Houve uma época em que os editores de jornais realmente não acreditavam em jornalismo de soluções, um tipo de jornalismo que escolhe cobrir respostas eficazes e bem sucedidas para problemas sociais atuais em vez de notícias sobres fracassos e tragédias. Eles pensavam que os leitores não estariam interessados.
Mas em 2008, o Libération, um importante jornal francês, concordou em deixar Christian de Boisredon experimentar com esse formato. Christian teve a oportunidade de conduzir uma edição especial sobre soluções de problemas em 26 de dezembro -- tradicionalmente o pior dia de vendas de jornais. Jornalistas do Libération se recusaram a participar da iniciativa, então Christian pediu a alguns freelancers para escreverem para o projeto.
O resultado foi a edição mais vendida do ano.
"Os jornalistas do Libération esperavam temas superficiais e ingênuos", disse Christian. No entanto, ele conseguiu convencer um jornal tradicional e poderoso que o jornalismo de soluções era uma nova abordagem que não poderiam e não deveriam ignorar.
Quatro anos mais tarde, Christian criou Sparknews, uma startup social que visa promover jornalismo de soluções dentro de meios de comunicação tradicionais. A cada ano, realiza um dia especial chamado "Impact Journalism Day" -- o evento deste ano foi em 25 de junho. Para a ocasião, 55 meios de comunicação em mais de 50 países -- do USA Today ao El Pais na Espanha -- publicaram várias matérias internacionais projetadas para focar em soluções para os problemas sociais de hoje.
Christian não é o único convencido dos efeitos do jornalismo de soluções. Calum Macdonald, ex-editor digital do Herald Times Group, um grande grupo de mídia britânico, decidiu dar um passo além e começar um novo canal baseado em jornalismo de soluções. Assim nasceu o site Positively Scottish.
De acordo com Calum, Positively Scottish quer "encontrar e contar histórias que, receio, estão sendo perdidas enquanto nossa mídia tradicional se retrai rapidamente."
A matéria do site sobre o abuso de uma jovem LGBT e sua parceira em um trem na Escócia exemplifica sua abordagem diferente. O Positively Scottish decidiu cobrir as consequências do abuso e como a mulher decidiu criar um evento de orgulho para celebrar a igualdade.
"Sem querer soar messiânico, [quero] trazer um pouco mais de positividade para a superfície", Calum disse à IJNet. "Sim, há problemas reais lá fora, mas há também soluções eficazes supreendentes."
Fazendo a mídia tradicional seguir
O jornalismo de soluções está ganhando força em todo o mundo, mas ainda é um desafio convencer jornalistas que trabalham em meios de comunicação tradicionais a aceitar esta nova abordagem.
Christian contou sobre o jornal El Watan da Argélia. No primeiro ano que participaram do Impact Journalism Day, editores tiveram problemas para encontrar jornalistas dispostos a escrever um artigo adicional sobre soluções. Mas no segundo ano, todos eles queriam escrever um artigo porque acharam a iniciativa incrível, disse Christian. Eles ainda tiveram que ter um concurso informal na redação para escolher a pessoa que iria escrever o artigo.
Jornalismo de soluções não trata apenas de propor respostas, mas também de se aprofundar nos problemas.
"Essas matérias não são boas notícias e histórias para fazer você 'se sentir bem'", explicou Christian. Ele concordou que podem fazer os leitores se sentirem melhor, mas que não é por isso que são escritas. O jornalismo de soluções não é uma abordagem mais superficial ao jornalismo, disse ele.
"Pare e pense, e não descarte o jornalismo de soluções como algo 'fofo' e não jornalismo 'real'", sugeriu Calum.
Uma resposta para os problemas da mídia?
Jornalismo de soluções seja talvez em si mesmo uma solução para os inúmeros problemas que o mundo da mídia enfrenta.
Nos últimos seis anos, Sparknews reuniu e discutiu com editores de diferentes meios de comunicação sobre o impacto das matérias de jornalismo de soluções. O jornal suíço Tages Anzeiger recebeu feedback positivo de leitores. Seus editores estão agora se perguntando se o jornalismo de soluções poderia ser a chave para aumentar sua audiência. O Asahi Shimbun, um dos principais jornais japoneses, notou um aumento de jovens leitores no Impact Journalism Day. Outros meios de comunicação observaram que anúncios podem ser vendidos por valores até cinco vezes maiores. Agências de publicidade preferem ver os seus produtos junto a artigos propondo soluções para a sociedade, em vez de focando exclusivamente em problemas.
Com leitores e audiência das notícias tradicionais em declínio em todos os lugares, Calum está em dúvida sobre o futuro -- mas disse que não vai fazer mal buscar o jornalismo de soluções como uma tática de sobrevivência.
"Podemos realmente dizer que a forma tradicional ainda está funcionando quando a indústria está indo tão mal em todo o mundo?", disse ele. "Talvez valha a pena tentar uma alternativa."
Imagem principal sob licença CC no Flickr via Evgeniy Isaev. Imagem secundária cortesia do Libération.