As agressões recentes contra jornalistas durante os protestos — como aconteceu no início deste ano durante a agitação no México sobre a escassez de gasolina — significa que é um bom momento rever os riscos que os jornalistas enfrentam ao cobrirem manifestações ou forças de segurança repressivas.
Indo sozinho
Os jornalistas tendem a cobrir esses eventos sozinhos e de forma desorganizada. Ter mais colegas na área não vai ajudá-lo se todos eles estão indo para o local sozinhos sem nenhuma coordenação.
Em segundo lugar, os jornalistas que estão usando celulares para tirar fotos ou transmitir ao vivo são obrigados a se aproximar o máximo possível de cenas potencialmente violentas -- e isso inclui aqueles que podem incitar a violência.
Agentes hostis
Em terceiro lugar, aqueles que podem cometer violência tornaram-se cada vez mais hostis aos jornalistas. No México, os grupos radicais (ou as forças de segurança encarregadas de controlá-los) exercem extrema violência contra jornalistas. Isso incluiu inclusive assassinato, como no caso de Elidio Ramos Zárate, que foi morto por pessoas mascaradas depois de cobrir um bloqueio rodoviário no sul do México.
Como no caso de Ramos, alguns repórteres foram atacados horas ou dias depois de cobrir incidentes de repressão, especialmente se os manifestantes são mortos pela polícia.
Decisões não informadas
Os jornalistas tornam-se mais vulneráveis se seus editores tomam decisões longe de onde a ação está ocorrendo e sem as informações necessárias para avaliar adequadamente o nível de risco. Nesses casos, o risco vem de editores que tomam decisões desinformadas e fora do contexto, exigindo assim um certo tipo de cobertura sem medir os riscos muito reais que seus repórteres enfrentarão.
Jornalistas não segurados
Outro problema é a questão econômica. Muitos cobrirão protestos como jornalistas independentes, sem vínculos formais com uma organização de mídia que possa apoiá-los. Mesmo se eles estão trabalhando de forma freelance para uma publicação, em quase todos os casos os jornalistas não terão seguro para cuidados médicos caros ou mesmo cobertura básica.
Cada situação é diferente, e cada jornalista e publicação precisa tomar decisões com base nas condições e riscos de cada situação. No entanto, estas são algumas medidas básicas de segurança que os jornalistas podem adotar.
Noções básicas de segurança para cobrir protestos
- Desenvolva protocolos de segurança para cada circunstância. Repórteres precisam sair para a rua com protocolos estabelecidos com o seu editor e equipe. Se um repórter independente não tem o apoio de uma redação, deve trabalhar com outros colegas freelance e/ou funcionários para criar um protocolo comum.
- Quando possível, planeje a cobertura com o máximo de detalhes possível. Isto deve incluir idealmente a área que estarão cobrindo, identificando rotas de fuga e locais onde podem se proteger em caso de erupção de violência.
- Esteja ciente sobre quem são os agentes violentos e suas motivações. Os jornalistas precisam saber -- com o máximo de detalhes possível -- quais agentes responderão de forma mais agressiva aos jornalistas e como será essa agressão.
- Decida por si mesmo que tipos de circunstâncias exigem jalecos ou crachás de imprensa para identificar-se como um jornalista. Geralmente é melhor ser claramente identificado como um membro da mídia, mas em alguns casos isso poderia atrair mais violência. Em qualquer caso, os documentos de identificação devem estar sempre à mão e disponíveis.
- A comunicação de duas vias com a redação precisa ser constante. Jornalistas na rua devem carregar baterias externas totalmente alimentadas para seus telefones celulares. Se possível, jornalistas podem levar um telefone adicional com eles para usar exclusivamente para fazer chamadas -- não precisa ser um smartphone.
- Evite o contato com grupos que promovem violência ou forças de segurança que estão prestes a implementar medidas de controle de multidões. Quando as circunstâncias o permitirem, recomenda-se manter uma distância de pelo menos 10 a 15 metros daqueles que ameaçam usar a violência.
- Faça transmissão de Facebook Live em equipes de duas ou mais pessoas, para que pelo menos uma pessoa possa prestar atenção ao que está acontecendo na área, enquanto também protege as costas da outra pessoa. Se houver violência, o repórter precisa ser capaz de interromper a transmissão se sua segurança está em risco.
- Entrevistas com manifestantes ou outros agentes devem ocorrer nas esquinas, com o entrevistado contra uma parede. O repórter deve ser capaz de ter uma visão completa do que está acontecendo ao seu redor.
- Em situações de fogo cruzado ou se os manifestantes estão sendo atacados, os jornalistas devem ser treinados em se esquivar, procurar cobertura, identificar se realmente estão ouvindo tiros e, em seguida, identificar a fonte e o(s) atirador(s).
- Não utilize pano molhado em caso de ataque de gás lacrimogêneo, pois alguns gases lacrimogêneos podem reagir negativamente com a água.
Outros recursos-chave:
Os jornalistas também precisam aprender o que fazer quando um colega é ferido. Este documento da Unesco oferece orientações.
A Abraji publicou um manual sobre como cobrir protestos violentos (disponível em inglês , espanhol e português).
- O Comitê para a Proteção dos Jornalistas também publicou um manual sobre cobrir situações de risco durante protestos e agitação social (em espanhol, português, russo e árabe, entre outros idiomas).
Este artigo foi publicado originalmente pelo Periodistas en Riesgo e traduzido e reproduzido com permissão. Leia o original aqui.
Jorge Luis Sierra é um jornalista e editor mexicano premiado e especialista em segurança digital. Saiba mais sobre seu trabalho como membro da ICFJ Knight aqui.
Imagem sob licença CC no Flickr via Chris Brown