Enquanto a Europa enfrenta uma crise econômica, os jornalistas que cobrem a área de economia têm o desafio de analisar, interpretar e, acima de tudo, prever o que vai acontecer.
"O jornalismo é um serviço à sociedade. Jornalistas têm que contrapor-se aos poderes políticos e econômicos, fornecendo ao cidadão informação e liberdade para tomar decisões democráticas", afirmou Ramon Salaverría, professor de jornalismo online na Universidade de Navarra.
Salaverría disse que os jornalistas estão errando o alvo, deixando de analisar tendências que contam mais precisamente o que está acontecendo.
IJNet: Qual é a sua avaliação da cobertura da mídia sobre a crise econômica europeia?
Salaverría Ramon: Aqui (na Europa) não estamos acostumados a este tipo de crise. Ela nos pegou um pouco desprevenidos -- a sociedade como um todo e a mídia.
Talvez os jornalistas não tinham muita experiência anterior nos desafios gerados com uma situação dessa magnitude. Basta dar uma olhada nos jornais, rádio e televisão -- há meses isso é tudo que as pessoas têm falado.
Lamento mais sobre o que não foi feito antes da crise ter nos atingido e o que não está sendo feito agora.
O que não aconteceu antes da crise? Não a anteciparam. Devia ter havido algum prenúncio de que a crise iria acontecer. Em vez disso, os jornalistas se deixaram guiar pelas declarações de políticos e banqueiros quem disseram que tudo estava bem... Como isso pode ter acontecido "de um dia para o outro"? Alguém falhou e eu acho que os jornalistas têm uma responsabilidade neste fracasso.
Estou generalizando, alguns jornalistas têm feito um trabalho muito bom. A maioria dos jornalistas, contudo, está muito preocupado com o que está acontecendo agora. Eles não estão procurando ou parando para olhar o que pode acontecer em semanas, meses e anos. Eles deviam tentar analisar as tendências, ao invés de confiar no que os políticos e banqueiros estão dizendo agora.
IJNet: Então o que está faltando é contexto ou análise...
RS: Esses tipos de coisas jamais pode ser fornecidos por um algoritmo digital. Um algoritmo digital, um motor de busca, Google News, dirá a última coisa que aconteceu. Você lê e pensa que é o suficiente. Mas uma coisa é ter acesso às últimas notícias e uma outra coisa é entendê-las. É por isso que acho que os jornalistas são necessários agora mais do que nunca.
A missão ds jornalista é fornecer ao cidadão informação para que ele possa tomar decisões democráticas e esclarecidas. Então, uma pessoa média pode ou não dizer: 'Eu quero tirar da meu minha poupança desse banco'. E entender que talvez não há nenhuma razão para alarme.
IJNet: Você diz que há muita informação sem contexto. Mais curadoria é necessário?
RS: Sim, mas a palavra 'curador' não me atrai. Funciona muito bem em inglês ('curator'), mas aqui na Espanha ainda soa estranho. Eu gosto do palavra 'intérprete'. Interpretação também implica hierarquia. Quando se é um intérprete de informação, essa pessoa separa os fatos relevantes dos secundários...