A cultura de 'startup' deve liderar a mudança no jornalismo na América Latina

por Mariano Blejman
Oct 30, 2018 em Temas especializados

O jornalismo tem que se tornar inteligente. Isso significa que os jornalistas têm que compreender a Internet, que é sobre a compreensão de dados --dados sobre leitores, dados de tendência, dados contextuais, dados semânticos-- tudo isso com o mesmo objetivo: encontrar maneiras inteligentes de abordar as notícias, o público e o dinheiro.

A mídia deve mudar seus fluxos de trabalho editoriais e sua relação com a Internet. Se esse conceito nos Estados Unidos ainda pertence a um pequeno punhado de publicações digitais, na América Latina estamos às vésperas de uma revolução que pode nunca passar pelos meios de comunicação tradicionais. As chances são de que a inovação vai acontecer fora dos grandes elefantes do jornalismo e que eles vão acabar sendo vendidos... ou sei lá o que. Por isso, considere este artigo mais como sobre o que deve acontecer no jornalismo no próximo ano e não tanto sobre o que esperamos que aconteça nos meios de comunicação tradicionais da região.

Esse ano, estudamos uma dúzia de veículos de comunicação de sucesso que entenderam bem como gerar tráfego e engajamento online. Algumas de suas ideias serão implementadas na Media Factory, o primeiro acelerador de jornalismo para a América Latina, que irá conduzir o crescimento de novos meios de comunicação na região. Aqui estão alguns dos conceitos que encontramos:

  • Prever e detectar: ​​No passado, a mídia tradicional tentou prever o que os leitores acham interessante com base em sua própria experiência de longo prazo. Atualmente, a variedade de plataformas e tecnologias pode prever esses interesses de forma mais precisa. As redações devem integrar essas ferramentas para os fluxos de trabalho de editores e jornalistas para compreender melhor o contexto em que se movem e como gerar tráfego.

  • A medição é imperativa: Pelo menos na América Latina , os jornalistas estão acostumados ​​a sentar em um escritório --quando temos um trabalho-- e escrever com base em ideias e discussões com colegas ou editores. Uma vez que o nosso trabalho é publicado, perdemos o interesse nele. Redações que são melhores na geração de tráfego e tomada de decisões estão obcecados com as métricas: estratégias de busca, pageviews, tempo de leitura, compartilhamento de tendências. Compreender o nosso público adequado vai mexer com o jornalismo num momento em que a mídia deixou análise demográfica em sua maioria para as redes sociais.

  • Seja sempre uma startup: É necessário que os editores estejam dispostos a mudar o seu fluxo de trabalho, suas temáticas e a forma como se aproximam do produto --para integrar os desenvolvedores de software e design na produção de conteúdo. Uma nova geração de jornalistas/desenvolvedores está chegando, aprendendo a usar dados para tomar decisões que podem melhorar a qualidade do conteúdo, e entendendo que a criação de conteúdo é um investimento.

  • Aumentar a realidade: Configurar a redação de uma maneira que os sistemas de gerenciamento de conteúdo podem se comunicar com o mundo exterior --ou outros mundos internos-- para aumentar a realidade do conteúdo jornalístico, através de ferramentas como dados semânticos, geolocalização, extração de dados automatizada, acesso direto a serviços fotográficos e nova detecção de fontes digitais.

  • Agregar valor: O trabalho de jornalismo interativo permite o conteúdo editorial de valor acrescentado e estabelece uma relação com os leitores que gera aumentos sistemáticos no tráfego e credibilidade.

Este artigo foi publicado originalmente no Nieman Journalism Lab como parte de sua série de final do ano, Predictions of Journalism 2014. E é publicado na IJNet com permissão.

O bolsista do Knight International Journalism Fellowship Mariano Blejman é editor e empreendedor de mídia especializado em journalism de dados.

Imagem de Mariano Blejman (esquerda) e Marcos Vanetta (direita) sob licença CC no Flickr via Ramiro Chanes