Como os jornalistas encontram suas ideias de pautas?

May 12, 2020 em Freelance
Pessoa olhando para o alto

Para descobrir sua próxima grande ideia, os jornalistas vivem, aprendem, debatem e, principalmente, praticam. Embora encontrar novas histórias possa vir naturalmente para alguns, existem táticas fáceis de aplicar para superar qualquer tipo de bloqueio de escritor.

Um jornalismo original não significa apresentar novas ideias o tempo todo. Encontrar histórias geralmente requer um esforço ativo para descobrir o não contado e o não visto. Acompanhar  datas e eventos importantes, receber press releases ou simplesmente ler o jornal pode ser útil quando se trata de encontrar notícias ou informações. Para quem está sofrendo para apresentar sua próxima pauta, pedimos conselhos a alguns jornalistas experientes.

De jornalistas de viagens a repórteres investigativos, aqui estão algumas dicas e estratégias para ajudá-lo a ter novas ideias.

Escute as pessoas

“Eu diria que todo mundo que você conhece tem uma história e você precisa descobrir o que é”, diz Gaby Koppel, jornalista freelance e produtora de TV com sede em Londres. Isso não significa que você precise escrever ou reportar sobre ele/ela especificamente, mas você pode se inspirar a se aprofundar em um tópico por causa de algo que eles disseram, experimentaram ou informaram.

"Eu tenho uma amiga que é assistente social especializada em adoção", acrescenta Coppe. “Viajamos num fim de semana e conversamos no carro por muito tempo. Logo depois, consegui uma comissão para escrever um artigo sobre pessoas com mais de 50 anos adotando crianças, inspiradas em algo que ela me disse.”

Converse com as pessoas sobre suas vidas e ouça-as com atenção para não perder sua próxima grande pauta.

[Leia mais: Erros comuns de jornalistas ao enviar sugestões de pauta]

Busque por perguntas

Mesmo que você não encontre histórias baseadas no que as pessoas falam pessoalmente, a internet facilita a compreensão do que elas estão pensando. "Eu recebo muitas ideéias do Reddit", diz a jornalista freelance Suzannah Weiss, de Los Angeles, referindo-se ao popular site americano em que os usuários podem enviar conteúdo e discutir tópicos diferentes. "Percorro os subreddits relacionados aos tópicos que estou escrevendo para ver quais perguntas as pessoas querem responder e o que é interessante para elas", explica Weiss. Foi através do uso dedicado do Reddit que ela escreveu um artigo sobre o mito dos múltiplos orgasmos, por exemplo.

Mas grande parte do trabalho de Weiss nasce por sua própria curiosidade: "Muitos dos meus artigos são apenas eu fazendo perguntas a especialistas que pessoalmente quero que sejam respondidas e compartilhando o que descobri com o resto da internet", ela admite. Como quando ela escreveu sobre as razões pelas quais ela prefere relacionamentos à distância para a VICE.

Cultive seu nicho

Lorenzo Bagnoli é jornalista do Investigative Reporting Project Italy, um centro de jornalismo investigativo na Itália que lançou recentemente uma publicação online. Grande parte de seu trabalho transnacional é resultado de dicas da rede global de colegas que ele desenvolveu ao longo dos anos, diz ele, enquanto algumas pautas foram motivadas por investigações existentes.

"Digamos que exista uma investigação em outro país, por exemplo, envolvendo nomes e empresas que eu acho interessantes ou que eu conheço", diz ele. "Eu faço algumas pesquisas em um site de código aberto como o The Open Corporate e vejo se surge algum potencial".

Bagnoli também usa registros comerciais e arquivos pessoais, incluindo recortes de imprensa ou documentos de operações policiais, para fazer referência cruzada a suas descobertas. Ele acrescenta: "É muito importante ter colegas para conversar, para ajudar-se mutuamente a verificar informações."

[Leia mais: 12 dicas para escrever editoriais]

Defina alertas

Os Alertas do Google e as ferramentas de monitoramento de mídia social são uma maneira fácil de ajudar você a se manter atualizado. No entanto, recursos mais específicos também estão disponíveis. Em seu trabalho de investigação, Bagnoli diz que ele e sua equipe costumam usar bancos de dados de rastreamento de navios, criando notificações sobre navios e locais específicos.

“Houve uma investigação da ONG francesa Disclose sobre um navio de carga que estava no porto de Le Havre, na França, que eles pensavam ter carregado armas destinadas à Arábia Saudita”, diz ele. Um de seus colegas, especializado em pesquisa online e imagens de satélite, confirmou que a presença do navio também havia sido registrada por outros. "Pesquisei documentos e reconstruí seus movimentos, incluindo paradas nos portos italianos de Gênova, Livorno (Toscana) e Cagliari (Sardenha) na Itália."

Com isso, ele escreveu uma matéria para o Il Fatto Quotidiano, um dos maiores jornais do país.

Acompanhe consultas oficiais

Lindy Alexander é escritora freelance de viagens e saúde, com base na Austrália, e fundadora do The Freelancer's Year, um blog popular sobre como ganhar a vida escrevendo freelance. Ela adora tentar maneiras incomuns de encontrar histórias.

"Uma que eu usei bastante é olhar para as investigações atuais do Senado", diz ela. Por exemplo, esta lista de perguntas parlamentares na Austrália. “Muitas vezes, você encontra tópicos sobre os quais nunca ouviu falar, além de propostas e possíveis especialistas e/ou estudos de caso”, explica ela.

Foi através desse banco de dados que ela descobriu uma investigação sobre os impactos da malha transvaginal, que são usadas ​​para prolapso de órgãos pélvicos e acredita-se que tenham causado dor crônica e sangramento persistente em até 100.000 mulheres australianas -- e milhares mais no mundo todo. “Contei uma história para o The Saturday Paper e fui contratada para um artigo”, diz ela. "Esta é a matéria resultante e da qual tenho muito orgulho."


Imagem sob licença CC no Unsplash via Guilherme Stecanella.