Nos dias e semanas seguintes aos ataques terroristas de novembro em Paris, os veículos de notícias tentaram duramente compreender as pessoas por trás da violência brutal. Foi uma tarefa gigantesca: os atacantes vieram da França e Bélgica; alguns se encontraram na Síria. Outros se envolveram em ataques anteriores.
Repórteres do jornal francês Le Parisien nunca tiveram que lidar com a visualização de tal rede de terroristas. Apesar de inicialmente terem usado um widget do tipo "apontar e clicar" para mostrar todos os atacantes em uma única página, o programa começou a parecer confuso e caótico. Nas semanas que se seguiram, quando a teia de suspeitos jihadistas cresceu ainda mais, a visualização tornou-se ainda maior e mais complexa (foto abaixo).
Então, em março, uma equipe de jornalistas, jornalistas de dados e tecnólogos se reuniu para debater um nível melhor para visualizar os atacantes e seu envolvimento. Após três semanas de codificação, eles lançaram La Galaxie Djihadiste (A Galáxia Jihadista) em abril, um banco de dados visual de suspeitos jihadistas dos ataques terroristas na Europa desde 2012. Cada suspeito tem um perfil e cada ataque terrorista apresenta o perfil das pessoas envolvidas e suas conexões. Até agora, tem sido muito bem recebido pelos leitores.
"Às vezes, você gasta muito tempo tentando fazer algo bonito nas redações, mas pouca gente usa", diz Stanislas de Livonnière, que trabalha em dados e inovação no Le Parisien. "Fizemos algo prático. Funciona, faz sentido e as pessoas estão passando tempo nisso."
Nos últimos anos, jornalistas franceses estão adaptando a sua reportagem à natureza em mudança e complexidade dos ataques terroristas na Europa e em outros lugares. Em 2012, quando o autodenominado jihadista Mohammed Merah matou sete pessoas no sul da França, ele foi caracterizado como um lobo solitário. Essa história, de certa forma, foi simples de reportar.
Mas Tanguy de l'Espinay do Le Parisien Tanguy diz que os ataques de Paris em janeiro e novembro de 2015 e o ataque de Bruxelas em março mostraram o contrário - que protagonistas do jihadismo estão cada vez mais ligados, trabalhando em conjunto em células e grupos. Ainda mais perturbador, muitos dos jihadistas envolvidos eram conhecidos pelas autoridades. Todas essas conexões complexas têm sido um desafio tanto para a aplicação da lei como para os meios de comunicação explicarem.
"É realmente novo para nós na França ter esses grandes ataques com muitos suspeitos", l'Espinay diz. "Você tem diferentes grupos, eventos e homens e investigações crescendo mais e mais, com mais nomes e mais ligações entre eles. As pessoas querem entender. "
Com dados sobre cerca de 100 jihadistas e eventos relevantes, Livonnière, l'Espinay e uma pequena equipe de jornalistas e programadores se reuniram em março com uma planilha enorme organizada em uma série de categorias -- estado atual dos atacantes, o envolvimento, etc. -- e começaram a criar uma nova forma de visualizar a história.
"Parece que é uma rede social", diz Livonnière. "As pessoas com perfis não podem usá-los, mas em termos de interface do usuário, a ideia de rede social é muito relevante."
Na verdade, o Galaxy mostra que muitos terroristas envolvidos têm múltiplas conexões que se sobrepõem e que os combatentes ISIS de língua francesa da França e da Bélgica tendem a lutar juntos. Por exemplo, o belga-marroquino Abdelhamid Abaaoud, o suspeito de organizar os ataques do ISIS em Paris, está ligado ao francês Foued Mohamed-Aggad, um dos assassinos de Bataclan. Mohamed-Aggad e Abaaoud supostamente se conheceram enquanto estavam na Síria.
Os usuários também podem filtrar por evento para visualizar as pessoas envolvidas em cada ataque terrorista. Os ataques de 13 de novembro em Paris implicaram 36 pessoas até agora.
De acordo com Livonnière, o produto tem sido muito bem recebido pelo público. Devido à sua profundidade de informação, as pessoas gastam uma média de dois minutos no site - uma eternidade relativa em comparação com o tempo gasto interagindo com infográficos normais. Quatro especialistas, dois jornalistas da web e três técnicos estão trabalhando no Galaxy.
"As pessoas estão se embrenhando dentro dele", diz Livonnière. "Elas querem saber mais e mais."
E os jornalistas no resto da redação do Le Parisien também estão usando o Galaxy para reportar. Qualquer jornalista pode incorporar um perfil Galaxy em uma matéria online, para dar ao leitor a oportunidade de aprender mais sobre os personagens e eventos referenciados em uma matéria.
Assim como qualquer história jornalística complexa evolui ao longo do tempo, o mesmo acontece com o Galaxy.
"O projeto está vivo", diz Livonnière. "Acorda cada vez que temos um novo artigo de informação sobre esses caras. E ultimamente, a cada dia tem novas revelações."
Imagem principal e secundária são captura de tela do La Galaxie Djihadiste