Esta é a quinta parte da nossa série "Fact-checking ao redor do mundo", que destaca organizações que combatem a desinformação mundial. Leia mais sobre o restante desta série aqui.
Johana Wild estava trabalhando como jornalista em Ruanda em 2014, quando um post no Facebook sobre a morte do presidente, Paul Kagame, começou a circular. A notícia levou as pessoas a irem às ruas e celebrar no país vizinho, a República Democrática do Congo.
“Durante várias horas, ninguém conseguiu descobrir se esse boato era verdade ou não”, disse Johana.
A jornalista alemã vivia na África havia três anos e não era a primeira vez que ela foi pega de surpresa por boatos incomuns espalhados pela internet como fogo no mato.
No entanto, o que mais a incomodava era sua falta de habilidade para lidar com a desinformação online.
“Como jornalista de rádio e imprensa, eu não tinha experiência em verificação e checagem de fatos e realmente não sabia o que fazer”, disse ela. "Eu estava completamente sobrecarregada."
Johana decidiu que queria explorar mais o tema das notícias falsas.
Em 2016, depois de terminar um mestrado em jornalismo online pela Birmingham City University, ela participou de um programa do Media Lab Bayern, uma incubadora de mídia que reúne jornalistas e especialistas em tecnologia de informação.
Juntando-se a outro jornalista e dois desenvolvedores de software, ela cofundou a primeira organização digital de verificação de fatos na Alemanha. O nome, Wafana, é uma combinação das palavras para verdade (Wahrheit), fato (Fakten) e notícias (Nachrichten).
A organização fornece treinamento de verificação online para redações e jornalistas em todo o país, uma necessidade que Johana considera urgente.
Antes de 2017, ela disse que a questão da desinformação não despertava muito interesse em seu país natal, a Alemanha. Por meio de entrevistas com 20 redações alemãs, pesquisadores da Wafana descobriram que a maioria dos jornalistas achava que não tinham conhecimento suficiente para verificar o conteúdo online.
Johana e sua equipe queriam ir além da simples formação de jornalistas em fact-checking. Em agosto de 2017, eles lançaram o Crowdalyzer, uma ferramenta de escuta social.
“A ferramenta não apenas mostra as tendências atuais do tópico, mas também as tendências atuais das informações falsas”, explicou ela.
A ferramenta foi desenvolvida para o mercado alemão, onde Johana disse que geralmente não há grandes fraudes atingindo grandes audiências. Em vez disso, a desinformação geralmente assume a forma de pequenas falsidades e fatos incorretos que circulam em comunidades online específicas.
O Crowdalyzer usa aprendizado de máquina para criar um perfil da comunidade online em torno de um tópico, empresa de mídia ou partido político para acompanhar o que está falando.
Embora já existissem ferramentas para detectar desinformação, o Crowdalyzer permite que os jornalistas não só identifiquem notícias falsas, mas também foquem na comunidade onde estão circulando, o que lhes dá “mais oportunidades para desmascarar [a desinformação]”, segundo Johana.
Várias redações no país estão usando a ferramenta, incluindo uma redação local que ajuda a Wafana a desenvolver e melhorar o Crowdalyzer dando feedback regular.
A Alemanha tem leis severas destinadas a limitar notícias falsas, discurso de ódio e conteúdo ilegal. As redes online têm a responsabilidade de remover os posts dentro de 24 horas para conteúdo criminal e sete dias para casos menos precisos, ou então pagar uma multa. Mesmo com essas leis rígidas, Johana disse que conteúdo duvidoso ainda é circulado.
"O problema é que a desinformação nem sempre é contra a lei", disse Johana. "Muitas vezes, a informação que encontramos fica num meio termo."
O principal desafio que a organização enfrenta é o ritmo e a extensão da desinformação.
"Bots ainda são muito burros; eles não se comportam 100 por cento como seres humanos", disse ela. “Isso está prestes a mudar, então precisamos mudar. Precisamos nos adaptar constantemente ao cenário da desinformação e o desafio é financiar o tempo que precisamos para a experimentação."
Johana disse que está motivada para continuar a inovar e encontrar soluções na interseção do jornalismo e aprendizado de máquina. A Wafana foi listada como uma das 30 principais startups de notícias da Global Editors Network em 2018.