Conselhos para jornalistas que trabalham com imagens traumáticas

por Clothilde Goujard
Oct 30, 2018 em Segurança Digital e Física

Imagens traumáticas sempre fizeram parte do jornalismo, mas no ciclo de notícias de 24 horas, as pessoas que trabalham nos meios de comunicação estão expostas a notícias negativas como nunca antes.

Gavin Rees do Dart Centre Europe, uma iniciativa dedicada a melhorar a cobertura mediática de traumas, disse que viu de primeira mão como os jornalistas estão cada vez mais expostos a imagens fortes.

"Até certo ponto, isso já aconteceu antes: algumas imagens bastante horríveis circularam durante a primeira guerra no Iraque e o genocídio em Ruanda", disse ele à IJNet. "O que é diferente [agora] é a intensidade do material: é filmado em alta definição, é gerado pelo usuário e vem para o jornalista."

Os jornalistas anteriormente podiam escolher se queriam ir para zonas de conflito, mas agora eles têm menos controle sobre quais imagens são expostas a eles.

"Era mais fácil dizer que você não ia lidar com certos tipos de exposição, que você queria evitar expor-se a material traumático, escolhendo diferentes tipos de trabalhos", disse Rees. "Mas agora o material está chegando à redação de uma forma que não foi vista antes."

Muitas faculdades de jornalismo ainda não ensinam aos alunos sobre como a cobertura de trauma pode impactar tanto os leitores quanto os próprios repórteres. No entanto, Reese disse que as redações estão ficando melhores em lidar com imagens traumáticas e suas consequências para sua equipe.

"As pessoas estão ficando mais conscientes", disse ele. "Nós tendemos a lidar com o dano depois que os problemas se desenvolveram ao invés de antes, e isso é complicado quando se trata de pessoas com problemas de trauma, porque ainda é fortemente estigmatizado e as pessoas não gostam de admitir a fraqueza.

Estudos mostram que os jornalistas tendem a ser mais resistentes do que a população em geral, pois tendem a ter um sentido de missão e acreditam que seu trabalho é significativo, o que ajuda a protegê-los durante situações estressantes, disse Rees.

No entanto, os jornalistas não são completamente imunes a sofrer os efeitos adversos da exposição constante a imagens traumáticas. Uma preocupação é que os jornalistas que desenvolvem TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático) costumam demorar a comunicar seus sintomas, disse Rees.

É por isso que ler as diretrizes produzidas pelo Centro Dart para Jornalismo e Trauma -- e obter uma melhor compreensão sobre como a mente e o corpo reagem a estímulos traumáticos -- podem ajudar um jornalista a reconhecer se seus sintomas são o início de TEPT. A exposição a imagens traumáticas tende a fazer com que as pessoas se sintam emocionais e entorpecidas, mas essas emoções não são necessariamente anormais. Um sinal de que uma jornalista está começando a sofrer TEPT é se começa a desconfiar de seus colegas de trabalho, Rees disse.

"Seu cérebro está respondendo às situações muito violentas na frente deles. Se você perde essa sensação de segurança em um domínio, durante o tempo que está olhando para essas imagens, é mais provável que se sinta inseguro sobre outras coisas também, como se pode confiar em colegas ou na direção", disse ele.

Também é importante que os direitores estejam conscientes dessas questões para que sua equipe se sinta mais segura.

"Os melhores editores que encontramos lidam com o exemplo", disse Rees. "Eles estão abertos para as questões e não têm medo de reconhecer suas próprias reações quando se deparam com material intenso."

As práticas da mídia estão evoluindo para proteger melhor os jornalistas e o público de imagens traumáticas. O desenvolvimento de inovações tecnológicas -- que poderiam automaticamente sinalizar imagens traumáticas -- poderia ajudar a proteger ainda mais os espectadores, alertando-os.

No entanto, Rees acha que muitas redações ainda precisam trabalhar com o equilíbrio de seu dever de informar o público e ao mesmo tempo proteger as pessoas (e eles mesmos) de trauma.

"Há momentos em que as pessoas devem ver o que realmente está acontecendo no mundo lá fora e isso pode significar mostrar imagens que são perturbadoras e angustiantes", disse ele.

Imagem sob licença sob CC no Flickr via Kimli