganda política; e o poder da propaganda política em um ambiente sem jornalismo independente é muito perigoso", disse Solomon. 

O papel da comunidade internacional

Ao proteger jornalistas locais e pressionar governos para reverter leis que perseguem profissionais de mídia, a comunidade internacional pode desempenhar um papel crucial na promoção da liberdade de imprensa em situações perigosas.

"A comunidade internacional tem influência para [promover] a liberdade de expressão", disse Mahdi, lamentando, contudo, que "ela não tem sido usada."

Jornalistas em campo também enfrentam ameaças em meio a conflitos. Eles frequentemente têm que escolher entre fugir para o exílio ou enfrentar punição se ficarem quietos. Quando a Rússia começou sua invasão em larga escala da Ucrânia em fevereiro, jornalistas em ambos os países estavam entre os primeiros alvos do governo russo, que tentou conter reportagem factual sobre os impactos da guerra e alegações de atrocidades. A situação foi similar na intervenção da Rússia na Guerra Civil Síria, disse Kajjo, destacando como os jornalistas sírios estão aconselhando colegas na Ucrânia sobre como cobrir o conflito.

Kajjo também observou a importância de apoiar a cobertura local da invasão russa. "As novas iniciativas que grupos de mídia e organizações internacionais estão realizando seriam mais efetivas se fossem criadas de um jeito que pudessem apoiar veículos de mídia locais", disse, citando a amplificação de vozes da população rural durante a Guerra Civil Síria, que pode ser replicada na Ucrânia. 

Aprendendo com jornalistas

Cada vez mais os governos estão lutando pelo controle de narrativas, e frequentemente saem bem-sucedidos. "Há uma carência de letramento de mídia em muitas partes da [África] e esse ambiente é explorado", disse Solomon. Apesar disso, jornalistas no mundo todo têm colaborado e encontraram maneiras de contornar a censura para entregar matérias relevantes para os leitores.

Jornalistas exilados têm desempenhando um papel essencial nas colaborações com jornalistas que ficaram para trás, por exemplo. A vantagem de ter uma rede em campo e habilidades linguísticas permitiu que repórteres do Afeganistão, Ucrânia e Etiópia, dentre outros, cobrissem de forma independente e efetiva problemas críticos em seus países de origem mesmo estando no exterior, de acordo com o painel.

Muitos jornalistas também aprenderam a usar tecnologias a seu favor para verificar dados e amplificar ainda mais suas matérias, disse Solomon. O jornalismo cidadão é outra ferramenta usada em campo, acrescentou Applebaum. "Essas redes informais estão dando certo e seria interessante ver como esses ecossistemas evoluem."


Foto por Hatice Yardım no Unsplash