Inovação na checagem de fatos ajuda a combater desinformação sobre eleições

Jul 27, 2022 em Combate à desinformação
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Enquanto países como o Quênia e a Nigéria se preparam para as eleições, políticos e seus apoiadores estão investindo tempo e recursos na disseminação de desinformação que pode influenciar a opinião pública e impactar os resultados eleitorais. A grande população jovem da África e um crescimento contínuo do uso da internet contribuiu para que as redes sociais passassem a ser usadas como meio de expressão política.

Com a diminuição no nível de confiança na mídia e o aumento de campanhas com foco em desinformação, intervenções inovadoras que expõem conteúdo verificado para uma grande audiência são cruciais para proteger o ecossistema de informação. Tais intervenções devem ser conscientes de nuances culturais bem como de peculiaridades socioeconômicas e demográficas. Jornalistas locais e pesquisadores precisam ser empoderados para terem as condições de detectar campanhas de desinformação que usam a indústria da influência política para persuadir eleitores e impactar o processo eleitoral.

Iniciativas durante a pandemia

No auge da pandemia de COVID-19, em 2020, o programa Knight Fellowships do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ na sigla em inglês) começou um projeto de checagem de fatos na Nigéria que fez parceria com influenciadores e organizações de verificação de fatos para viralizar fatos. O projeto usou celebridades nigerianas, humor e vídeos curtos publicados em inglês e idiomas locais para atrair a atenção nas redes sociais.

Técnicas como um vídeo de humor com um influenciador de saúde popular ajudou a tornar a verdade tão convincente quanto as fake news, ao mesmo tempo em que ensinou habilidades básicas de letramento de mídia sobre como checar informação usando o celular. Conteúdos populares de verificação de fatos produzidos por parceiros de mídia durante o projeto dispersaram rumores sobre a disponibilidade de vacinas da COVID-19 e também combateram alegações falsas feitas por manifestantes durante uma campanha contra a brutalidade policial.

Viral Facts Africa, uma iniciativa da Aliança da África de Resposta à Infodemia é outra campanha inovadora que ajudou a combater a desinformação ao usar campanhas com influenciadores nas redes sociais para criar confiança nas vacinas. Criado como uma inciativa de conteúdo social para romper com a desinformação sobre saúde, o projeto permitiu que veículos de credibilidade tivessem acesso a conteúdo digital.

Para construir comunidades digitais confiáveis que podem ajudar a disseminar fatos e combater a desinformação, a maior organização de verificação de fatos do continente, Africa Check, lançou as campanhas #KeepTheFactsGoing e #StandUpForFacts. Por meio de uma rede de apoiadores chamados de Embaixadores dos Fatos, as campanhas compartilharam conteúdos sobre verificação de fatos e letramento de mídia em idiomas locais, conseguindo atingir populações carentes ao mesmo tempo em que lidaram com as tendências culturais dos africanos de confiar em informação dos seus círculos pessoais.  

População jovem volumosa e vício nas redes sociais

O relatório recém-publicado do Reuters Institute sobre jornalismo digital revela que as audiências mais jovens na África têm uma conexão mais fraca com marcas jornalísticas e estão cada vez mais acessando notícias em redes sociais como o TikTok. Com o TikTok se tornando um fórum para o discurso político e desinformação, de acordo com um relatório da Mozilla Foundation, se tornou imperativo investir em formatos inovadores para verificar conteúdo a fim de atingir as audiências mais jovens online.

Agindo sobre o potencial da grande população jovem e o vício nas redes sociais, o Knight Fellowship do ICFJ lançou recentemente a iniciativa FactsMatter, com o apoio do National Endowment for Democracy (NED), para promover a integridade da informação e letramento de mídia para fortalecer o processo eleitoral na Nigéria. Espera-se que o projeto surta efeito em um país que tem os usuários mais viciados em internet da África — o usuário médio gasta 3h02min diariamente nas redes sociais.       

Como muitos nigerianos recorrem às redes sociais para se expressar e descobrir a opinião dos outros, a necessidade de desenvolver a capacidade de julgamento sobre notícias é de suma importância. O FactsMatter pretende usar formas criativas para expandir a colaboração entre checadores de fatos e influenciadores, fortalecendo ideias democráticas e a liberdade de informação.

Com um grande foco em produção de conteúdo digital, o projeto está investindo em novos formatos de criação de conteúdo em inglês e idiomas locais. Alguns dos conteúdos serão criados especificamente para viralilzar no TikTok e WhatsApp — dois aplicativos populares na África. Além de realizar ações de engajamento online regularmente, como Spaces no Twitter, para conscientizar sobre tendências da desinformação, o projeto também vai treinar influenciadores com habilidades básicas de verificação, melhores práticas nas redes sociais e estratégias sobre como se tornar uma fonte de informação verificada para os seguidores.


Este artigo foi publicado originalmente no MisinfoCon e republicado aqui com permissão.

Foto por Rahul Chakraborty via Unsplash.