Jornalistas podem ser os principais alvos quando estão trabalhando em zonas de conflito. Por divulgarem informações essenciais em campo e revelarem histórias de atrocidades e crimes de guerra, jornalistas podem estar em risco por causa daqueles que querem esconder os fatos sobre o conflito, disse Abeer Saady, instrutora e especialista de mídia em áreas de conflito, durante um webinar recente do Fórum Pamela Howard de Reportagem de Crises Globais do ICFJ.
"Durante um conflito, a verdade é a primeira vítima", disse Saady.
É uma possibilidade muito real jornalistas desaparecerem, serem detidos ou perderem suas vidas enquanto trabalham em um conflito. Isso é observado não só durante a invasão da Rússia à Ucrânia, mas também em outros conflitos no mundo. Ao mesmo tempo, alguns jornalistas estão sob risco ainda maior por causa de sua identidade, como gênero ou etnia, em uma determinada zona de conflito, disse Saady.
Com jornalistas se tornando correspondentes do conflito da noite para o dia na Ucrânia, é importante que eles tomem medidas para proteger seu bem-estar físico, digital e mental. Abaixo estão alguns destaques do webinar sobre como jornalistas podem se manter seguros enquanto trabalham em conflitos:
Segurança física
Em uma zona de conflito, o risco mais imediato a um jornalista são as ameaças físicas, disse Saady. Quando o risco físico é alto, é importante saber quando parar de trabalhar e buscar segurança.
Jornalistas devem sempre usar equipamento de proteção. Eles devem estar cientes das armas utilizadas na região e desenvolver um plano de escape onde estiverem trabalhando.
Treinamento em primeiros socorros e entendimento básico de leitura de mapas também pode ser útil. Repórteres também devem tomar cuidado para não revelar sua localização para pessoas ou grupos nos quais eles não confiem. "Nunca se arrisque pela pauta", disse.
Em áreas de conflito, a segurança pode ser uma dificuldade diária. Especialmente repórteres locais, independentemente de sua experiência profissional, podem enfrentar ambientes hostis mesmo em sua cidade natal devido à impunidade. Ter uma rede local, com colegas jornalistas, moradores, tradutores e especialistas em segurança, é um jeito útil de melhorar a segurança. "Você precisa saber em quem confiar", disse.
Ter alguém para te ajudar a resolver problemas, entender a cultura local e encontrar padrões para se mover de forma rápida e segura, e trabalhar com uma equipe de jornalismo, também pode ajudar. Muitas organizações locais e internacionais também oferecem ajuda e equipamentos para jornalistas que operam em zonas de conflito.
Segurança mental
Ameaças a jornalistas não são exclusivamente físicas — a saúde mental dos jornalistas que trabalham em zonas de guerra também está em risco. Ter atenção ao estresse do trabalho e manter a estabilidade emocional pode ser tão importante quanto a segurança física.
"Não subestime este estresse", disse Saady. "Você está no modo de sobrevivência e acaba não pensando de fato nos tipos de estresse e no que as pessoas ao seu redor estão passando."
O estresse mental não afeta apenas os jornalistas na linha de frente. "A segurança psicológica não é apenas sobre os jornalistas que são jornalistas nas batalhas, mas sobre aqueles que estão fora dela", disse. "Às vezes, quando você está do outro lado em que estão os seus entes queridos, há uma pressão grande porque você sente culpa."
Saady alerta que a reação emocional a um conflito pode prejudicar a segurança física. "Tente não se envolver emocionalmente na cobertura", disse, por exemplo colocar em risco sua própria segurança pessoal ao dar assistência a outras pessoas.
Algumas organizações internacionais oferecem recursos de saúde mental e oficinas para jornalistas se prepararem melhor para cobrir eventos traumáticos.
Segurança física
Desenvolver um plano de comunicação é imperativo quando se está trabalhando em uma área de conflito. Ter vários telefones ou um telefone via satélite, e assegurar que todos os seus dispositivos tenham fontes de energia reserva, são preparativos essenciais para o trabalho.
Ter um contato de confiança fora da zona de conflito que conheça bem a geografia local e que esteja acompanhando e se mantendo atualizado sobre os acontecimentos também é uma precaução importante.
Certifique-se de usar aplicativos de mensagem criptografados, como o Signal, e faça um backup e mantenha os seus dados em segurança, já que você pode perder seus aparelhos ou tê-los roubados. Também é essencial manter em local seguro dados sensíveis, como detalhes de contatos de fontes ou outra informação que possa comprometer a segurança de terceiros. "Quando estou em uma área de conflito, qualquer pessoa pode me parar, qualquer pessoa pode levar meu computador ou celular. Quanto menos informação você carregar por aí, melhor."
Jornalistas também precisam estar preparados caso a infraestrutura de comunicação entre em colapso. "Você vai estar em perigo e ninguém vai saber onde você está", alerta Saady. "Você precisa saber qual tipo de comunicação está disponível e se você tem acesso ou não."
Conhecer essas opções de antemão e ter um plano caso a comunicação por telefone ou internet falhe pode ajudar jornalistas a saberem como se reconectar com contatos e planejar os próximos passos.
Tudo na cobertura de conflitos está relacionado ao risco; aceitá-lo e minimizá-lo é crucial. Ao se preparar para o risco, analisar ameaças em potencial e estar preparado para tomar decisões de segurança no calor do momento, os jornalistas podem, se não garantir a segurança por completo, pelo menos estarem preparados para as incertezas da cobertura em áreas de conflito.
"Você não pode controlar o perigo, mas pode controlar riscos", disse.
Foto por Engin_Akyurt no Pixabay.