Para os cidadãos e jornalistas iranianos, Telegram é uma maneira popular para compartilhar informações, pois o acesso a outras mídias sociais como o Twitter e Facebook tende a ser limitado. O aplicativo de mensagens móveis possui cerca de 20 milhões de usuários no Irã, tornando-se um recurso valioso para jornalistas encontrarem e se comunicarem com fontes.
No entanto, de acordo com um artigo recente do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), os jornalistas que usam Telegram podem colocar-se em "risco grave" de comprometimento de dados.
Apesar de sua marca como um aplicativo de mensagens mais privado e mais seguro, Telegram não tem a criptografia padrão "end to end" e o protocolo Signal de criptografia utilizados pelo WhatsApp, o CPJ relatou. Especialistas em segurança consideram a criptografia de Telegram "mal concebida e implementada", segundo o CPJ.
Em um país como o Irã, incluído na lista do CPJ de 10 países com maior censura no mundo, e onde os jornalistas são presos por mensagens de mídia social, tais lapsos de segurança cibernética são especialmente arriscados. No entanto, o blogueiro iraniano conhecido como Vahid Online, com base nos Estados Unidos, disse que iranianos não têm muitas alternativas.
"Se os sites de mídia social não fossem filtrados no Irã, aplicativos de mensagens instantâneas seriam usados tanto quanto em outros países", ele disse ao CPJ. "Usuários iranianos provavelmente iriam preferir usar Twitter ou Facebook."
Vahid Online, que tem mais de 44.000 seguidores no Telegram, disse que usa a plataforma principalmente para publicar resumos de eventos atuais e compartilhar tuites, posts no Facebook ou posts que seriam bloqueados para os iranianos.
O blogueiro disse que o recurso de canal do Telegram -- uma forma de comunicação que permite aos usuários compartilhar instantaneamente o conteúdo com grandes audiências -- tem sido fundamental para trazer os usuários iranianos para a plataforma, construindo um espaço para a troca de informações que de outra forma não existiria.
"Há uma grande população nas cidades e vilarejos iranianos que nunca tiveram acesso a computadores e nem sequer têm contas de e-mail, mas eles estão agora ligados à comunidade online através do Telegram", disse ele. "Muitos dos vídeos do YouTube que durante anos foram bloqueados para os iranianos têm sido compartilhados no Telegram e muitos iranianos podem vê-los pela primeira vez."
Enquanto o Telegram ajudou a trazer informações e conversações para muitos iranianos, suas falhas de segurança, em última análise, tornam o aplicativo perigoso para os jornalistas, especialistas em segurança disseram ao CPJ.
"O chat normal, que é a opção padrão, não é criptografado do início ao fim, o que significa que o Telegram e todos com os quais ele compartilha seus dados podem ler, armazenar, analisar, manipular ou censurar as conversas dos usuários", disse Nima Fatemi, pesquisador de segurança independente.
O Telegram oferece uma opção de bate-papo secreto que permite ao usuário enviar mensagens protegidas por criptografia "end to end". E embora a plataforma não divulgue seus dados a terceiros, ainda é possível ter as contas comprometidas. No final de abril, por exemplo, as contas de dois ativistas russos foram hackeadas.
Nate Cardozo, advogado sênior da Electronic Frontier Foundation, ecoou as preocupações de Fatemi, chamando a falta de criptografia "end to end" no Telegram e seu uso não padrão do protocolo de criptografia MTProto de "falhas críticas."
Em última análise, o CPJ recomenda que os jornalistas -- especialmente no Irã -- usem WhatsApp ou Signal como alternativas mais seguras para o Telegram. Ambos os aplicativos usam um tipo de protocolo de criptografia que foi endossado por muitos especialistas em segurança de tecnologia.
via Comitê para a Proteção dos Jornalistas
Imagem principal sob licença CC no Flickr via Sean Tiernan