Um crítico de mídia renomado soou o alarme em 1960 sobre aquisições corporativas de jornais e demissões de centenas de jornalistas. Ele temia que o poder da imprensa estava se concentrando em poucas mãos.
Foi em sua coluna no New Yorker, The Wayward Press, que AJ Liebling registrou uma de suas frases mais memoráveis:
A liberdade da imprensa é garantida apenas para aqueles que são donos de uma. (New Yorker, 14 de maio de 1960, p. 109, paywall)
O que ainda é verdade hoje é que os proprietários das empresas de jornais estão focados em manter suas margens de lucro e demitindo jornalistas para conseguir isso. As indústrias de jornais e revistas perderam 54 mil postos de trabalho de jornalismo desde 2003.
Mas não é mais verdade que os jornais monopolizam a produção e distribuição de notícias. A Internet tem dado a todos com um computador e acesso à Internet a sua própria imprensa. Você não tem que ser um magnata para publicar as suas opiniões. A grande questão é conseguir que alguém vá ler ou ouvir o que você produz.
Controle da opinião pública
Os demônios de Liebling foram derrotados; eles já não dominam o discurso público da forma como fizeram. O que é menos conhecido é que há um novo grupo de monopolizadores. O discurso público está se concentrando nas mãos de um punhado de diferentes entidades empresariais que não são jornais ou empresas de mídia.
Hoje é a vez do Google, Facebook, Yahoo, Twitter e outras plataformas, cujos algoritmos moldam os feeds de notícias que seus usuários dependem para se informar sobre o mundo. Para alguns, essas plataformas são sua principal fonte de notícias.
Google e Facebook dominam
Hoje qualquer um pode escrever e publicar o que quiser na internet, mas se é notado e distribuído depende se outros veem e distribuem através de páginas na Web, blogs e contas de mídia social.
As mídias sociais como Facebook e Twitter, e motores de busca como Google e Yahoo, são fundamentais para criar um público para uma organização de notícias. O Facebook atrai cerca de 20 por cento do tráfego para sites de notícias, e editores de notícias consultam jovens de 26 anos cuja equipe projeta o algoritmo de notícia para descobrir como fazer esse aumento. O Google fornece cerca de um terço do tráfego para sites de notícias.
Nada comprova a importância dessas plataformas para o futuro da notícia mais do que a indústria que surgiu em torno de SEO (Search Engine Optimization) e marketing em redes sociais.
A mão invisível
Todos os algoritmos que calculam o que é relevante para o usuário são baseados em julgamento humano subjetivo, não no valor da notícia ou interesse público, como Jay Rosen declarou recentemente. Estes seres humanos podem consciente ou inconscientemente manipular a opinião pública.
Como é que as metas financeiras dessas empresas afetam o modo como ajustam seus algoritmos? O Google tem mais de 30 por cento dos US$140 bilhões em publicidade digital no mundo, de acordo com o eMarketer. O Google e Facebook juntos têm mais de 70 por cento da receita do mundo de publicidade móvel. O Twitter está se movendo na direção de feeds filtrados para impulsionar os resultados de negócio, de acordo com Mathew Ingram do Gigaom.
Autocensura e censura forçada
A verdade é que a maioria dos usuários da internet --que são por algumas definições, preguiçosos, egoístas e cruéis-- não vai além dos links recomendados mais proeminentemente. Então, o que o Facebook e Google recomendarem terá um impacto significativo no consumo de notícias.
E para quem o Google e Facebook respondem? Porque são empresas de capital aberto, a sua primeira responsabilidade é para com seus acionistas. Assim como com os acionistas de empresas de jornais, o serviço público e a liberdade de expressão não são necessariamente as suas prioridades.
Basta dar uma olhada no artigo do Wikipedia sobre a censura pelo Google para encontrar dezenas de artigos sobre como a empresa, ou por vontade própria ou por força de lei, censura seus resultados. Em outras palavras, os governos de mão pesada podem filtrar a informação que você recebe.
Em 2008, por exemplo, o Google cedeu às exigências do Pentágono para remover do Street View quaisquer imagens de bases militares dos EUA no interesse da segurança nacional.
A segurança nacional é invocada com frequência para não publicar informação, e, por vezes, as organizações de notícias cumprem. Portanto, se um delator quer fazer uma denúncia, pode recorrer a muitas organizações de notícias e um deles pode publicar sua história.
Mas se o Google e Facebook cumprirem com os pedidos de censura, esses tipos de histórias são menos propensos a subir para o nível viral de atenção pública. As organizações mais bem equipadas para tornar uma história viral estão vacinando a notícia. Sem viral pode significar sem notícia. Liebling não teria aprovado isso.
Este artigo é um resumo de um post publicado no blog News Entrepreneurs de James Breiner e aparece na IJNet com permissão.
Imagem principal sob licença CC no Flickr via Josh Hunter