Há alguns anos atrás, trabalhei em uma equipe que projetava um mestrado em jornalismo digital. A universidade exigia que propuséssemos três áreas de pesquisa para os professores neste programa.
Uma área que sugerimos foi novos modelos de negócios para o jornalismo. A outra foi o uso das redes sociais na distribuição de notícias. Esqueci a terceira. Todas as três foram rejeitadas pela autoridade acadêmica da universidade, porque não estavam na lista de áreas homologadas de pesquisa, e parecia que não podíamos lançar o programa.
No entanto, apelamos para o vice-chanceler, que convenceu as autoridades acadêmicas que um programa universitário inovador pode (e deve) incluir as áreas de investigação não aprovadas na lista.
Fora do currículo
O programa -- Research and Enterprise for Arts and Creative Technologies -- lançou 56 protótipos de negócios que geraram £1.900.000 de investimento inicial e atraiu £350.000 de investimento de continuação. A propriedade intelectual desenvolvida vai para o negócio.
"As universidades não são tão boas em comercializar a economia criativa", disse Jonathan Dovey, professor da Universidade do Oeste da Inglaterra. Você tem que ser um pouco dissimulado para inovar em uma instituição de 1.000 anos de idade, como uma universidade. O sistema recompensa a autoridade acadêmica construída em sistemas de publicação revisada por pares. Você pode não ser capaz de mudar o currículo rapidamente o suficiente para levar em conta todas as perturbações digitais que estão acontecendo.
O tema da rigidez dos currículos universitários surgiu repetidamente em Bristol durante uma reunião de professores e estudantes que participam de um programa de jornalismo empreendedor na Inglaterra, Espanha, Portugal e Finlândia.
O programa CreBiz, patrocinado pela Comissão Europeia, tem como objetivo ajudar alunos em áreas criativas a encontrar modelos para a formação de seus próprios negócios.
Todos os exemplos de cursos de empreendedorismo de jornalismo que ouvimos aconteceram fora da estrutura do curso padrão. Um colega mencionou a necessidade de incorporar o tema em cursos já existentes, em vez de tentar que um curso inteiro seja aprovado pelas autoridades universitárias.
Dovey contou ao grupo sobre sua experiência de criar parcerias de universidades com as empresas nas indústrias criativas para ajudá-las a resolver um problema. É difícil alinhar os cronogramas das universidades (anos) com os das empresas (meses), Dovey disse, mas em três anos houve sucessos.
Situação nos EUA
Enquanto isso acontece, o tema da inovação nas escolas de jornalismo está em voga nos Estados Unidos.
A PBS Education Shift, uma fonte excelente de inovação digital, [recentemente] publicou um artigo de Michelle Ferrier, reitora adjunta de inovação na Universidade de Ohio, sobre como usar uma hackatona para melhorar métodos de educação empreendedora.
A Education Shift também incluiu um post de Sarah Bartlett, reitora da faculdade de graduação em jornalismo da Universidade da Cidade de Nova York, que apontou como é difícil manter o currículo atualizado e, ao mesmo tempo, satisfazer as autoridades que credenciam os programas.
Suas reflexões fizeram parte de um relatório da Fundação Knight que incluiu três recomendações:
- Estabelecer uma startup acadêmica que dê prioridade ao digital, o equivalente educacional das ProPublicas, FiveThirtyEights e Vox Medias do mercado de notícias e informação.
- Aproveitar a experiência disciplinar do corpo docente em tempo integral, enquanto se cria novas estruturas de prestação de aprendizagem com base em competências.
- Criar um processo de credenciamento específico da missão para programas que definem como sua missão principal a preparação de jornalistas do século 21.
Em outras palavras, as universidades precisam trazer alguns profissionais da indústria que não têm Ph.Ds. para complementar seu corpo docente existente. E os sistemas de acreditação precisam reconhecer que os programas de jornalismo têm que ser mais orientados para o futuro e menos tradicionais. Eles precisam enfatizar a mentalidade que dá prioridade ao digital.
Parece lógico e simples. Mas as universidades têm estruturas pesadas que tornam mais difícil para elas competir com as milhares de ágeis organizações para fins lucrativos e sem fins lucrativos que estão oferecendo treinamento em jornalismo.
Por exemplo, muitos profissionais que querem se manter atualizados com as novas tecnologias optam por cursos gratuitos ou de baixo custo oferecidos em horários e locais convenientes, o que muitas vezes significa online. No momento, eu sou um dos instrutores em um curso online desse tipo através da Universidade do Texas. O curso é conduzido em espanhol e cerca de 200 já se inscreveram da Espanha, Estados Unidos, América Latina e em outros países. O curso custa US$95 e dura cinco semanas, consideravelmente menos que um curso universitário padrão.
As universidades estão sendo mexidas pelo digital assim como as indústrias da música, cinema, jornais, livros e televisão. É muito difícil para uma indústria tradicional responder a estes desafios digitais. Mas devem responder.
Este post apareceu originalmente no blog News Entrepreneurs de James Breiner e é publicado e traduzido para a IJNet com permissão.
Imagem principal sob licença CC no Flickr via Eric Mueller