Conheça os vencedores do concurso de reportagem sobre COVID-19 do ICFJ

por Kiratiana Freelon
Mar 22, 2021 em Reportagem sobre COVID-19
Mapa do mundo indicando a prevalência da COVID-19 no mundo

A COVID-19 apresentou um desafio único para repórteres em todo o mundo. Como cobrir a maior história de suas vidas quando muitas vezes não conseguem fazer reportagens de rua?

Felizmente, os jornalistas do concurso de reportagem sobre COVID-19 do ICFJ superaram esse desafio. O ICFJ recebeu 672 inscrições em cinco idiomas.

A diretora de engajamento de comunidade do ICFJ, Stella Roque, conduziu uma discussão com os três vencedores do idioma inglês, nas categorias de: 1) Ciência e saúde; 2) Transparência, crime e corrupção; e 3) Desigualdade, negócios e economia.

 

 

Aqui está um panorama dos vencedores e seus projetos de reportagem.

(1) Ciência e saúde

Vencedores: Priscila Pacheco e Alexandre de Maio, junto com uma equipe transfronteiriça com base no Brasil, Polônia e Espanha

Matéria: Favelas vs. COVID-19, publicado no Outriders

Os jornalistas brasileiros Alexandre de Maio e Priscila Pacheco mostraram como favelas e comunidades periféricas lidaram com a pandemia de COVID-19 na ausência de assistência do governo brasileiro. A dupla produziu um gibi digital que destacou três iniciativas diferentes. Eles fizeram o projeto para o site polonês Outriders, que tem tradição na produção de histórias multimídia multilíngues e projetos inovadores.

Experiência em jornalismo

Nos primeiros dez anos de carreira, Alexandre de Maio se dedicou a editar e escrever para revistas urbanas de hip hop em São Paulo. Em seguida, ajudou a lançar o Catraca Livre, um site popular de eventos e cultura no Brasil. Agora ele se concentra na criação de histórias em quadrinhos para diversos veículos de notícias no Brasil como freelancer.

Depois de se formar na faculdade em 2014, Priscila Pacheco começou sua carreira jornalística no Mural, uma agência de notícias de favela. Agora ela trabalha na Aos Fatos, uma agência de checagem de fatos.

Sobre o tipo de jornalismo

“O fio condutor dessa reportagem é o jornalismo de soluções”, disse Pacheco. “Quais são as soluções que os moradores tomaram na ausência do estado? O que as pessoas nesses bairros fizeram para lidar com a saúde, ajudar as pessoas a entender o uso de máscaras e explicar a importância do distanciamento social?"

Sobre a equipe de reportagem

Pacheco acrescentou: “Tudo estava bem organizado. Quando trabalhamos com uma equipe multimídia com pessoas de diferentes países e diferentes habilidades é muito importante que tudo seja muito organizado.”

Sobre o formato da matéria

“Queríamos fazer o projeto no estilo do jornalismo em quadrinhos, e depois queríamos enriquecer o material com fotos e áudio”, disse de Maio.

Sobre as lições aprendidas

“Mesmo com o quadrinho como pretexto, a reportagem de campo foi muito importante porque pudemos mostrar o que estava acontecendo”, disse de Maio. “Fica o aprendizado pessoal e humano que pessoas que não tinham o que comer dentro de casa, mas ainda estava ajudando outras pessoas.”

[Leia mais: Como uma investigação expôs preços inflados de equipamentos de proteção em El Salvador]

(2) Transparência, crime e corrupção

Vencedora: Clair MacDougall (Burkina Fasso)

Matéria: In Mali, the First Death of a UN Peacekeeper from COVID-19 Keeps His Family Guessing, publicada na PassBlue

Clair MacDougall faz reportagens internacionais há dez anos. Inspirada por um professor de jornalismo que iniciou sua carreira na África Ocidental, ela decidiu se mudar para a região. Desde então, ela viveu em Gana, reportou da Libéria sobre a crise do ebola e agora ela está baseada em Burkina Fasso.

