No período antes das eleições de 2019 na Nigéria, o CrossCheck Nigeria, um projeto colaborativo de redações nigerianas, foi formado para verificar fatos e desinformações que poderiam afetar as pesquisas. Logo após a eleição, muitos dos parceiros de mídia voltaram aos hábitos de costume, gerando dúvidas se a verificação de fatos pode ser uma prática comum na indústria da mídia nigeriana.
Das centenas de organizações independentes de mídia que existem na Nigéria, apenas duas — Africa Check e Dubawa — operam como organizações de verificação de fatos. Ambas as organizações são signatárias do código de princípios da International Fact-Checking Network e parceiras do projeto de fact-checking do Facebook.
Nenhum dos jornais nigerianos amplamente lidos, como The Punch, The Guardian, Daily Trust, The Nation e This Day, designou mesas de fact-checking em suas redações, e há poucas melhorias nas publicações online.
A verificação sustentada de fatos, no entanto, é um mecanismo para criar confiança pública. Por que mais organizações jornalísticas e jornalistas não apoiam o trabalho regular de fact-checking?
Desafios ao acessar dados
Embora a Nigéria tenha aprovado a lei de Liberdade de Informação (FOI) em 2011, as instituições públicas ainda negam o acesso aos dados. Isso dificulta o trabalho de muitos repórteres de verificação de fatos que acabam ficando paralisados, devido à falta de dados verificáveis.
Justina Asishana, bolsista de fact-checking do Dubawa em 2019, disse que não consegue fazer tantas reportagens de verificação de fatos quanto gostaria, devido à falta de dados confiáveis.
“Muitas vezes vejo declarações [suspeitas], mas não há dados para verificá-las. A maioria dessas fontes de dados está desatualizada”, disse ela. "A única fonte básica é o Bureau Nacional de Estatística, que às vezes não fornece conjuntos de dados atualizados."
Percepção e consciência
Muitos jornalistas que participam de treinamentos de verificação de fatos comprometem-se a produzir reportagens regulares de verificação de fatos, mas acabam desistindo, disse Akintunde Babatunde, gerente de programa do Centro de Jornalismo Investigativo Premium Times que facilitou os programas de treinamento de verificação.
"A maioria dos jornalistas diz que monitora certas editorias, então não tem tempo de fazer reportagens de verificação de fatos, pois a verificação leva tempo", disse Babatunde.
Muitas redações dão menos valor para a verificação de fatos, favorecendo uma cultura que prioriza as reportagens diárias.
Mudando narrativas
Para incentivar mais apoio a iniciativas de verificação de fatos, Allwell Okpi, gerente de comunidade para o Africa Check na Nigéria, sugeriu que os jornalistas nigerianos primeiro abordassem os problemas de capacidade treinando mais jornalistas. Enquanto isso, organizações e jornalistas devem envolver gerentes de organizações de mídia, promovendo verificadores em tempo integral em suas redações.
O Africa Check, por exemplo, está engajando os formuladores de políticas e o público em geral para mostrar o valor dos esforços sustentados de verificação de fatos.
Os próprios jornalistas também podem reestruturar a verificação de fatos, como algo que não os afastará de suas editorias, mas uma prática que realmente tornará suas reportagens regulares mais fortes.
"Quando você verifica uma questão, expande sua base de conhecimento sobre um determinado assunto", disse Babatunde. "Acho que os jornalistas devem considerar a verificação de fatos como algo para tornar seu trabalho mais consciente."
Hannah Ajakaiye é bolsista do ICFJ TruthBuzz na Nigéria. Saiba mais sobre o trabalho dela aqui.
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