Como repórter e editora há mais de 30 anos, Jacqui Banaszynski viu o jornalismo narrativo evoluir junto com as novas plataformas e ferramentas que entraram no cenário jornalístico.
Banaszynski irá liderar um workshop sobre jornalismo narrativo no dia 22 de outubro em Bucareste, Romênia. Ela ganhou um prêmio Pulitzer em 1988 por sua série “AIDS in the Heartland” ("Aids no meio-oeste americano”). Atualmente é professora cátedra na Escola de Jornalismo do Missouri) e editora no Poynter Institute.
Em uma conversa por e-mail com a IJNet, ela descreveu os aspectos fundamentais da narrativa eficaz -- constantes, mesmo na era frenética digital -- e o delicado equilíbrio do reportagem completa, mas sensível.
IJNet: Qual é um aspecto de interesse humano em contar histórias que se manteve constante ao longo dos anos, apesar das mudanças na tecnologia?
JB: Certas ferramentas funcionam melhor para algumas coisas do que outras: áudio (a voz humana) é íntimo; fotos ainda preservam um momento e capturam o tempo; vídeo permite que a ação seja exibida; texto (a boa e velha imprensa) é melhor para a complexidade, conexões e profundidade.
Mas os elementos subjacentes de contar boas histórias são eternos:
· Encontrar a humanidade no centro de uma situação.
· Olhar para um tema universal ou significado em situações individuais.
· Ser tão específico e vívido quanto possível.
· E às vezes contar. Colocar histórias em contexto para os leitores saberem de que mundo eles vêm, o tempo em que vivem, situação com a qual estão relacionados.
IJNet: Alguns jornalistas acham difícil fazer reportagens de profundidade sobre questões delicadas e pessoais sem ser muito invasivo ou de explorar a situação. Que conselho pode dar para achar um equilíbrio?
JB: Se fizermos o nosso trabalho com compaixão genuína, consciência aguda e curiosidade autêntica, há muito pouco que não podemos perguntar aos sujeitos de nossas matérias. A chave é deixar de lado preconceitos ou julgamentos e, em vez disso, entrar nas situações com um verdadeiro desejo de saber, do outro, sobre a sua realidade.
Na prática, explique-se brevemente aos sujeitos da sua matéria. Diga-lhes por que você está interessado neles, explique um pouco sobre como você trabalha, negocie quaisquer condições, pergunte sobre as preocupações deles.
Uma última dica, aborde os sujeitos da matéria da forma apropriada para a sua situação de vida:
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Funcionários públicos ou celebridades sabe como nós trabalhamos, você precisa ser honesto e ético com eles, mas não precisa de muito mais explicação.
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Pessoas comuns que se encontram no centro das atenções merecem um pouco mais em termos de explicação e contexto. Mas se eles são adultos capazes de dar seu próprio "consentimento informado" sobre decisões, tudo bem.
- "Vulneráveis" incluem crianças pequenas, pessoas com deficiência mental ou emocional, pessoas em estado de choque grave ou trauma e às vezes pessoas cujas decisões são prejudicadas pelo uso de drogas ou álcool. Estas podem não entender as consequências de falar com um jornalista. Avalie a situação e perguntar se eles sabem o que estão fazendo ao falar com você.
Finalmente, mantenha sempre sua palavra.