Conselhos de saúde mental para verificadores de fatos

Mar 13, 2025 em Segurança Digital e Física
Thinking

Ao realizarem seu trabalho, verificadores de fatos podem ser expostos a conteúdos traumáticos e imagens explícitas, enquanto paralelamente lidam com ataques online e com os desafios de manter um equilíbrio saudável entre a vida pessoal e a vida profissional.

Nurudeen Akewushola, verificador de fatos do FactCheckHub, conta como um vídeo contendo violência extrema que ele precisou verificar gerou pesadelos e recordações. "Eu não gosto de assistir conteúdo explícito. É perturbador. Tento evitar o máximo possível, mas não consigo por causa do meu trabalho", diz. "Tive um pesadelo porque assisti um desses vídeos extremos de pessoas carregando cadáveres, alegando que eram das inundações em Borno, na Nigéria, mas não tinha relação com esse acontecimento." 

Para agravar o dano mental, ele também tem sido vítima de ataques online. Após escrever um artigo sobre como o ex-presidente nigeriano Muhammadu Buhari havia feito afirmações falsas sobre a economia do país, um dos apoiadores de Buhari atacou Akewushola no X. O jornalista optou por não revidar para evitar o máximo possível as ameaças.

"Quando as pessoas te atacam dessa forma por você estar fazendo o seu trabalho, sua saúde mental é afetada e cria-se um certo tipo de medo em relação à segurança", diz. "Quando você quer escrever sobre determinados assuntos, os desafios reaparecem e você se sente intimidado a fazer pautas dessa natureza porque sabe que vai vir um bando te atacar e xingar sua família."

Lois Ugbede, editora-assistente do Dubawa, sofreu impacto semelhante ao ter que assistir um vídeo traumático para fazer uma verificação. "O vídeo era assustador, com todos aqueles cadáveres — bebês e adultos — inadequadamente mantidos no chão, mas por mais que a gente queira evitar esse tipo de conteúdo, não conseguimos escapar totalmente por causa do trabalho," diz.

Ugbede lidou com a situação ouvindo música, fazendo caminhadas, vendo filmes e compartilhando o que sentia com amigos e familiares de confiança. "Eu tinha medo de fazer reportagem na rua desde que fui cobrir o serviço de assistência primária à saúde em Nasarawa, na Nigéria, e vi um cadáver sendo retirado. Precisei passar meses compartilhando a situação com o meu marido e outros jornalistas antes de eu parar de reviver aquele momento."

Jornalista investigativo na Media Foundation for West Africa, Philip Teye Agbove já teve problemas de saúde mental por não conseguir verificar a origem de uma informação falsa que se espalhou amplamente em Gana.

"Eu fiquei esgotado mentalmente e profundamente perturbado porque isso custou boa parte do meu tempo e esforço", explica Agbove. "Dediquei horas pesquisando e verificando só para me dar conta que, embora eu tivesse concluído a reportagem, não podia publicá-la porque não foi possível determinar o local exato que uma foto tinha sido tirada. Constatar isso foi desolador; foi como se todo meu trabalho tivesse sido em vão", diz.

A experiência afetou a confiança do jornalista e chama atenção para o dano mental que investigações sem solução podem ter em verificadores de fatos. À medida que a informação falsa continuou se espalhando, ele saiu das redes sociais e não respondeu comentários que o mencionavam.

Dicas para manter o bem-estar mental

(1) Fale sobre os problemas que você estiver enfrentando

Busque ajuda quando estiver lidando com problemas mentais gerados pelo trabalho de verificação de fatos, sugere Ugbede. "Quando o trabalho ficar intenso demais, fale com os seus superiores para que eles se certifiquem de que você terá outros colegas te ajudando."

(2) Crie uma rede de apoio

Ter uma comunidade com a qual contar quando seu trabalho começa a pesar e para falar sobre os seus problemas é fundamental. "Pode ser um grupo no WhatsApp onde você fala sobre o trabalho para aliviar o efeito mental", diz Ugbede.

(3) Recue

Eventualmente, verificadores de fatos devem se afastar das pautas pesadas nas quais trabalham, sugere Marina Modi, chefe de equipes na DefyHateNow.

"Durante essas pausas, verificadores de fatos podem agendar atividades frequentes de meditação ou yoga para aliviar o estresse gerado pelo conteúdo", diz Modi.

Se um incidente especificamente te afeta de forma direta, por exemplo, quando envolve sua família, comunidade ou crenças, pode ser melhor deixar um colega assumir a tarefa.

"Se um assunto em particular te causa estresse demais ou tensão mental, talvez você precise recuar e deixar outras pessoas cuidarem daquilo", diz Kwaku Asante, chefe de equipe no FactCheck Ghana. "Se for algo sensível demais, talvez seja melhor abrir mão por completo, porque precisamos de você vivo, saudável e forte para trabalhar na próxima pauta."

O que veículos podem fazer

(1) Estimule a equipe a relaxar

As redações devem estimular suas equipes a fazer pausas no trabalho quando necessário, mesmo em meio à pressão de cumprir prazos apertados, diz Opeyemi Kehinde, editor-chefe do FactCheckHub. Também podem organizar eventos para ajudar a equipe a relaxar e ter espaços físicos na redação voltados para tal.

"Organizações de verificação de fatos devem ter espaços verdes ou áreas recreativas onde a equipe possa relaxar brevemente durante o expediente e evitar o sedentarismo, já que essa condição pode impactar negativamente a saúde", diz.

(2) Facilite o apoio profissional quando necessário

Kwaku observa que se verificadores de fatos precisarem de apoio psicológico ou de outro profissional, as redações devem facilitar o acesso a esses serviços.

"O nosso trabalho causa muita angústia; às vezes por causa de detalhes, às vezes por causa do relacionamento com as fontes", acrescenta. "Normalmente, se algum colega chega e fala sobre os problemas que está passando, ou se eu noto alguma mudança, primeiro tentamos conversar sobre o que exatamente é o problema."


Foto por whoislimos via Unsplash.