Entenda a crise enfrentada pelos jornalistas no Afeganistão

Aug 27, 2021 em Segurança Digital e Física
Cabul, Afeganistão

O Talibã tomou o controle no Afeganistão, e agora muitos afegãos estão desesperadamente tentando fugir do país, enquanto aqueles que ficam para trás se preocupam com suas próprias vidas. Dentre eles há jornalistas, que temem retaliação por seu trabalho e repressão à mídia independente.

Durante o nosso painel online Jornalistas no Afeganistão: Uma crise urgente, o vice-presidente de conteúdo e comunidade do ICFJ, Patrick Butler, conversou com Samiullah Mahdi, vencedor do  prêmio ICFJ Knight International Journalism e chefe do escritório no Afeganistão da Radio Free Europe/Radio Liberty para discutir o papel que meios de comunicação internacionais podem desempenhar para lançar luz sobre o governo do Talibã, as adversidades enfrentadas agora por mulheres jornalistas e o futuro da imprensa livre no país. Mahdi também compartilhou conselhos sobre como jornalistas internacionais podem ajudar.

 

 

Confira abaixo os principais pontos da discussão:

O poder que a mídia internacional tem

Considerando a história do Talibã de violação de direitos humanos básicos, muitos acreditam que o grupo não mudou seu modo de operação desde que perdeu o poder no país 20 anos atrás.

"Só tem uma mudança no Talibã: eles estão mais familiarizados com a tecnologia agora. Eles sabem como disseminar sua estratégia de comunicação e suas mensagens na mídia internacional, mas o conteúdo da mensagem é o mesmo", disse Mahdi.

À medida que o Talibã busca reconhecimento no mundo, trabalhadores da imprensa afegã acreditam que meios de comunicação estrangeiros podem praticar uma vigilância crítica através de sua cobertura.

"A comunidade internacional tem influência para pressionar o Talibã a fazer mais concessões para direitos básicos. Do contrário, o Talibã vai reinstalar aquele regime que o Afeganistão vivenciou nos anos 1990", afirmou Mahdi. 

 

[Leia mais: Jornalistas do Afeganistão precisam de apoio global]

 

Mulheres jornalistas

Historicamente, o Talibã tem perseguido grupos específicos, particularmente a comunidade Hazara e as mulheres.

"O Talibã tem um histórico de misoginia, de ser contra os direitos das mulheres e de suprimir qualquer liberdade. Nós nos lembramos dos anos 1990 e sabíamos o que estava acontecendo nas áreas controladas pelo Talibã nas últimas duas décadas. O mesmo tipo de leis e ordens draconianas vão retornar ao Afeganistão e as mulheres vão sofrer mais", disse Mahdi.

O Talibã já forçou mulheres jornalistas a saírem do ar. Outras estão ficando em casa, atemorizadas, destruindo documentação que possa identificá-las. O Talibã também começou a discriminação de gênero nas salas de aula.

"Um dos meus colegas me disse que o Talibã ordenou todas as universidades nas províncias do oeste a separar os estudantes com base no gênero. Infelizmente, é possível prever que vamos ter mais uma geração de jovens meninas que não vão ter a oportunidades de ir à escola, estudar e trabalhar fora de suas casas", contou Mahdi.

O futuro da mídia no Afeganistão

Nos últimos 20 anos, muitos meios de comunicação independentes foram lançados no Afeganistão, estabelecendo um clima de imprensa livre. Com jornalistas afegãos agora fugindo do país, há um medo crescente e significativo de que o cenário da mídia no país vai ser fundamentalmente alterado.

"Desde que o Talibã tomou conta de Cabul, editores, repórteres e investidores de meios de comunicação independentes estão tentando sair do país", afirmou Mahdi. "Isso significa que dentro de poucos meses vamos ter apenas veículos de mídia comandados pelo Talibã. Outros profissionais de mídia vão aceitar qualquer coisa que o Talibã disser e se transformar em porta-vozes ou simplesmente vão se demitir e deixar o país.” 

 

[Leia mais: Como é ser jornalista no Haiti em crise]

 

Como você pode ajudar

Em escala global, profissionais de mídia estão em busca de maneiras de prestar assistência aos jornalistas afegãos. Confira como você pode ajudar:

Divulgue o assunto

Aumente a conscientização sobre o que está acontecendo no Afeganistão e sobre as ações tomadas pelo Talibã agora que o grupo está no controle. Isso é importante para assegurar o respeito aos direitos humanos.

"Temos esse ambiente de mídia vibrante que está sob ataque e pressão. Devemos seguir em frente e manter esse ambiente vivo", disse Mahdi.

Colabore com veículos afegãos

Trabalhe com veículos afegãos para cobrir o que está acontecendo internamente. Essa é uma maneira efetiva de lançar luz sobre as práticas do Talibã e sobre a violência que eles podem cometer contra os cidadãos.

"Dado que ainda há acesso à internet e à mídia internacional, ONGs internacionais poderiam dar apoio à mídia afegã para continuar trabalhando mesmo do exterior", afirmou Mahdi.

Ajude jornalistas a buscar refúgio

Ajude jornalistas afegãos que temem ser perseguidos enquanto tentam fugir do Afeganistão, sem colocá-los ainda mais em perigo. Saiba aqui como você pode oferecer apoio de forma responsável.

"Para os jornalistas afegãos cujas vidas estão em risco, ONGs internacionais devem ajudá-los a sair do país e ir para um lugar seguro e permitir que eles continuem trabalhando de lá", disse Mahdi.


Foto por Mohammad Rahmani no Unsplash.