Como uma parceria entre um técnico e um jornalista melhorou mapas jornalísticos

por Jessica Weiss
Oct 30, 2018 em Jornalismo básico

No cenário jornalístico atual, jornalistas e programadores são cada vez mais requisitados, somando suas técnicas e competências.

A InfoAmazonia, com quase um ano de formação, é produto de tal parceria e comprova o poder dessa colaboração. Financiada pela Internews, uma ONG de desenvolvimento de mídia, e liderada pelo bolsista Gustavo Faleiros do Knight International Journalism Fellowship, a InfoAmazonia apresenta notícias ambientais e mapas de dados abertos em português, espanhol e inglês da região amazônica que encompassa nove países. Os mapas da InfoAmazonia são ricos em informação e cobrem questões que variam do desmatamento às indústrias extrativas.

A empresa MapBox, com sede em Washington, construiu as ferramentas para o site da InfoAmazonia. Durante o desenvolvimento da InfoAmazonia, o MapBox forneceu desde estratégia de site, design e cartografia, ao treinamento de jornalistas no Brasil sobre como utilizar as ferramentas do site.

A base da InfoAmazonia era uma montanha de informação --mais de uma dezena de conjuntos-- da Amazônia. O objetivo do site é criar uma representação visual atrativa dos dados, mantendo o foco nas histórias que dão contexto aos dados. Para conseguir isso, Faleiros trabalhou com o desenvolvedor sênior do MapBox, Alex Barth.

A proposta de design de Barth trouxe as manchetes das matérias para a frente, algo que a maioria dos mapas digitais não oferece. Os parceiros criaram um design agradável para o usuário, com os artigos de notícias sobre um mapa perto do alto da página.

Para visualizar as coleções de dados, eles recorreram a "camadas" extensas e ricas em dados. Cada camada é uma visualização de um único arquivo de dados ou consulta de banco de dados. Camadas múltiplas podem ser combinadas em cima da outra para criar um mapa final rico de dados.

TileMill é um projeto de código aberto do MapBox para mapas personalizados complexos de conjuntos de dados. Permite uma mais avançados importação de dados, estilo e design do que a você encontra em mapas mais básicos online.

A InfoAmazonia deu ao MapBox uma oportunidade de testar e melhorar os recurros de ponta do TileMil, como a tecnologia de rede UTF-8, que permite aos usuários interagirem rapidamente com mais de meio milhão de pontos de dados que representam o desmatamento em toda a Bacia Amazônica.

Outros mapas dependem da funcionalidade de composição de imagem do TileMill, que permite aos desenvolvedores controlarem a maneira como as cores e texturas de elementos e estilos diferentes interagem entre si.

"Inicialmente, realmente tentamos incluir tantos dados quanto possível num mapa, sem testar soluções de design", disse Faleiros. "Assim, o fato de que o MapBox força você a pensar sobre tantos detalhes para fazer seus mapas também reforça esse mapa como uma ferramenta de comunicação."

O mapa de primeira página exibe dados sobre incêndios florestais, mineração, petróleo e gás, desmatamento e muito mais. Porque o mapa de incêndios tem tantos pontos de dados, Faleiros disse que parecia inicialmente que a região toda estava em chamas. Depois de perceber que o design não contava a história corretamente, o MapBox propôs uma análise do tempo sobre os dados.

Não só ficou melhor, o design "tem provado ser muito eficaz na descoberta de padrões de regiões no Brasil e Bolívia, que tiveram mais incêndios florestais ao longo dos anos", disse Faleiros.

Para o MapBox, ajudar a construir a InfoAmazonia deu uma nova visão sobre as necessidades dos usuários, especialmente aqueles os novatos em mapeamento. Um componente chave do lançamento da InfoAmazonia foi um extenso programa de treinamento.

"A InfoAmazonia foi um grande lembrete de quão complicada a informação geográfica pode ser", disse Barth. "Armadilhas como lidar com projeções geográficas foram importantes de abordar desde cedo, ao treinar equipes não familiarizadas com a gestão de informação geográfica."

Segundo Faleiros, o resultado desse tipo de parceria é uma comunicação mais poderosa sobre o que está acontecendo na floresta amazônica para o mundo.

"De jeito nenhum que um produto como a InfoAmazonia teria sido inteiramente feito por jornalistas", disse Faleiros. "Então, trazer programadores, analistas de dados e outros para o projeto o tornou muito melhor. O impacto e a utilidade dos produtos jornalísticos melhora quando são feitos junto com os desenvolvedores."

Imagem: Mapa de incêndios na InfoAmazonia, cortesia de InfoAmazonia