"Quando as pessoas pensem em Porto Rico, elas só pensam num desastre natural, num furacão, num terremoto, como tem acontecido com a gente nos últimos anos", diz María Arce, treinadora editorial do Global Press Journal.
Para ajudar a mudar isso, a publicação criou um novo projeto sobre a ilha para fazer matérias a partir do coração das comunidades e desafiar narrativas tradicionais nas esferas local e internacional.
Desde setembro de 2023, três novas repórteres do Global Press Journal vêm buscando mostrar "o outro lado da moeda", contando histórias que demonstram a complexidade da arte, cultura, educação e sociedade porto-riquenha.
"A imprensa em Porto Rico lida demais com problemas políticos partidários, a situação política, crime e fenômenos atmosféricos que nos afetam", disse à LatAm Journalism Review a repórter do Global Press Journal Yasmín Porrata Morán. "E embora seja verdade que aquilo que acontece deve ser coberto porque é o dever da imprensa, há muito mais que isso."
O Global Press Journal produz notícias e reportagens e trabalha com jornalistas mulheres locais no mundo todo, em lugares que normalmente não têm cobertura no noticiário.
O projeto do Global Press em Porto Rico é composto por uma equipe de repórteres profundamente conectadas com suas comunidades locais e que moram fora da capital do país, San Juan. Porrata Morán, Gabriela Meléndez Rivera e Yerimar Rivera Rivera trabalham direto de suas comunidades em Utuado, Vega Baja e Yabucoa, respectivamente.
Essa equipe de repórteres foi o resultado de um processo seletivo intenso liderado por Arce e o Global Press Institute, o braço do Global Press responsável por capacitar jornalistas. O novo grupo de profissionais se junta à jornalista Coraly Cruz Mejías, repórter sênior da Global Press que cobre Porto Rico desde 2019 e é especializada em meio ambiente.
Arce, que trabalha com as repórteres em Porto Rico, diz que é muito valioso para o jornalismo expandir a cobertura nessas regiões porto-riquenhas.
"O que não queremos é que, quando as pessoas pensem em Porto Rico, elas pensem só em desastres naturais como furacões e terremotos, como aconteceu nos últimos anos", diz Arce. "Queremos que as pessoas conheçam a realidade de Porto Rico, que é muito mais ampla e mais complexa, de um ponto de vista positivo."
Poratta Morán esclarece que, ao mudar a narrativa tradicional, elas não buscam esconder ou mascarar as realidades de Porto Rico, mas sim representar todas as histórias que passam despercebidas.
"Não estamos escondendo a verdade, porque há problemas em Porto Rico como em todos os países no mundo, mas por que temos que focar só nisso?", diz Poratta Morán.
As novas matérias falam sobre a comunidade LGBTQ+ e o fenômeno do "vogueing", comunidades isoladas que se desenvolvem de forma independente de acordo com suas necessidades e dançarinas que confrontam o machismo, dentre outros temas.
Além disso, Arce e Poratta Morán apontam dois aspectos do jornalismo e da reportagem do Global Press que elas dizem garantir que as matérias produzidas tratem do coração das comunidades.
Primeiro, as jornalistas da Global Press em Porto Rico estabeleceram relações com fontes locais e estão bem cientes das necessidades, conquistas e aspirações de suas comunidades, de acordo com elas. Isso permite que as profissionais contem histórias a partir da perspectiva das pessoas que vivem por lá, dando um foco único ao seu trabalho.
As repórteres têm total liberdade para escolher quais pautas vão fazer com base no que consideram importante em suas comunidades, diz Arce.
Por fim, as jornalistas da Global Press estão constantemente se capacitando e se desenvolvendo profissionalmente. Arce, juntamente com a equipe do Global Press Institute, e na condição de chefe de treinamento na América Latina, foi responsável por treinar as três novas repórteres em Porto Rico.
O maior objetivo desse projeto, de acordo com Porrata Morán, é criar um jornalismo verdadeiramente inclusivo, no qual as pessoas em pequenas comunidades possam se ver representadas, e demonstrar que o jornalismo não deve focar em questões negativas.
"Nós queremos mostrar que a narrativa pode ser diferente, que as histórias podem ser diferentes, que os protagonistas da história podem ser outros", diz.
Este texto foi publicado originalmente pela LatAm Journalism Review e republicado na IJNet com permissão.
Foto por J. Amill Santiago via Unsplash.