Em hackatona no Brasil, equipes de mulheres jornalistas criam recursos para cobertura dos Jogos Paraolímpicos de 2016

por Kiratiana Freelon
Oct 30, 2018 em Temas especializados

Quando Roseane Ferreira dos Santos tinha 18 anos, ela foi atropelada por um carro em Recife e sua perna esquerda foi amputada na altura do quadril.

"Houve um tempo em que eu ficava só na minha casa porque não queria responder a perguntas das pessoas sobre a perna que faltava", disse Roseane para uma plateia de mulheres na hackatona.

Ela finalmente juntou a confiança suficiente para sair de sua casa -- e é aí que ficou sabendo sobre os Jogos Paraolímpicos. Hoje, Roseane, 43 anos, é uma atleta paraolímpica vencedora de medalhas de ouro. Ela ganhou suas medalhas de ouro em lançamento de disco e arremesso de peso nas categorias F57/57/58, que são para atletas com função limitada nas pernas.

Apesar de sua participação em três Jogos Paraolímpicos, poucas pessoas ao redor do mundo conhecem ela ou seu esporte -- principalmente por causa da cobertura limitada dos Jogos Paraolímpicos. Em 2012, havia 21.000 membros da mídia acreditados para os Jogos Olímpicos. Com 4.300 atletas, os Jogos Paraolímpicos são metade do tamanho, mas têm apenas 6.500 acreditados. 

"Os Jogos Paraolímpicos precisam de mais inclusão na mídia", disse Adriana Garcia Martinez, diretora de comunicações da Rio 2016.

O Comitê Olímpico e Paraolímpico da Rio 2016 tinha dois objetivos quando patrocinou a hackatona que Roseane participou em setembro: promover um melhor conhecimento dos esportes e história dos Jogos Paraolímpicos e promover mulheres jornalistas no jornalismo digital.

Com ajuda das Chicas Poderosas, uma organização fundada pela jornalista digital Mariana Santos para capacitar mulheres jornalistas na América Latina em competências digitais, a equipe de comunicação recrutou dezenas de mulheres jornalistas de todo o Brasil para a hackatona de um dia.

Ao longo do dia, cinco equipes criaram protótipos de aplicativos e infográficos para ajudar o público a entender melhor os Jogos Paraolímpicos. Os aplicativos e infográficos também podem servir como uma inspiração para empresas de mídia que começam a preparar a sua cobertura dos Jogos Paraolímpicos.

As Ousadas

O time As Ousadas desenvolveu um guia sobre como abordar pessoas com deficiências. Muitas vezes, pessoas com deficiências são tratadas como se precisassem de ajuda extra. Com imagens vívidas, o guia, criado por Nathalia Levy, Camille Rodrigues, Beatriz Blanco e Jéssica Ferrara, demonstra como interagir com pessoas com deficiências físicas, auditivas e visuais. 

Chicas Funcionais

Esta equipe criou um aplicativo interativo que ajuda as pessoas a entender o sistema de classificação do atletismo nos Jogos Paraolímpicos. Para agrupar atletas com deficiências comparativas, o Comitê Paraolímpico Internacional desenvolve diferentes classificações para cada evento em esportes como natação e atletismo. Por exemplo, um atleta com uma ou duas pernas protéticas nunca iria competir na corrida de 100 metros contra um atleta cego. Da mesma forma, um nadador sem pernas nunca iria competir nos 100 metros livres contra um nadador cego sem deficiência física. Bianca Rosa, Mariana Ochs, Fabiana Martins, Beatriz Calado, Emily Canto Nunes, Lívia Aguiar e Valéria Zukeran contribuíram para o projeto.

Equipe Perfis

A equipe de Perfis, com Thaís Leão, Ana Paula Blower, Paula Grangeiro, Nathany Santos, Louise Tamiasi, Kiratiana Freelon e Cecília Boechat, criou um infográfico que mostra a trajetória da atleta Roseane através de cronogramas e gráficos.

Equipe Partiu Fazer

A equipe Partiu Fazer criou uma série de infográficos que mostram o crescimento dos Jogos Paraolímpicos nos últimos 30 anos. Entre 1984 e 2012, o número de países que competem nos Jogos Paraolímpicos quase quadruplicou de 45 a 164. Os primeiros Jogos Paraolímpicos foram em 1960 e apenas 400 atletas competiram. Quase 4.300 atletas competiram nos Jogos Paraolímpicos de 2012 em Londres. Dayany Espíndola, Anna Cruz, Iana Chan e Carolina Cavaleiro fizeram parte da equipe Partiu Fazer.

Equipe do Site Sonoro 

A equipe do site Sonoro criou uma webpage de áudio sobre os Jogos Paraolímpicos que pode ser acessada ​​por pessoas com deficiências visuais.

Os times As Ousadas e Perfis ganharam a hackatona. As participantes da equipe poderão cobrir os Jogos Paraolímpicos com o times de comunicação das Paraolimpíadas e Olimpíadas Rio 2016.

Kiratiana Freelon participou da hackatoan como parte da equipe Perfis.

Imagem principal sob licença CC no Flickr via Berit Watkin

Imagem secundária cortesia de Nathalia Levy, Camille Rodrigues, Beatriz Blanco e Jéssica Ferrara