El Salvador endurece perseguição a jornalistas e defensores dos direitos humanos

Jun 2, 2025 em Liberdade de imprensa
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Na manhã do dia 9 de maio, a jornalista salvadorenha Loida Avelar, da Revista Fáctum, e outros dois colegas estrangeiros foram abordados por militares quando tentavam gravar uma matéria a quatro quilômetros de distância da fachada do Centro de Detenção de Terrorismo (Cecot na sigla em espanhol), a megapenitenciária construída pelo governo de Nayib Bukele.

Mesmo não tendo entrado no local nem recebido resposta à solicitação de visita, eles foram interceptados por sete soldados que exigiram que o material jornalístico fosse apagado. "Parei firme diante dos militares e disse que não íamos apagar nada. No fim, deram a ordem para que fôssemos embora", relatou Avelar, que descreve um tratamento muito diferente concedido aos youtubers, influenciadores e criadores de conteúdo famosos.

O que pode parecer um incidente isolado faz parte de um padrão maior de intimidação à imprensa independente em El Salvador. Avelar assegura que não foi a primeira vez que foi intimidada durante o exercício de seu trabalho como jornalista investigativa.

"Em agosto de 2021 fui fotografada do lado de fora da casa da minha irmã. Um sujeito desconhecido me fotografou dois dias antes de eu publicar uma matéria revelando que o ministro da saúde tinha criado uma clínica sem licença durante a pandemia. Este não é um caso isolado. Em todas as coberturas eles fazem fotos. Frequentemente a polícia nos aborda, pede nossa identificação e nos segue em carros particulares", acrescenta a jornalista.

No fim de semana dos dias 17 e 18 de maio, Ruth López, chefe da Unidade de Anticorrupção e Justiça de Cristosal, foi presa arbitrariamente. A organização para a qual ela trabalha vem registrando casos de tortura dentro do regime de exceção. "Ruth tem uma reputação internacional impecável, mas eles não ligaram pra isso e a prenderam", denuncia Avelar.

De acordo com a jornalista, a repressão não é nova, mas se intensificou. "Uma vez precisei sair do país por segurança." A escalada, ela garante, é evidente. "Eles já não têm mais filtros nem reservas. A polícia e as Forças Armadas são as principais instituições que bloqueiam nosso trabalho."

Sergio Arauz, subeditor de redação do El Faro e presidente da Associação de Jornalistas de El Salvador (APES), concorda. "Há uma clara escalada autoritária. Em apenas duas semanas vimos ameaças de prisão contra sete jornalistas do El Faro, a prisão de líderes comunitários e agora a prisão de Ruth López".

As ações contra os jornalistas do El Faro teriam sido motivadas pela publicação de entrevistas com chefes de quadrilhas assegurando que haviam negociado com o governo de Nayib Bukele a redução de homicídios em troca de benefícios.

A advertência chegou direto do próprio governo. "Tínhamos informações confiáveis lá de dentro que falavam de dossiês abertos contra nossos colegas; o diretor de inteligência do Estado os acusou publicamente de fazer parte de grupos ilícitos", explica Arauz. Diante disso, o El Faro ativou protocolos de segurança e enviou vários jornalistas para outros países.

A APES também enviou uma petição formal ao Ministério Público (controlado pelo governo) para confirmar se há processos abertos contra os jornalistas. "Sabemos que todos os poderes estão cooptados, mas acreditamos que é importante deixar registrado que fizemos o que tínhamos que fazer. Não vamos ficar calados", afirma Arauz. 

A prisão de López é especialmente simbólica. Foi ela quem apresentou uma queixa à Câmara Constitucional em 2020 após militares entrarem na Assembleia Legislativa, ordenados por Bukele. Sua prisão ocorreu apenas dois dias antes da aprovação de uma polêmica Lei de Agentes Estrangeiros, que impõe imposto de 30% a todas as transações de ONGs, o que, por sua vez, cria brechas para ditar, com uma única ordem, quais organizações humanitárias ou meios de comunicação independentes podem trabalhar ou não em El Salvador.

A jornalista afirma que a liberdade de imprensa já não é mais uma garantia em no país. "Tiram fotos nossas durante nosso trabalho, nos perseguem em carros sem placas e a cada vez que saímos pra trabalhar na rua ativamos protocolos com monitores para denunciar qualquer incidente em tempo real."

Embora o panorama seja cada vez mais repressivo, Arauz considera que é preciso combater a situação com mais jornalismo e mais registros dos abusos. "Não podem nos silenciar com este tipo de intimidação", finaliza.


Imagem cedida pela APES com registro do momento em que foi apresentada petição ao Ministério Público.