Candidatos à presidência dos Estados Unidos, incluindo o presumível candidato republicano Donald Trump, estão cada vez mais se voltando para as redes sociais para falar diretamente com os eleitores e ignoram as organizações de notícias tradicionais, segundo três jornalistas do jornal Politico.
A editora Susan Glasser, o editor executivo Peter Canellos e o correspondente sênior de negócios exteriores Michael Crowley discutiram a cobertura das eleições com um grupo de jornalistas russos que visitaram os EUA como parte de um programa organizado pelo Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ).
Eles disseram que a tendência dos candidatos de usarem a mídia social tornou difícil para os repórteres cumprirem o seu papel tradicional de verificação de fatos de declarações de candidatos ou interrogá-los sobre alegações questionáveis. Os jornalistas do Politico também disseram que a mídia social e as novas mídias mudaram dramaticamente a paisagem política, alimentando as campanhas insurgentes de Trump e o candidato presidencial democrata Bernie Sanders.
Canellos e Crowley notaram que os políticos, mesmo estabelecidos como o presidente Barack Obama, estão ignorando a mídia tradicional para falar com os segmentos-alvo do eleitorado.
Enquanto os presidentes anteriores realizavam conferências de imprensa semanais para falar à nação, os jornalistas disseram que o presidente Obama fala à imprensa apenas cerca de uma vez por mês. Em vez de grandes conferências frequentes de imprensa, a equipe de comunicações do presidente agora seleciona repórteres para entrevistas individuais em profundidade ou concede entrevistas para comediantes ou estrelas do YouTube que podem chegar a faixas mais específicas da população.
Glasser disse que essas mudanças alteraram dramaticamente o papel tradicional da mídia americana em controlar o acesso, o que ajuda a explicar porque esta eleição tem frustrado muitas de suas previsões. Ela disse que a forma como os americanos se comunicam, compartilham e interpretam a informação mudou fundamentalmente, e por sua vez está causando um impacto dramático sobre a eleição presidencial nos EUA e aqueles que a cobrem.
O impacto da polarização política
"Os Estados Unidos agora é basicamente um país dividido politicamente igualmente", disse Glasser, que observou que as pesquisas mostram que a eleição presidencial vai muito provavelmente ser dividida entre 50/50, não importa quem os dois maiores partidos nomearem.
Devido a essa divisão, um pequeno número de eleitores em apenas um punhado de estados decisivos provavelmente irá decidir a eleição presidencial, ela disse aos visitantes russos.
"Espere apenas que cerca de 10 estados sejam verdadeiramente competitivos", disse ela, acrescentando que os jornalistas devem, portanto, prestar muita atenção ao que está acontecendo nos estados decisivos como Colorado, Flórida e Ohio.
A equipe do Politico exortou os jornalistas russos a também prestar atenção às eleições para o Congresso dos EUA. Embora seja compreensível que a eleição presidencial obtenha o maior interesse para a imprensa internacional, os jornalistas disseram que eleições para o Congresso são tão importantes para o futuro da política americana quanto as eleições presidenciais. Trinta e quatro cadeiras no Senado e 435 assentos na Câmara dos Representantes estarão em disputa em novembro. O resultado vai determinar qual partido controlará o Congresso e se o próximo presidente será capaz ou não de promulgar a sua agenda.
Os 14 jornalistas russos passaram três semanas nos Estados Unidos através de um programa patrocinado pelo ICFJ para jovens profissionais da mídia russa e americana. O programa visa permitir que jornalistas russos e americanos construam relações profissionais e de amizade uns com os outros e criem compreensão mútua enquanto desfazem estereótipos negativos entre os seus países. Os jornalistas cumpriram essas metas ao mesmo tempo que aprenderam em primeira mão sobre o sistema de mídia de cada país, incluindo as formas como os meios digitais estão mudando as maneiras que os jornalistas trabalham.
Imagens por Samantha Juster. Da esquera para a direita: Peter Canellos, Susan Glasser e Michael Crowley.