A matéria

MacDougall investigou como a ONU lidou com a morte, em Mali, de um salvadorenho que foi o primeiro soldado da paz da ONU a morrer de COVID-19. Quando a família do pacificador a alertou sobre a falta de transparência em torno da morte, MacDougall começou a investigar.

Sobre a reportagem à distância

"Para mim [reportar à distância] foi um verdadeiro desafio, fazer uma investigação inteiramente a partir de casa. Gosto de ir para o terreno, gosto de encontrar pessoas cara a cara, mas com as circunstâncias e o fato de a missão de manutenção da paz ser no Mali e os problemas com a COVID, foi difícil ", disse MacDougall.

Sobre reportagens investigativas

 “Comecei a fazer pedidos de informação ao Departamento de Operações de Paz em Nova York sobre o número de mortes, o número de infecções e assim por diante. Foi frustante porque essa informação não é realmente pública”, disse MacDougall. “Comecei a entrar em contato com os familiares e amigos [do funcionário da ONU] Carlos pelo Facebook. Havia toda uma rede de ex-pilotos que trabalharam em missões de paz da ONU, então comecei a contatá-los."

Sobre a pandemia

 "A pandemia obviamente ainda está entre nós e vai continuar por algum tempo. Acho que é muito importante verificar com as pessoas e realmente ouvi-las e conhecer as lutas que estão enfrentando", disse MacDougall.

[Leia mais: COVID-19 na Europa: investigação revelou irregularidades nos gastos

(3) Desigualdade, negócios e economia

Quem: Amir Khafagy (Estados Unidos)

Matéria: Black Lives Matter on the Picket Line, publicada no Discourse Blog 

Experiência em jornalismo

O jornalismo sempre intrigou Amir Khafagy, mas ele sentiu que a profissão estava economicamente fora de seu alcance. Ele passou dez anos trabalhando em sindicatos e organizações sem fins lucrativos. Quando fez um mestrado em estudos urbanos, transformou com sucesso vários de seus trabalhos de conclusão de curso em artigos publicados como no Jacobin e In These Times. Isso lhe deu coragem para se dedicar integralmente ao jornalismo. Hoje, ele cobre justiça social e movimentos trabalhistas.

A matéria

A coleta de lixo é um trabalho perigoso, mas muitas vezes é bem pago nas cidades dos Estados Unidos, permitindo que os trabalhadores se aposentem com conforto. Este não é o caso em Nova Orleans, onde a coleta de lixo foi privatizada. Lá os catadores de lixo mal ganham um salário mínimo e, quando a pandemia da COVID-19 surgiu, eles se viram em uma situação ainda mais precária, sem nem mesmo os equipamentos de proteção adequados. Isso os levou a entrar em greve e formar um sindicato em meio aos protestos do Black Lives Matter. Durante a greve, uma empresa chegou a recorrer ao uso de mão de obra prisional.

Sobre reportagem à distância

"Gosto de ver [e] respirar o ar que as pessoas que estou cobrindo estão respirando. Gosto de estar lá e ver o que estão vendo, e estar no chão e sentir essa energia. E não pude fazer isso”, disse Khafagy.

Ele acrescentou: “Essa foi uma história que eu achei muito importante. Fiz tudo o que pude para me levar lá, embora eu não pudesse estar lá. Fiz uma pesquisa imensa, dei alguns telefonemas para muitos trabalhadores e estudei a história de Nova Orleans de maneira muito complexa."

O maior desafio

Gosto de que as pessoas com quem estou trabalhando na história venham e participem da matéria comigo, disse Khafagy. “Felizmente, construí um ótimo relacionamento de longa distância com os trabalhadores.”


Kiratiana Freelon é uma Youtuber, jornalista multimídia, escritora e empreendedora com base no Rio de Janeiro.

Imagem sob licença CC no Unsplash via Martin Sanchez