"Fazendo freelance no exterior" é uma nova série da IJNet que examina a vida de jornalistas que se mudaram para o exterior para fazer reportagem freelance. Leia a primeira parte sobre a mudança de Pesha Magid para Istambul.
Laura Dixon chegou em Bogotá, na Colômbia, no outono de 2015. A jornalista britânica estava interessada na América Latina: ela estudou sobre a região na universidade e já havia trabalhado como jornalista no Chile.
Durante anos, Laura trabalhou como jornalista em Londres no Financial Times e no Times de Londres, mas queria ser uma correspondente internacional. Em meio à luta financeira enfrentada pela maioria dos meios de comunicação, ela percebeu que sua publicação não a enviaria para o exterior e decidiu se tornar freelancer para realizar seu sonho.
Laura e seu marido procuraram um país latino-americano onde ambos pudessem encontrar emprego e finalmente fizeram seu novo lar em Bogotá, chegando com seu bebê de três meses.
"Eu demorei para me acostumar com a cidade", disse ela.
Sete meses após a sua chegada, Laura começou a trabalhar em tempo integral novamente. Na época, o acordo de paz entre o governo colombiano e as FARC estava nos estágios finais após décadas de conflito. Esse contexto tornou mais fácil para Laura vender suas matérias para a mídia europeia, com quem ela já tinha conexões.
"As pessoas estavam dando trabalho umas às outras, às vezes, quando não podiam fazê-lo", disse ela, "se ajudando com fontes e contatos, em vez de serem super competitivos."
No entanto, ela tem visto mais novos jornalistas chegarem desde o acordo de paz e acha que a situação está ficando diferente para os recém-chegados.
"Minha suspeita é que [...] será cada vez mais difícil conseguir matérias, especialmente para a mídia européia", disse ela, acrescentando que o maior desafio nos próximos meses e anos será manter os editores interessados.
Desde que o acordo de paz foi assinado e a atenção da mídia diminuiu, vender histórias se tornou mais difícil. Laura e dois outros jornalistas receberam uma bolsa do Pulitzer Center on Crisis Reporting para financiar uma série sobre histórias pós-conflito, que são ainda mais difíceis de vender.
"Na corrida para o acordo de paz que e nos meses seguintes, eu estava realmente ocupada na linha de frente das notícias", disse ela. "Isso definitivamente caiu muito rapidamente e agora não tem havido muito interesse nas histórias pós-conflito."
Embora as conexões profissionais de Laura sejam principalmente na Europa, ela disse que descobriu que as publicações norte-americanas estão mais interessadas em histórias vindas da Colômbia.
Quando ela chegou, Laura conseguiu ajuda de jornalistas que estavam na região há mais tempo. Uma jornalista que ela conhece organiza encontros mensais para jornalistas estrangeiros.
Laura disse que acha que Bogotá é uma cidade acessível para freelancers que trabalham na mídia americana ou europeia que paga em euros ou dólares, mas observa que algumas despesas, como a internet em casa, podem ser particularmente caras.
Ela alertou sobre os riscos de segurança, especialmente em algumas áreas rurais como perto da fronteira venezuelana, onde dois jornalistas holandeses foram sequestrados no ano passado.
“Como estrangeiro [especialmente], você precisa estar muito ligado”, disse ela.
Bogotá é uma cidade segura, mas existem algumas áreas com altas taxas de criminalidade que ela recomenda evitar à noite ou sozinho. O Centro Knight para o Jornalismo nas Américas e a International Women’s Media Foundation estão oferecendo um curso online gratuito em espanhol sobre riscos e segurança na América Latina.
Laura encontrou pessoas bastante abertas compartilhando suas opiniões, mas ela disse que para algumas matérias (como sobre líderes sociais) é importante ter cuidado com a segurança de suas fontes. Centenas de líderes comunitários foram mortos em 2017.
Um dos desafios que ela enfrentou é encontrar informações de contato de representantes do governo em sites oficiais. Ela precisou encontrar nomes específicos e ligar para números de telefone para entrar em contato com agentes de relações públicas.
"Você precisa saber o nome da pessoa e de preferência tem que ter WhatsApp", disse ela.
Laura disse que o aplicativo é amplamente usado na Colômbia e que ela frequentemente recebe convites para imprensa e trocas de informação na plataforma, mais do que por e-mail.
Ela também disse que as conferências de imprensa, mesmo de organizações internacionais, geralmente começam tarde: às vezes duas horas depois do horário anunciado.
Como ela precisa às vezes enviar matérias baseadas no horário britânico, ela precisa terminá-las às 13 horas no horário colombiano, mas disse que encontra dificuldades para conversar com as fontes pela manhã.
"É quando ter os números de celular de todo mundo na mão é útil", disse ela.
Laura recomendou que jornalistas que pensam em se mudar para Bogotá considerem participar de um Treinamento de Meio Ambiente Hostil, já que alguns editores exigem que freelancers tenham esse treinamento antes de enviá-los para uma reportagem. Ela conseguiu o dela através do programa de treinamento HEFAT da International Women’s Media Foundation.
Ela também disse que é muito importante falar espanhol, já que muitas pessoas na Colômbia não falam inglês, especialmente fora da capital. Há muitas maneiras de praticar o idioma online através de plataformas gratuitas, como Duolingo e Busuu, ou pagas como o Rosetta Stone. O Instituto Cervantes, uma instituição pública espanhola com 65 centros em todo o mundo, também ensina espanhol. O Mundo Lingo é uma organização que realiza eventos de intercâmbio de idiomas em várias cidades ao redor do mundo.
Imagem sob licença CC no Flickr via Pedro Szekely