Os modelos de negócios tradicionais estão rapidamente desaparecendo da mídia, sendo substituídos por novas formas inovadoras de obter receitas sustentáveis, Em um webinário ao vivo, profissionais de mídia que trabalham na América Latina falaram sobre suas experiências além das fontes de receita tradicionais e deram conselhos para outros jornalistas que planejam começar suas próprias startups de mídia.
Entre as palestrantes estavam Priscila Brito, cofundadora do Festivalando, um guia de viagens online para turismo musical no Brasil; Ursula O'Kuinghttons, líder regional para a América Latina e Europa da Civil; e Tania Montalvo, editora-executiva do Animal Político no México.
Reunimos seus conselhos para jornalistas interessados em iniciar sua própria organização de mídia:
Crie novos fluxos de receita
"Precisamos ter muitas fontes de financiamento ao mesmo tempo", disse Montalvo. No caso de um fluxo de receita começar a secar, é importante ter outros.
O site Animal Político depende de subsídios de fundações, financiamento coletivo, palestras e consultoria para manter sua organização à tona. Nenhum fluxo único seria suficiente, mas, com tudo junto, eles conseguem produzir conteúdo de alta qualidade.
O'Kuinghttons e Brito também sugeriram financiamento coletivo: um modelo que suas redações estão usando ou estão considerando para o o futuro.
O Animal Político usa crowdfunding há anos e aprendeu inúmeras lições ao longo do caminho. “Temos um modelo que não está funcionando bem e aprendemos muito sobre o que não fazer com um modelo de financiamento coletivo”, disse Montalvo.
Entre eles, ela sugeriu ter uma equipe dedicada especificamente ao gerenciamento do modelo de financiamento coletivo, em vez de usar jornalistas para gerenciá-lo paralelamente ao trabalho na redação. Executar uma campanha é um trabalho difícil e demorado que requer muita atenção e conhecimento, por isso é importante tratá-la dessa maneira, disse Montalvo.
A equipe do Animal Político também notou que os usuários não responderam bem à captação de recursos em páginas de terceiros, como o Kickstarter. Em vez disso, ela recomenda ter oportunidades de doação em sua página principal.
"Se você pedir doações, as pessoas sentm que você está mendigando", disse Montalvo, explicando outra lição que a equipe aprendeu em sua experiência de financiamento coletivo: "A mensagem que realmente inspira as pessoas a colaborar é se a chamada à ação é para ser parte da equipe."
Os programas de afiliação são bem-sucedidos porque dependem dessa chamada à ação e geralmente envolvem pagamentos recorrentes regularmente.
Construa uma comunidade fiel e escute o que ela tem a dizer
O cenário da mídia é desafiador, especialmente com muitas organizações concorrentes disputando pelo público. Nesse mercado competitivo, é importante criar uma comunidade fiel de leitores que ofereça suporte à sua organização.
“Começamos como um blog, então desde o começo tivemos uma maneira muito pessoal de escrever matérias”, disse Brito. Esse relacionamento pessoal com os leitores é um forte trunfo para o Festivalando e será fundamental em sua capacidade de desenvolver um programa de aumento de membros no ano novo, como planejam fazer.
Montalvo concorda que sua forte comunidade, baseada na confiança, permitiu que criassem com sucesso um modelo de financiamento coletivo. “Obtemos a maioria das nossas principais fontes [de receitas] graças à confiança de nossos leitores," ela disse.
Construir confiança requer se afastar de modelos que dependem muito do engajamento de mídia social ou pageviews --como fazem os modelos de publicidade-- para fomentar relacionamentos pessoais.
Embora o Animal Político tenha começado como uma conta no Twitter, a equipe não depende mais desse canal para empurrar seu conteúdo. De acordo com Montalvo, apenas 10% de seu tráfego veio do Twitter em 2018. Em vez disso, a equipe usa as redes sociais como uma forma de interagir e se comunicar com seus leitores.
Esta comunicação contínua promove ainda mais a sua comunidade. Em vez de simplesmente dar ouvidos aos leitores, a equipe usa sua contribuição para decisões editoriais. Por exemplo, todo ano o Animal Político se concentra em um tópico de investigação específico que é decidido pelos leitores.
Concentre-se no jornalismo de qualidade
Os modelos de negócios não são a única coisa que muda no ambiente de mídia da América Latina. A proliferação de desinformação e a eleição do próximo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro ---um crítico aberto da imprensa-- afetam a forma como os jornalistas e o público veem o futuro do jornalismo.
"Sabemos que a previsão não é boa, mas não sabemos o quanto é ruim", disse Brito.
No entanto, apesar desses desafios futuros, as participantes do painel sugeriram continuar a se concentrar no público e no conteúdo de qualidade que almejam.
"A chave é primeiro manter a qualidade do nosso conteúdo, porque as pessoas sabem que faremos algo diferente do resto da imprensa", disse Montalvo. Ela também disse que o Animal Politico continuará com os esforços de checagem e verificação porque a crise da informação é de interesse e preocupação do público.
"Está imprevisível em toda parte, não apenas no Brasil", disse O'Kuinghttons. "Estamos evoluindo para algo que não conhecemos ainda."
Assista ao seminário online completo (em inglês) abaixo::