Estratégias no jornalismo para conversar com o público e obter renda

Nov 19, 2023 em Sustentabilidade da mídia
Feira de livros

Informar e prestar serviços para a população são uns dos principais objetivos de veículos jornalísticos. Para obterem sucesso nesta empreitada e sobreviverem financeiramente, é comum as mídias destinarem parte de seu espaço para a publicidade. Porém, outras formas de negócios têm diversificado a fonte de renda e ajudado a divulgar e manter a audiência destes veículos. Os modelos passam pela promoção de eventos e vão muito além, entrando em áreas como esporte, educação e até jogos pela internet. 

Cursos online 

Quinze dessas possibilidades de sustentação de receitas para jornal estão mapeadas no relatório anual Innovation in News Media World Report 2023-24 da  Innovation Media Consulting Group. Entre elas, uma que apresentou crescimento durante a pandemia da Covid 19 foi a de aulas e cursos online oferecidos pelas editorias para seus públicos, muitas vezes através de convênios com universidades e empresas de educação digital.

O relatório cita o exemplo do jornal britânico Financial Times, que lançou o MBA 101 , um curso de seis semanas via newsletter com insights de especialistas de como se inscrever para um MBA. O conteúdo aborda temas como preparação para o exame de admissão, escrita de uma redação de destaque, ter sucesso em entrevistas e obter subsídios e bolsas de estudos para financiar um MBA.

“Sabemos que boletins informativos impulsionam envolvimento entre os nossos leitores e que eles são realmente uma ótima maneira de promover retenção.” E completa. “Uma vez que o curso é disponível gratuitamente, tem potencial para alcançar novos leitores, captá-los para a FT e depois mantê-los engajados e envolvidos", diz a editora de Newsletter dos EUA para o Financial Times, Emily Goldberg, sobre o projeto.

Jogos online

Os jogos online também estão na lista de inovação para aumentar a receita de veículos jornalísticos. Entre os exemplos, está o do New York Times, que adquiriu em janeiro de 2022 o Wordle, um jogo de palavras popular que é online e gratuito. Com a aquisição, as pessoas passam mais tempo jogando no site do NYT. Quando a empresa anunciou seus ganhos trimestrais no início do ano, deu crédito ao jogo por um grande salto em novos assinantes. “Wordle trouxe dezenas de milhões de novos usuários sem precedentes para o The Times”, declarou a CEO do jornal, Meredith Kopit Levien. A meta do veículo é obter 10 milhões de assinantes até 2025.

Eventos como fonte de renda

No Brasil, pequenas e grandes empresas jornalísticas também têm buscado obter novas fontes de renda. A CEO do Jornal Plural, veículo independente de Curitiba no Paraná, Rosiane Correia de Freitas, teve a ideia de criar um setor de eventos na empresa. O primeiro deles foi um jantar com show ao vivo. Os participantes compraram ingressos no valor de R$ 300 por pessoa ou R$ 1.800 a mesa patrocinada. “O evento lotou. Depois de descontados os custos, ficamos com cerca de 14 mil em receita”, revela Freitas. A previsão é de que haja um aumento de 30% na receita de 2023 com a implementação da área de eventos e de publicação de livros.

Outro evento promovido pelo Plural é a Troca de Livros e Ideias. “O Plural recebe muitos livros de editoras por conta de nossa cobertura na área, então, decidimos compartilhar com a comunidade.” Na iniciativa, as pessoas levam um livro e trocam por outro de graça. Freitas afirma que este tipo de promoção tem ajudado a divulgar e atrair novos públicos para o veículo. “A gente atinge um pessoal que não nos conhecia e reforça a construção do Plural como comunidade.” E os participantes dos eventos acabam se tornando assinantes. A fonte de renda por assinatura representa, atualmente, cerca de 12% da receita anual do jornal. “A meta da empresa é dobrar isso nos próximos anos”, diz Freitas.

Multiplicar a fonte de receitas é uma boa estratégia para ter um segurança contra incertezas. “Nós passamos por várias crises do país nesses cinco anos, mas o que vimos é que dificilmente elas afetam todas as fontes de receita", considera Freitas. No entanto, diversificar muito não é a solução. “Aprendemos que não dá pra abrir o leque demais porque fazer 10 coisas sem poder se dedicar é ter um resultado pífio. No final, pode até prejudicar fontes importantes de receita. Estamos na busca de um equilíbrio.”

Aproximação com marketing e esporte

Ao contrário do Jornal Plural, os eventos não são utilizados como fonte de renda para a Rádio Itatiaia, emissora pertencente ao mesmo grupo da CNN Brasil. A rádio os utiliza como estratégia para se aproximar da comunidade e do mercado, conforme explica a gerente de Marketing, Thaís Silva. “Promovemos diversos eventos para falar com diversos públicos e trazer essas pessoas para mais perto, para ouvir a necessidade delas. Para entender o que o mercado está fazendo e precisa. Para compreender o que o nosso ouvinte quer, o que ele está gostando e o que não está”.

Um dos eventos da rádio é o Go up, que busca uma aproximação com o mercado publicitário e os setores de Comunicação e Marketing. “A partir do momento que a gente aproxima e mostra para o mercado o que a gente está fazendo, quando o mercado precisa, procura a gente”, revela Silva.

No esporte, a rádio investe em eventos como a Copa Itatiaia, torneio de futebol amador que já conta com 62 edições e, estrategicamente, cria um vínculo com a comunidade; o Troféu Guará, premiação do futebol mineiro que exalta os destaques da temporada; e a Corrida Itatiaia, que atinge um público variado e familiar. “Cada um traz um retorno diferente. Nossos eventos entram muito mais como investimento de marca e reforço do que como diversificação de renda“, explica a gerente de marketing.

O presidente da ANJ, Associação Nacional de Jornais, Marcelo Rech, vê com bons olhos todos estes modelos de negócios que extrapolam o jornalismo em si e considera ser útil para  valorizar a comunidade e movimentar as marcas. Ele vê a mídia como uma plataforma 360 graus que deve ser relacionar com a sociedade. “Além de informar, o jornalismo pode estimular a sociedade com questões comunitárias e isso pode ser feito de várias formas, inclusive com eventos patrocinados”.


Foto: Tami Taketani (Troca de Livros do Jornal Plural)