O ano de 2025 começou com a implementação de políticas de imigração repressivas. Em muitos casos, elas têm o respaldo de setores da opinião pública. A situação se soma aos vários casos de violação de direitos humanos gerados por crises políticas, de criminalidade e bélicas em escala global. Como o jornalismo deve responder a isso?
No dia 20 de abril, o assunto foi discutido no último webinar do Fórum Pamela Howard de Reportagem de Crise do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ). O evento teve a participação de Edwin Segura, jornalista com mais de 30 anos de experiência e professor universitário, que falou sobre como melhorar a cobertura sobre migração e direitos humanos.
O paradoxo da cobertura de direitos humanos
De acordo com Segura, o jornalismo carrega um paradoxo em sua essência: como chegar a uma audiência maior sem perder o rigor? O paradoxo é especificamente difícil na cobertura de migração e direitos humanos devido aos riscos que o sensacionalismo representa tanto para a cobertura como para os protagonistas das pautas.
O jornalismo pode usar uma fórmula que funciona: contar histórias. A migração pode se valer de narrativas fundamentais como a odisseia: o migrante resiliente contra todos os obstáculos. Para isso, é preciso dar um "rosto, nome e voz" a nossas coberturas. Por exemplo, com vídeos de formato curto que mostrem o próprio migrante falando.
Matérias assim funcionam, mas é preciso ter cuidado. Por exemplo, não se deve esquecer de incluir dados estatísticos que deem contexto aos relatos. Como ver o todo e evitar ficar somente na parte? "O dado e o número chato ajudam nesse ponto", disse Segura. É por isso que devemos ser bons em narrar histórias, mas também em sermos diretos.
"Vou contar uma história, incluir este rosto e usar este esquema narrativo, mas devemos nos perguntar de forma insistente: 'estou estereotipando o migrante? Estou criminalizando-o ou tirando de contexto? Estou dando a dimensão justa da história?'", aconselhou.
Educar-se para fazer uma cobertura melhor
Outra fórmula que ajuda a chegar a uma audiência maior é contar histórias usando uma linguagem simples, sem tecnicismo. Porém, alerta Segura, também não podemos cometer deslizes. "A linguagem não é neutra", enfatizou. Por exemplo, um migrante não é o mesmo que um refugiado, assim como também não é a mesma coisa falar de "onda migratória" e "invasão".
Por isso é importante que, como jornalistas, primeiro, entendamos a linguagem técnica para então sermos capazes de traduzi-la para uma linguagem simples com responsabilidade. A análise de manuais de cobertura e a busca por fontes especialistas em organizações não governamentais, universidades ou igrejas podem ajudar neste trabalho.
A necessidade de primeiro aprender também surge quando falamos de dados. Antes de pretender sermos produtores de dados, explica Segura, temos que desejar sermos bons consumidores de dados. Este trabalho implica não só identificar e consultar portais de dados estatísticos sobre migração como também saber lê-los e interpretá-los.
Jornalismo ativista?
É válido, no papel de jornalista, clamar por uma ação sobre os direitos das pessoas migrantes? Essa foi uma das perguntas feitas por um participante do fórum. Segura deu uma resposta ponderada. Por um lado, sugeriu "certo cuidado" com o que decidimos endossar com nossa própria voz, "por mais bondosa que pareça a causa".
A voz do jornalista aspira a certa imparcialidade e neutralidade, mesmo em temas de direitos humanos. É preciso evitar, disse Segura, cair na tentação do influenciador, que informa a partir da parcialidade.
Por outro lado, o jornalismo deve ter voz própria. "Como jornalistas, não defendemos nenhuma causa nem fazemos ativismo político, salvo quando o que está em discussão são os elementos fundamentais para o jornalismo", explicou. Para ele, o respeito aos direitos humanos, à democracia e à transparência se enquadram nesse exemplo.
"Quando me acusam de ser ativista pela liberdade de expressão, não tenho outra opção a não ser aceitar porque, sem este fundamento, o jornalismo que pretendo fazer não existiria", afirma. Não se trata de ser favorável a uma agenda política, mas sim de nos perguntarmos por que somos jornalistas e qual é o jornalismo que queremos fazer.
O que mais acrescentar à cobertura?
A fala de Segura terminou com uma ênfase dupla. Primeiro, na importância da verificação de fatos para a cobertura de migração e direitos humanos. "Os políticos inventam um relato e querem que este se repita tal qual", explica. O bom jornalismo existe para submetê-los ao escrutínio.
O exercício de verificação de dados também ajuda a combater as ideias estigmatizantes. Os migrantes são realmente responsáveis pelo aumento da criminalidade? Esta é uma das perguntas que se pode abordar a partir da verificação de fatos, sugeriu Segura.
Segundo, ele recomendou exercer uma "resistência inteligente" diante das exigências das métricas, da quantidade de comentários ou número de visualizações. É certo que o jornalista busca dar às matérias uma forma que atraia o público. Mas não podemos sacrificar certos princípios por causa disso, sobretudo quando a migração e os direitos humanos são o foco da nossa cobertura.
Você pode ver o webinar completo abaixo:
Imagem por Selvin Esteban via Pexels.